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Exploração de petróleo na Foz do Amazonas? Entenda o que está em debate

Não é a primeira vez que a exploração de petróleo no maior bioma do Brasil é cogitada — mas ela nunca esteve tão perto de virar realidade

Por Redação
16 jun 2025, 17h00
rio amazonas
 (mantaphoto/gettyimages/canva/Reprodução)
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Se você tem acompanhado as notícias nos últimos tempos, notou que a Região Norte do Brasil está no centro das atenções quando o assunto é energia e meio ambiente. Mais especificamente, o foco está voltado para o extremo norte do Amapá, onde se debate a possibilidade de explorar petróleo na chamada Bacia da Foz do Amazonas — uma área que faz parte da Margem Equatorial (faixa que começa no norte do Rio Grande do Norte e vai até a divisa do Amapá com a Guiana Francesa).

A Petrobrás tenta autorização para investigar a presença de petróleo nessa área, mas esbarra (ao menos por enquanto) na negativa do Ibama. Esse impasse acendeu o debate sobre os desafios de equilibrar a produção de energia com a preservação ambiental e os impactos sociais envolvidos nessa equação.

A ideia da Petrobrás é perfurar um poço de aproximadamente 2.800 metros de profundidade a cerca de 175 km da costa do município de Oiapoque (AP). Esse ponto fica dentro de um setor da bacia chamado Bloco FZA-M-59, ou simplesmente Bloco 59. “Na década de 1970, houve uma iniciativa de exploração de petróleo nessa bacia sedimentar, mas em outro ponto. Na época, a busca ocorreu em águas rasas, exatamente na foz do Rio Amazonas”, explica Pedro Lopes, professor de geografia do SAS Educação, completando que, na época, foi encontrado pouco óleo no local. 

Em 2023, a Petrobrás entrou com o pedido de licença ambiental para atuar no Bloco 59, mas o Ibama recusou em parecer assinado por 29 técnicos. O motivo? A falta de estudos mais detalhados sobre as correntes oceânicas da região, o que impede um mapeamento eficaz dos riscos em caso de vazamento de óleo.

Além disso, o órgão ambiental exigiu que a empresa elaborasse um plano robusto para resgatar espécies marinhas em situações de emergência, como o vazamento de óleo, e também promovesse diálogo com as comunidades locais, explicando claramente os possíveis impactos ambientais. Em maio de 2025, essa polêmica voltou com força após o Ibama aprovar o plano da Petrobrás voltado à recuperação da fauna em caso de acidentes durante a exploração. 

Os debates em torno do assunto envolvem especialmente quatro eixos:

  1. cenário da produção energética;
  2. desenvolvimento econômico;
  3. conservação ambiental;
  4. e bem-estar da população local.
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Abaixo, entenda o histórico da região e como líderes políticos, pesquisadores, ambientalistas e comunidades tradicionais têm se posicionado.

A geologia da região

“O petróleo da Bacia da Foz do Amazonas originou-se há milhões de anos, durante o Cenozóico, a partir da deposição de matéria orgânica em um antigo ambiente marinho rico em sedimentos carregados pelo rio Amazonas. À medida que camadas de microrganismos, algas e outros compostos orgânicos se acumularam no fundo oceânico, foram soterrados por sedimentos, submetidos a altas pressões e temperaturas, transformando-se em hidrocarbonetos ao longo de eras geológicas”, explica Luis Felipe Valle, professor de atualidades do Colégio Oficina do Estudante. 

De acordo com Valle, a região possui uma complexa estrutura sedimentar, com bacias marginais formadas pela interação entre a descarga fluvial do Amazonas e as correntes oceânicas do Atlântico, criando condições favoráveis para a geração de petróleo. 

No entanto, sua localização em uma área de enorme sensibilidade ecológica (próxima ao maior sistema de recifes de corais de profundidade da América do Sul e a ecossistemas ainda pouco estudados) coloca em xeque a viabilidade de sua exploração, especialmente diante dos riscos de impactos irreversíveis e da crise climática global. 

O argumento econômico e a ‘capital nacional do petróleo’

O principal argumento a favor da exploração de petróleo na região é, certamente, o econômico. “Tais agentes defendem as possibilidades de desenvolvimento econômico, tanto para o país quanto para o município de Oiapoque e o estado do Amapá”, diz Pedro Lopes.

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Segundo ele, esses agentes consideram que a descoberta de petróleo poderia gerar um crescimento na economia brasileira, uma vez que, em outros países, o descobrimento de reservas impulsionou indicadores de PIB e renda per capita, além de ter atraído investimentos estrangeiros (a exemplo da Guiana).

Os defensores também apontam que a economia local poderia ser beneficiada, já que a atividade de extração petrolífera contribuiria para o avanço dos setores de comércio e serviços no município e no estado. “Alguns dizem que, caso o petróleo seja descoberto no local, Oiapoque poderia se tornar a ‘capital nacional do petróleo’. Além disso, os agentes favoráveis apontam que a descoberta de petróleo na área pode favorecer o financiamento de projetos de transição energética no país, fomentando o avanço dos setores de pesquisa, desenvolvimento e inovação, o que, no longo prazo, contribuiria para a segurança energética brasileira”, explica o professor do SAS.

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Meio ambiente em xeque

Embora do ponto de vista econômico, a exploração petrolífera na região possa gerar lucros expressivos para empresas e governos, com a promessa de royalties, empregos e desenvolvimento regional, essa narrativa ignora os graves custos socioambientais, como já visto em outros locais de exploração, segundo Luis Felipe, da Oficina do Estudante.

“Os riscos para a biodiversidade amazônica e para o equilíbrio ecológico global são imensuráveis. Um eventual vazamento na Foz do Amazonas poderia devastar recifes de corais, afetar espécies ameaçadas e contaminar o litoral, prejudicando a pesca e comunidades locais que dependem desses recursos”, avalia.

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Pablo López, professor de geografia do Curso Anglo, endossa o argumento. “Estamos falando de um lugar que tem uma biodiversidade de manguezal única, com várias espécies de animais, sem falar que também é uma região habitada por diversos povos tradicionais, como indígenas e ribeirinhos. Então é claro que um possível vazamento de óleo em uma dessas áreas de exploração poderia impactar diretamente sobre esses ecossistemas e também sobre esses povos tradicionais”.

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Além disso, a dispersão de poluentes atingiria não apenas o Brasil, mas também outros países, dada a importância ecológica da Amazônia para o clima do planeta. Para o professor da Oficina do Estudante, em um cenário de aquecimento global acelerado, expandir a fronteira fossilista é um contrassenso, principalmente quando o país já possui produção consolidada no Pré-Sal. Vale lembrar que os combustíveis fosseis são responsáveis por mais de 75% das emissões dos gases que provocam o aquecimento global. 

Apesar dos riscos, empresas e investidores pressionam pela exploração, visando lucros de curto prazo. 

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A geopolítica do petróleo

Na porção norte da América do Sul, a discussão sobre a exploração de petróleo também tem ganhado maior destaque nos últimos anos. Segundo Pedro Lopes, do SAS, isso se dá especialmente no caso da Guiana, cuja economia está aquecida pelo setor petrolífero. 

O país, que já foi considerado um dos mais pobres do continente, tem se projetado no mercado global. “Entre os anos de 2019 e 2023, o PIB da Guiana aumentou quase 200%, e o PIB per capita passou a superar o do Brasil. A exploração de petróleo no país tem atraído investimentos estrangeiros e ajudado a impulsionar outros setores, como o comércio, os serviços e a construção civil. Há quem diga que Georgetown, capital da Guiana, será a ‘nova Dubai’, devido ao boom econômico acelerado e desencadeado pela extração de petróleo”, explica o professor. 

Esse exemplo mostra bem por que encontrar petróleo em uma região é algo tão valorizado. O óleo mineral continua sendo uma peça-chave no tabuleiro da geopolítica mundial. Ter reservas da substância significa, muitas vezes, ter mais poder de barganha, atrair parcerias (ou tensões) e ganhar protagonismo internacional.

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No caso da Guiana, por exemplo, especialistas apontam que a descoberta de petróleo em sua costa ajudou a acirrar o interesse da Venezuela pela região de Essequibo, um território disputado há décadas, mas que voltou com força para o centro das atenções nos últimos anos.

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+ Essequibo: por que a Venezuela quer anexar o território da Guiana?

Como o tema pode aparecer nos vestibulares?

Como se trata de uma temática atual e que tem gerado debate, esse assunto pode ser explorado de diversas formas em vestibulares, segundo especialistas. 

De acordo com o professor da Oficina do Estudante, Luis Felipe Valle, os exames podem abordar os conflitos entre a exploração petrolífera (vista como estratégica para a soberania energética e o desenvolvimento econômico) e os impactos socioambientais, com a ameaça a ecossistemas sensíveis e populações tradicionais.

Além disso, temas como a transição energética, a atuação de cartéis globais do petróleo e as disputas políticas em torno da Petrobrás e do Ibama podem aparecer em questões interdisciplinares, discutindo se o Brasil deve priorizar investimentos em fontes renováveis ou manter a dependência de combustíveis fósseis. 

+ Fontes energéticas e suas relações econômicas

Para Pedro Lopes, do SAS Educação, é possível que alguns exames, como Fuvest e Unicamp, abordem os impasses que envolvem esse assunto, trazendo questões que foquem nos motivos para as preocupações ambientais em torno da exploração ou no que desperta o interesse econômico sobre essa região. Os desafios para a extração de petróleo no local e as ações para mitigar possíveis impactos ambientais também podem ser questionados.

Também pode haver abordagens interdisciplinares que unam conhecimentos de Geografia, Sociologia, Química e Biologia, exigindo do estudante um conhecimento sobre as políticas ambientais, o cenário econômico do setor energético, as reivindicações de povos tradicionais, os processos químicos de contaminação da água e a dinâmica biológica em ecossistemas marinhos.

“Além disso, a temática pode surgir em propostas de redação, especialmente em vestibulares que costumam explorar assuntos mais em voga. Nesse sentido, é importante que o estudante tenha um bom repertório argumentativo e um conhecimento de fatos e dados que envolvem essa discussão para embasar seus posicionamentos”, explica Pedro.

Para finalizar, ele aponta que, no caso do Enem, a probabilidade de essa temática ser cobrada explicitamente é pequena. Analisando o modo como o exame tem abordado temas atuais nos últimos anos, ele acredita que o assunto pode ser tratado por meio de temas correlatos.

Ou seja, vale a pena analisar a geopolítica do petróleo na América Latina, observando, por exemplo, o caso da Venezuela e o da Guiana; os impasses econômicos e ambientais para a transição energética no Brasil; os aspectos físicos que contribuem para que a Bacia da Foz do Amazonas e a Margem Equatorial sejam visadas; e o histórico de disputas socioambientais em torno da exploração de fontes de energia do país.

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