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Geopolítica das Olimpíadas: o que os pódios nos ensinam sobre o mundo

Situação real dos países explica muito de seu desempenho olímpico

Por Paulo Zocchi
4 ago 2024, 15h00
Bonequinhos madeira são posicionados em pódio. Há somente um no primeiro lugar. Todos os outros observam ao longe
 (Canva/Reprodução)
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Os Jogos Olímpicos de Paris 2024, iniciados há alguns dias, atraem a atenção do mundo todo. Em seu ideal, as Olimpíadas pregam uma competição em condições de igualdade entre homens e mulheres vindos de todos os cantos da Terra. Mas, entre a idealização e as competições que vemos pela TV, há o mundo real, que delineia as condições concretas da competição.

Tanto nos esportes individuais quanto nos coletivos, o pódio nas Olimpíadas é resultado de um esforço de toda uma vida de atletas – somado, muitas vezes, a um talento nato. Mas tudo isso dá muito mais resultado quando a pessoa nasce num país que incentiva a prática esportiva maciça para todas as crianças – e ainda mais quando se trata de um país rico, que garante boas condições de vida para a população.

Por isso, dá para aprender muito sobre o cenário global analisando as Olimpíadas. Existem ainda as Olimpíadas de inverno e os Jogos Paraolímpicos, mas, para esta matéria, consideramos somente os dados das Olimpíadas de “Verão” (no hemisfério norte), justamente a que estamos vendo agora, que contam com a participação de todos os países. Vamos mostrar como há uma relação direta entre um bom desempenho olímpico e um país desenvolvido.

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Países ricos e poderosos

Os Estados Unidos, por exemplo, são o país que mais ganhou medalhas na história olímpica – um total de 2.656, sendo 1.070 de ouro (contando de 1896 a 2020). Claro que não é uma coincidência que isso tenha acontecido com a maior potência mundial, a nação mais rica e influente do último século, justamente o período de existência dos Jogos da Era Moderna, criados em 1896.

Na segunda posição na história olímpica está um país que não existe mais: a União Soviética (1917-1991), que, depois da 2ª Guerra Mundial, encerrada em 1945, protagonizou um duelo acirrado com os norte-americanos. Até a sua desagregação final em 15 países diferentes, dos quais o principal é a Rússia, ela obteve 1.010 medalhas, sendo 395 de ouro.

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Desde então, a Rússia conseguiu mais 426 medalhas (149 de ouro), mas não está podendo melhorar sua marca neste ano: junto com Belarus (outra ex-república soviética), está suspensa dos Jogos Olímpicos de Paris, por causa da guerra contra a Ucrânia – também ex-república soviética. Desde 1991, a Ucrânia ganhou 139 medalhas, sendo 35 de ouro, mas certamente sua participação em Paris está muito prejudicada, pois o país está sendo devastado pelo conflito, que há dura dois anos e meio e não dá sinais de trégua.

Alemanha (974 medalhas), Reino Unido (916) e França (764), nessa ordem, vêm a seguir no ranking histórico de medalhas: três países europeus entre as 7 maiores economias do mundo, populosos e com alto nível de vida há muito tempo.

Quem vem atropelando nas últimas décadas é a China, que aparece a seguir com 634 medalhas. Atualmente, é a segunda maior economia do mundo, que cresce de forma acelerada nas últimas 4 décadas, além de ser o segundo país mais populoso do planeta (atrás da Índia), com 1,4 bilhão de habitantes.

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Desenvolvimento humano

Os países que apresentam as melhores condições de vida para sua população estão no topo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), apurado pelas Nações Unidas (ONU), numa nota que varia de 0 a 1. No início de 2024, foi divulgado o IDH tendo como referência os dados de 2022, e os três melhores países são europeus: a Suíça (IDH de 0,967), a Noruega (0,966) e a Islândia (0,959). Elas lideram o grupo dos países com “desenvolvimento humano muito elevado”.

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2.385 a 5. Os dez primeiros países do ranking – Suíça, Noruega, Islândia, Hong Kong, Dinamarca, Suécia, Alemanha, Irlanda, Cingapura e Holanda – somaram 2.385 medalhas na história dos Jogos Olímpicos (693 de ouro, 819 de prata e 873 de bronze). Já os dez últimos do ranking – Somália, Sudão do Sul, República Centro Africana, Níger, Chade, Mali, Burundi, Iêmen, Burkina Fasso e Serra Leoa – conquistaram apenas 5 (1 de ouro, 2 de prata e 2 de bronze).

Para compor a sua nota, o IDH considera três fatores: a expectativa de vida da população, o número de anos na escola em média e o PIB per capita (ou seja, a riqueza do país dividida pelo número de habitantes). Na Suíça, por exemplo, a expectativa de vida ao nascer é de 84,3 anos; no Chade é de apenas 53 anos. Na Alemanha, as pessoas ficam em média 14 anos na escola; na Somália, menos de 2 anos. Na Irlanda, a renda média por pessoa é de 87.500 dólares por ano (mais de R$ 400 mil); no Sudão do Sul, 691 dólares (cerca de R$ 3.500 ao ano). Quanto sua principal preocupação é sobreviver, fica difícil a prática regular de esportes!

Mas, entre os países mais pobres, chama a atenção a Etiópia, localizada no nordeste da África. Ela está entre os 20 piores no ranking do IDH, mas se destaca nas Olimpíadas, com 58 medalhas, sendo 23 de ouro! Os etíopes são especialistas em corridas de longa distância, com várias vitórias na maratona e nos 10 mil metros (e também nas nossas São Silvestre).

Vamos inserir o Brasil neste quadro: no tamanho do PIB, sua economia é a 11ª do mundo. Com IDH de 0,760, está no grupo com “desenvolvimento humano elevado”, mas apenas na 89ª colocação entre 193 países listados. Relativamente aos países em situação semelhante, tem uma expectativa de vida melhor (73,4 anos), mas um número baixo de média de anos na escola (8,3 anos) e uma renda per capita média (14.600 dólares, ou R$ 73 mil ao ano).

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Em sua história olímpica até os últimos Jogos, ganhou 150 medalhas (37 de ouro, 42 de prata e 71 de bronze). Pelo seu potencial, pelo tamanho de sua população, de seu território e de suas riquezas, dá para melhorar muito, tanto no IDH quanto nesta história esportiva!

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