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Movimento 4B: entenda os “4 nãos” das mulheres na Coreia do Sul

Muito além da recusa ao casamento e maternidade, as sul-coreanas desistiram de se relacionar com homens

Por Ludimila Ferreira
30 ago 2024, 19h00

Doramas, k-pop, roupas estilosas e maquiagens irretocáveis. Essas podem ser algumas imagens que saltam aos olhos do mundo quando o assunto é cultura sul-coreana. A vida real por lá, no entanto, não é exatamente um conto de fadas, especialmente para as mulheres. Um reflexo disso é o chamado movimento 4B, que começou na Coreia do Sul e agora já se expandiu para outros países. Trata-se de um levante de mulheres que decidiram não se relacionar mais com homens, em reação ao crescente machismo de uma sociedade que sempre foi muito tradicional.

A discussão teve início há vários anos, e levanta temas como desigualdade salarial, trabalho doméstico, violência e maternidade. Para muitos homens do país, tudo se resume a um “preconceito reverso”.

Abaixo, entenda o que significa os “4B”, os dados que explicam a reação das mulheres sul-coreanas e quais podem ser os efeitos do movimento para o país.

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Movimento 4B: o que significa e como ele nasceu

O nome do movimento vem de quatro palavras em coreano iniciadas com a consoante que tem o som da letra B:

  1. 비섹스 (bisekseu)
  2. 비출산 (bichulsan)
  3. 비연애 (biyeonae)
  4. 비혼 (bihon).
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Seus significados, respectivamente, são “não fazer sexo” (bisekseu), “não dar à luz” (bichulsan), “não namorar” (biyeonae) e “não se casar” (bihon) com homens.

O movimento dos “quatro nãos” das sul-coreanas não tem uma data de início oficialmente registrada, porém a insatisfação das mulheres no país sobre a desigualdade de gênero é constante há vários anos. Em 2022, por exemplo, uma funcionária recém-contratada de um banco denunciou a empresa ao governo pois foi solicitada a “lavar as toalhas dos funcionários homens em casa”. Já em 2018, uma mulher denunciou um crime de estupro e foi acusada por difamação.

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Em entrevista à revista Marie Claire, a jornalista sul-coreana Hawon Jung explica que o levante feminino no país pode dar a entender que as mulheres são mais progressistas do que em outras nações. Na verdade, os homens é que ficaram muito mais conservadores. “Pesquisas mostram que 25% dos homens na faixa dos 20 anos se identificam como anti-feministas, acreditam que uma sociedade com igualdade salarial não é justa, que medidas por igualdade de gênero são equivocadas e que o feminismo almeja a supremacia feminina”, relata Jung.

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Entre janeiro e julho de 2024, de acordo com a polícia sul-coreana, mulheres foram vítimas de 297 casos de deepfake com conteúdo sexual no país. “Embora ser contra namoro e sexo com homens possa parecer extremo para muitos, o movimento reflete a intensidade da pressão que as mulheres na Coreia do Sul enfrentam”, complementa a jornalista.

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O trabalho invisível das sul-coreanas

Em 2021, de acordo com o guia The Global Economy, a Coreia do Sul foi um dos países com a menor taxa de natalidade do mundo. É claro que o 4B não é exatamente o culpado, mas as razões pelas quais as mulheres estão evitando os filhos têm tudo a ver com o movimento.

Cada vez mais, as mulheres sul-coreanas estão preferindo focar em suas carreiras a constituir uma família, já que sucesso profissional e entrar em boas universidades é tão valorizado por elas quanto ter um filho.

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Além disso, os custos de vida na região da capital, Seul, são altos, e poucos coreanos estão dispostos a despender o valor necessário para criar uma criança, mesmo com incentivos financeiros do governo. Já quando a família opta por ter filhos, todo o trabalho de cuidado recai sobre os ombros da mulheres, que precisam abandonar seus empregos. Poucas conseguem voltar ao mercado de trabalho.

“A realidade de gênero na Coreia do Sul é composta por estereótipos rígidos historicamente construídos, onde os papéis sociais de homens e mulheres, apesar das mudanças produzidas pela industrialização e pelo grande desenvolvimento econômico e tecnológico alcançado pelo país, seguem uma tradição milenar, na qual as mulheres são consideradas responsáveis pelo trabalho doméstico e de cuidado dos filhos e filhas, e os homens responsáveis pelo trabalho externo à casa”, resume Mayara Bichir, psicanalista e pesquisadora de questões de gênero para a Marie Claire.

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