Dia Nacional da Liberdade de Imprensa: a situação atual do Brasil
Os ataques à imprensa pelo governo Bolsonaro ameaçam a liberdade de informação, um dos pilares da democracia
No dia 7 de junho de 1977, cerca de três mil jornalistas assinaram um manifesto exigindo o fim da censura e instauração de uma imprensa livre no Brasil. Foi um ato de coragem, já que o país, sob o comando de Ernesto Geisel, ainda andava bem lentamente para o fim da ditadura militar, instaurada em 1964. Um ano e meio antes desse manifesto, em outubro de 1975, o diretor da TV Cultura, Vladimir Herzog, foi torturado até a morte por agentes do governo.
Assim, desde 77, no dia 7 de junho, é celebrado o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. A data ressalta a importância da liberdade de informação para a democracia brasileira. Desde 2002, a organização não governamental internacional Repórteres sem Fronteiras publica o Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa. Ele lista o grau de liberdade dos jornalistas de 180 países, por meio de um questionário preenchido por especialistas da área.
Na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa de 2022, o Brasil ficou na 110º posição – uma posição acima do ano passado, que ficou em 111º. Apesar da pequena melhora, o levantamento mostra que a situação brasileira de liberdade de informação enfrenta grandes desafios. O levantamento mostrou que “a desconfiança em relação à imprensa, alimentada pela retórica antimídia e pela banalização do discurso estigmatizante da classe política” ganhou mais terreno em países como o Brasil
O levantamento dos Repórteres sem Fronteiras de 2021 conseguiu comprovar 11 jornalistas assassinatos – por motivos relacionados com a sua profissão. E 324 jornalistas estavam presos. Em 2020, o número de assassinatos desses profissionais chegou a 49.
Governo Bolsonaro
De acordo com a ONG, na maioria dos casos, “esses repórteres, locutores de rádio, blogueiros e outros profissionais da informação estavam cobrindo histórias relacionadas à corrupção, políticas públicas ou crime organizado em cidades de pequeno e médio porte, nas quais estão mais vulneráveis”. A pesquisa ressalta que “o trabalho da imprensa brasileira tornou-se especialmente complexo desde que Jair Bolsonaro foi eleito presidente, em 2018″.
Outro relatório divulgado pela Repórteres sem Fronteiras mostrou que, nos dois primeiros trimestre de 2020, o governo de Jair Bolsonaro somou 53 casos de ataques contra jornalistas. Em documento sobre os direitos humanos em 2020, o Departamento de Estado americano, mencionou, inclusive, esse número de críticas à imprensa e apontou desrespeito do governo brasileiro à liberdade de expressão.
Em entrevista à Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou que a fragilidade da liberdade de imprensa no país se agrava com pandemia da covid-19. “Em especial neste momento de crise sanitária, ataques a jornalistas e meios de comunicação e investidas contra a transparência de dados governamentais fragilizam nossa democracia e são extremamente danosos ao país”, disse o especialista.
Em abril de 2021, quando as mortes por covid no Brasil se aproximavam de 400 mil, Bolsonaro chamou de “idiota” a jornalista Driele Veiga, repórter do Grupo Aratu, durante viagem a Feira de Santana (BA). A repórter baiana questionou o presidente sobre uma foto divulgada pelo próprio Palácio do Planalto. Na imagem, Bolsonaro segura um cartaz que simula um cartão de CPF com a palavra “cancelado” – remetendo ao que acontece quando uma pessoa morre. Irritado com a pergunta, ele respondeu à jornalista: “Você não tem o que perguntar não? Deixa de ser idiota, menina!”.