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Por que israelenses e palestinos vivem em conflito?

Criação de Israel, em 1948, expulsou 750 mil árabes de suas terras. Hoje, são 5,9 milhões de refugiados palestinos. Entenda o contexto histórico do conflito

Por Paulo Zocchi
Atualizado em 15 out 2023, 14h02 - Publicado em 11 out 2023, 14h53

O noticiário mundial foi tomado, no sábado (7 de outubro), pelas chocantes notícias e imagens de mortes e destruição causadas pelo ataque contra Israel deflagrado pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas, a partir do território palestino da Faixa de Gaza. Nas primeiras horas, centenas de pessoas morreram, sobretudo civis. A ação do Hamas incluiu ataques terrestres perto da fronteira, e o sequestro de israelenses levados como reféns.

O poderoso Exército de Israel respondeu, nos dias seguintes, com um bloqueio total da Faixa de Gaza e um bombardeio intenso sobre o território, com cortes de água e eletricidade de toda a população local. Na terça-feira (10 de outubro), o número de mortos já passava de 1.800.

Uma das questões mais complexas do mundo contemporâneo, o conflito entre israelenses e palestinos têm raízes históricas. Neste texto, apresentamos resumidamente os principais momentos dessa história secular.

Questão de séculos

O povo judeu tem sua origem em populações que habitavam a região da Palestina há cerca de 4 mil anos. As tribos judaicas unificam-se há cerca de 3 mil anos e seu território chega ao apogeu sob o rei Salomão, entre 966 a.C. e 926 a.C. Após várias invasões e conflitos, tropas romanas destroem Jerusalém e expulsam da região, em 70 d.C., o grosso da população judaica, que se espalha pela Europa e Ásia. No ano 636, os árabes ocupam a Palestina e a maioria dos habitantes é convertida ao islamismo. A região é incorporada ao Império Turco-Otomano, de 1517 a 1917 (o império é dissolvido a partir da derrota na Primeira Guerra Mundial, em 1918).

O atual Estado de Israel tem sua origem no sionismo (de Sion, colina da antiga Jerusalém), movimento surgido na Europa no século 19. Seu ideólogo, Theodor Herzl, organiza, em 1897, na Suíça, o primeiro congresso sionista, pela formação de um Estado judaico moderno, sem apontar inicialmente o local no qual poderia ser instalado. Colonos judeus da Europa Central e Oriental, onde era mais intensa a perseguição contra os judeus (chamada de antissemitismo), começam a migrar para a Palestina, território de população árabe.

+ Israel e Palestina: entenda a origem do conflito

Com a queda do Império Turco-Otomano, a Palestina é ocupada pelo Reino Unido, que passa a administrar a região. Em 1917, a Grã-Bretanha, por meio do chanceler Arthur Balfour, declara apoio a um “lar nacional” para os judeus na Palestina, sob a condição de ver respeitados os direitos das comunidades não judaicas. O governo britânico promete aos árabes um Estado independente, jamais criado. A perseguição aos judeus pelo regime nazista de Adolf Hitler, a partir de 1933, intensifica a migração para a Palestina.

O apoio internacional à criação de um Estado judaico aumenta, depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), ao ser revelado o massacre de cerca de 6 milhões de judeus nos campos de extermínio nazistas, o Holocausto. A Organização das Nações Unidas (ONU) aprova, em 1947, uma resolução a favor da divisão da Palestina em dois Estados de área semelhante – um para os judeus, outro para os árabes –, com Jerusalém como “cidade internacional”. Os países árabes opõem-se à decisão. Mesmo sem o poder de decidir a questão, a resolução da ONU tem o peso de indicar um reconhecimento internacional amplo à partilha da Palestina.

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+ Por que Hitler odiava os judeus?

A criação de Israel e a resistência palestina

Em 14 de maio de 1948, é proclamado o Estado de Israel, com a expulsão em massa de palestinos que viviam em vilas e comunidades rurais. Cinco países árabes enviam tropas para impedir a criação do novo Estado. A guerra termina em janeiro de 1949, com a vitória de Israel. Cerca de 750 mil palestinos são expulsos do território e tornam-se refugiados na Cisjordânia, na Faixa de Gaza ou em países árabes próximos. Hoje, é uma população estimada pela ONU em 5,9 milhões de refugiados, que ainda reivindicam o retorno a seus locais de origem no território de Israel.

+ Criação do Estado de Israel completa 70 anos

Desde então, instala-se um conflito que já dura décadas. Imediatamente à fundação de Israel, o Egito incorpora a Faixa de Gaza a seu território, bem como a Jordânia integra Jerusalém Oriental e Cisjordânia. Os palestinos ficam sem território. O Estado árabe-palestino, previsto pela ONU, não é proclamado, e os israelenses passam a controlar 75% da Palestina. A economia de Israel floresce com o apoio estrangeiro e remessas particulares de dinheiro. 

A situação criada com a existência de Israel, ao lado de um enorme contingente de refugiados palestinos, provoca uma instabilidade política na região que já dura 75 anos. Houve guerras entre israelenses e os países vizinhos em 1956, 1967 (Guerra dos Seis Dias) e 1973 (Guerra do Yom Kippur). Com amplo fornecimento de armamentos dos Estados Unidos, Israel vence as guerras e consolida seu controle sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza (chamados também de “territórios palestinos ocupados”), além de ocupar as Colinas de Golã (sul da Síria). Nos anos 1970, Israel passa a implantar colônias judaicas na Cisjordânia, nas quais hoje vivem cerca de 500 mil israelenses.

+ O que foi a Guerra dos Seis Dias?

A resistência palestina ao domínio de Israel se organiza com a fundação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1964, mais tarde presidida por Yasser Arafat. Seu objetivo é criar um estado único e laico na Palestina. Em 1970, a OLP passa a atacar Israel de bases no sul do Líbano. Em 1982, Israel invade o território libanês, e o quartel-general da OLP se muda para a Tunísia. Em 1987, eclode a Intifada, a rebelião maciça da população palestina nos territórios ocupados, duramente reprimida pelo Exército israelense.

Acordos de Oslo

Em 1993, o líder palestino Arafat e o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, assinaram o Acordo de Oslo, sob o patrocínio do presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, dando início a inéditas negociações de paz. Pela primeira vez, a direção palestina aceitava o Estado de Israel e a constituição de um Estado palestino em parte da região.

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Pelos termos do acordo, porém, os territórios palestinos não têm soberania efetiva. Na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, a Autoridade Nacional Palestina (ANP), a ser constituída, poderia ter uma polícia – para controlar a ordem interna – e teria competência para arrecadar taxas locais e administrar as estruturas de saúde, educação e turismo. Mas Israel mantém o controle do comércio exterior, das finanças do Estado, do Exército e das relações exteriores.

O processo de paz estanca na virada de 2000, travando em questões difíceis, como a situação de Jerusalém (que tanto judeus quanto palestinos reivindicam como capital) e a questão do retorno dos refugiados a seus locais de origem. O impasse provoca um levante palestino contra a ocupação, em 2000, chamado de “segunda intifada”, e a intensificação dos atentados contra israelenses.

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O então primeiro-ministro Ariel Sharon congela as negociações de paz e consolida o domínio sobre a Cisjordânia: após lançar uma arrasadora ofensiva militar contra cidades palestinas em 2002, ordena o início da construção de um muro de concreto na Cisjordânia, para separar as populações judaica e árabe. O muro segrega os territórios palestinos, limita a circulação de pessoas e mercadorias pela região e permite a Israel cristalizar o controle sobre áreas que deveriam ser entregues aos palestinos pelos Acordos de Oslo.

Tensões palestinas

Ao largo da OLP, surge o grupo islâmico fundamentalista Hamas em 1987. Ele é criado por egressos da Irmandade Muçulmana do Egito, organização com cem anos de existência, matriz do fundamentalismo no Oriente Médio no século 20 – ou seja, da concepção política de chegar ao poder para implantar como lei de Estado os preceitos religiosos. No Irã, que é um Estado teocrático islâmico, todas as instituições estão subordinadas ao Corão – livro sagrado dos muçulmanos. Por exemplo, as mulheres, em público, são obrigadas a usar vestimentas cobrindo o corpo todo e lenços na cabeça. As práticas religiosas são impostas como lei a toda a população.

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O Hamas não se enquadra na Organização para a Libertação da Palestina pois defende que haja um Estado islâmico em toda a Palestina, sem a presença da população judaica, o que levaria, no limite, a uma guerra de extermínio. Mesmo assim, o Hamas concorre às eleições em 2006 para a ANP (presidida por Mahmoud Abbas, do grupo Fatah, desde 2005) e conquista a maioria do Parlamento, pois aparece para a população palestina como a opção mais decidida a defender seus direitos territoriais. O convívio entre os dois agrupamentos é conflituoso, e chega à ruptura, quando o Hamas expulsa os representantes da Fatah da Faixa de Gaza, onde assume o controle, que detém até hoje. Há tentativas de retomar um governo unificado, como em 2017, mas acabaram fracassando, pois Abbas discorda do enfrentamento constante que o Hamas provoca com o Estado israelense.

+ A paz distante entre Israel e Palestina

Assim, nos 30 anos de implantação dos Acordos de Oslo, não cessaram as revoltas e os conflitos entre palestinos e israelenses. Israel passou a construir um muro na Cisjordânia, com 8 metros de altura, que hoje tem mais de 700 km de extensão, retalhando a região e isolando populações palestinas. A Faixa de Gaza é um território cercado, pobre e superpovoado, com a estrutura e a economia arrasadas. A questão mais difícil é que destino dar aos milhões de refugiados, pois Israel rejeita negociar seu retorno, pois considera que a volta desse contingente questiona as próprias bases de existência do país.

Quais seriam então as perspectivas para o futuro? A existência de dois Estados na região parece cada vez mais difícil, pois há um claro retrocesso. Em Israel, há quem defenda que o Estado judeu avance sobre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, ocupando totalmente a Palestina. O Hamas, por seu lado, quer o oposto: um Estado teocrático islâmico em toda a Palestina. Há ainda, entre palestinos e judeus, quem defenda um único estado laico na região, com todos os cidadãos convivendo juntos, como nas democracias ocidentais.

No momento, o prosseguimento de ações de guerra, com mortes generalizadas, sobretudo de civis, torna distante qualquer solução pacífica. Um primeiro passo seria um cessar-fogo imediato e a volta à mesa de negociações. Será que veremos isso nas TVs no próximo período? 

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