Entenda como funciona nossa memória – e aprenda a usá-la de vez
O maior desafio do estudante é guardar novas informações no cérebro. Entenda aqui como decoramos as coisas, neste pequeno guia prático para a sua memória
Você tem certeza que sabe a resposta, lembra que já se deparou com ela em algum momento, se esforça, puxa no fundo da mente, ela está quase vindo, está na “ponta da língua”, tão próxima que você consiga senti-la… e então você a esquece. Aquela palavra que estava quase saindo pela boca agora parece perdida de vez. Se isso já aconteceu alguma vez com você, bem-vindo ao clube: você oficialmente tem um cérebro. A memória humana é uma máquina complexa, cheia de peculiaridades e funcionamentos próprios.
Se você já se perguntou como se formam as memórias e, principalmente, por que as esquecemos, o GUIA DO ESTUDANTE foi atrás dessas respostas. Seja você um estudante, um vestibulando ou um universitário, ter consciência de como funciona essa peculiar engenhoca que carregamos dentro da cabeça pode esclarecer por que esquecemos as coisas e lembramos tanto de outras.
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Como é formada uma memória?
As memórias nada mais são do que toda e qualquer informação que guardamos em nosso cérebro. Para compreender da maneira mais fácil possível, vamos recorrer a um simplificação bem didática – e os neurocientistas que nos perdoem. Imagine o cérebro como uma grande e complexa estrutura que se conecta por meio de redes. As informações, para serem guardadas, devem ser convertidas em circuitos elétricos, que são transmitidos justamente por essas redes.
Quem gerencia todo esse emaranhado é uma partezinha do cérebro chamada hipocampo. É ele quem “determina” o que deve ser guardado ou dispensado, e também quem “envia” a memória quando ela é evocada. A neurocientista e professora da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Viviane Louro, comparou o cérebro a uma universidade: “o hipocampo seria a reitoria, que é responsável pelo gerenciamento das coisas”, explicou ao UOL.
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As memórias, poderíamos completar, são como os estudantes. E da mesma forma que eles não ficam na reitoria e sim espalhados pelo campus da universidade, as memórias também não são armazenadas no hipocampo: elas ficam dispersas em diversas partes do cérebro, como o córtex e o subcórtex. Assim, o caminho de uma memória no cérebro humano seria algo parecido com isso:
- uma informação é percebida por um indivíduo;
- essa informação é convertida em um pulso de energia elétrica;
- o pulso é transmitido por uma rede de neurônios até as memórias de curto prazo;
- lá, pode ficar de alguns segundos até algumas horas;
- em seguida (se for o caso), é transferida por meio do hipocampo para as memórias de longo prazo;
- e, por fim, é enviada a algum ponto de armazenamento do cérebro.
Conheça no vídeo abaixo a história de H.M., paciente estadunidense dono do cérebro mais estudado da história. Na tentativa de conter crises de convulsões e perdas momentâneas dos movimentos corporais, o jovem teve o seu hipocampo retirado durante uma cirurgia em 1953. O resultado da remoção surpreendeu os médicos e alterou a forma como a ciência compreendia o armazenamento de memórias no cérebro. Ative as legendas em português no vídeo.
Os tipos de memória
Como vimos, as memórias são experiências e informações que são armazenadas pelo cérebro. Não há uma classificação prática utilizada para determinar qual memória é de qual tipo. No entanto, para melhor compreender como funciona esse armazenamento, os neurocientistas concluíram ao longo dos anos que, possivelmente, existam cinco principais tipos de memórias, que podem ser divididas em dois grupos, a partir da sua duração: as de curto e as de longo prazo.
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💨 Memórias de curto prazo
Inicialmente, toda memória é de curto prazo – apenas algumas se tornam de longo prazo. É o tipo de informação que tem uma relevância temporal limitada; como as tarefas que você tem agendada para o dia ou o que comeu no almoço. De forma geral, são informações que ficam armazenadas até, no máximo, seis horas. Há dois tipos:
- Imediata: é o tipo de informação armazenada por um tempo curtíssimo, como o nome de alguém que você acabou de conhecer, ou o pedido que irá fazer para o garçom em um restaurante. Se não tiver continuidade, dificilmente você se lembrará dela na semana seguinte.
- De trabalho: são memórias operacionais. É ela quem garante que você lembre o conteúdo de uma frase que acabou de ler antes de partir para a próxima e assim construir o raciocínio. Ou ainda, as operações internas que você faz de cabeça para chegar ao resultado final de uma conta como 25×13. Duram segundos ou pouquíssimos minutos, e não costumam deixar rastros.
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🕰 Memórias de longo prazo
Já as memórias de longo prazo são as que possuem uma permanência significativa em nossa cabeça. São aquelas que passaram da memória de curto prazo e foram armazenadas permanentemente, em um processo conhecido como consolidação. A capacidade de “estoque” para esse tipo de memória é infinita, elas podem durar de anos até a vida toda. São três principais tipos:
- Semântica: ao ler a palavra “ônibus”, é bem provável que você imagine um ônibus. Não porque tem um na sua frente neste exato momento, mas sim porque você tem associado em sua mente o termo ao objeto da vida real. Estas são as memórias semânticas. São elas as responsáveis por você armazenar os dados que aprende ao longo da vida, como um idioma estrangeiro, uma fórmula de física, ou a capital de um país (mesmo sem ter estado nele). Ela tem o seu pico na infância, quando tudo é inédito e estamos aprendendo coisas novas o tempo todo. Mas isso não significa que você nunca esquecerá essas informações. Na vida adulta, costumam se estabilizar e vão ficando cada vez mais escassas durante a velhice.
- Episódica: se a memória semântica se refere ao ato de “conhecer”, a memória episódica se refere ao ato de “recordar”. Ela é a nossa memória autobiográfica, aquela que armazena os eventos da nossa própria vida. Você se lembra do seu primeiro pet? Ou do seu aniversário de 15 anos? Ou ainda do dia em que foi pedido em namoro? Pois então, estas são as memórias episódicas. Guardamos eventos, emoções, pessoas e lugares que dizem respeito às nossas experiências pessoais significativas.
- Não-declarativa: os dois tipos descritos acima são considerados memórias declarativas; há ainda um tipo não-declarativo. Estas são memórias que não são explícitas. Por exemplo: você precisa ficar se lembrando o tempo todo de respirar? Como segura um celular nas mãos? Ou como andar? As memórias não-declarativas são extremamente duradouras e persistem, geralmente, até o fim da vida. É a lógica por trás do famoso ditado popular “é igual andar de bicicleta, a gente nunca mais esquece”. Mas será que nunca mais esquecemos mesmo? Bem, em alguns casos sim. As memórias implícitas, como a não-declarativa, costumam ser as afetadas em doenças como o Alzheimer. Por isso, é comum que pessoas que sofrem disto se esqueçam como mastigar um alimento ou andar.
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Por que esquecemos?
Da mesma forma que as memórias são formadas pelo cérebro, elas podem ser desfeitas. E isso não é necessariamente ruim. Por mais que o cérebro seja basicamente um HD que consegue armazenar todos os dados infinitamente, isso não significa que ele deva armazenar todos os dados infinitamente. Imagine só se lembrar de todas as informações de todos os momentos de todas as situações que você já viveu? Se você já assistiu ao filme “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo” sabe que isso não terminaria bem…
A cor da caneta usada no escritório do dentista, o telefone da pizzaria que já fechou há anos, a pessoa aleatória que você viu no ônibus semana passada, ou até mesmo o momento que você saiu do útero da sua mãe… Imagine lembrar de tudo isso?!
A verdade é que o cérebro humano sabe muito bem filtrar as informações que devem ser recordadas – por um puro instinto de sobrevivência. Ele sabe diferenciar as informações fundamentais de todo o ruído desnecessário que pode acompanhá-las. Por isso, esquecer é tão importante quanto lembrar.
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O problema acontece quando esquecemos coisas que não queremos esquecer, como aquela palavra que está na “ponta da língua”. Não há um consenso definitivo na comunidade científica acerca dos motivos do cérebro esquecer as coisas. A teoria da decadência, por exemplo, afirma que esquecemos as memórias conforme não pensamos mais nelas com frequência. Outra diz que o esquecimento é consequência natural do envelhecimento, somado a fatores como estresse, alimentação e qualidade de sono. Outra ainda afirma que os esquecimentos nada mais são do que “bugs” no cérebro.
Estudos mais recentes têm mostrado que outra possibilidade, no entanto, é que o cérebro vai esquecendo algumas memórias “de prepósito”, para dar espaço a novas mais relevantes. Em um teste com camundongos, neurocientistas observaram que ratos que associavam novos caminhos de labirintos mais rápidos eram também os mais propensos a esquecer os que haviam aprendido anteriormente.
De acordo com essa teoria, nós humanos funcionamos de maneira parecida. Pense só: durante os primeiros anos de vida, aprendemos uma tonelada de novas informações diariamente, ainda assim são poucas as memórias claras que temos desta época. Você se lembra do seu aniversário de um aninho? É bem provável que não.
Como melhorar a memorização nos estudos
Se esquecer é um fenômeno natural – e bem vindo –, precisamos aprender a conviver com ele. E quando falamos de estudos, encontrar estratégias para burlá-lo. Há várias técnicas que podem ajudar a memorizar com mais facilidade os conteúdos que estudamos. Além, é claro, de ter uma boa alimentação, praticar exercícios físicos e dormir boas horas de sono, o que influencia diretamente na memorização.
Uma técnica é buscar sempre fazer associações. Traduza um conceito de Química a partir de nomes e referências que fazem sentido para você. Lembra do “Hoje Li Na Kama Robinson Crusoé em Francês” para decorar os metais alcalinos da tabela periódica? Pois bem, é por aí mesmo. Mas antes de sair apenas memorizando tudo, busque entender o conteúdo. Entender verdadeiramente facilita também a memorização – muito mais do que apenas decorar como se fosse uma fala de teatro.
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Outras técnicas envolvem atividades mais diferentes. Uma delas é reler os conteúdos antes de dormir, pois é durante o sono que o cérebro revisa e processa as informações aprendidas durante o dia. Outra é explicar o conteúdo em voz alta tal qual estivesse ensinando para outra pessoa. E para você, o que funciona quando o assunto é não esquecer?
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