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‘Soft power’: a estratégia sutil dos países para ganhar poder

Compreenda como e quais países influenciam outras nações sem precisar entrar em guerra para isso

Por Ludimila Ferreira
26 Maio 2024, 15h00
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Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em encontro com a banda sul-coreana BTS. (Wikimedia Commons/Reprodução)
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Há quem concorde com as palavras de Nicolau Maquiavel em “O Príncipe”, quando ele diz que “é mais seguro ser temido do que amado”. Mas essa não é necessariamente a crença de alguns países que usam de uma estratégia sutil para adentrar outras nações, ganhando poder sem usar a força bruta. Estamos falando do soft power.

Definido por Joseph Nye, cientista político e professor na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em 1990, este método de “invasão” é quase imperceptível, se for olhado sem muita atenção. Ele pode ser traduzido como ‘poder brando’ e foi uma alternativa ao poder bruto – o ‘hard power’ –, usado quando há dominação de um território sobre o outro com as forças armadas, envio de mísseis e bombas atômicas.

Compreenda o conceito de soft power e como os países utilizam desta estratégia para dominarem uns aos outros sem precisar entrar em guerra.

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O que é soft power

Soft power é um método de política externa usado por um país para influenciar culturalmente outra nação, através dos seus valores, estilo de vida, ideias, culinária, música, cinema, entre outros. Por meio desse “poder brando” um território atrai e inspira os cidadãos de outro, se torna relevante nas disputas internacionais e movimenta o turismo e a economia.

Além de tornar o país agradável aos olhos das pessoas de outro território, o soft power também serve como distração e cortina de fumaça para eventos políticos internos que podem prejudicar a reputação de quem o pratica. Um dos maiores exemplos de uso desse poder brando é Hollywood, conglomerado de entretenimento dos Estados Unidos, que se tornou referência em cinema no mundo.

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Como os países usam o soft power

Não entendeu muito bem como o soft power funciona na prática? Aí vai um dos exemplos mais batidos. Foi por meio principalmente dos filmes de Hollywood que o “sonho americano'” deixou de ser um objetivo apenas dos estadunidenses, e conquistou o mundo. Já a França, desde o século 20, investe em difundir seu idioma e cultura com a criação de centros culturais no exterior, além de ser divulgada internacionalmente como um polo cultural, atraindo turistas para seus museus ou para degustar da culinária francesa.

Atualmente, um dos maiores exemplos de nação que usa a tática é a Coreia do Sul. Essa “invasão” do país no ocidente ganhou até nome: Hallyu (한류), a onda coreana. A cultura sul-coreana está cada vez mais em evidência, fazendo com que até o idioma, falado originalmente apenas em dois países – as Coreias do Sul e do Norte – , se espalhe através do K-Pop, a música pop coreana. Os K-Dramas, novelas coreanas, e o cinema também deixam sua contribuição nessa história – não se esqueça que, em 2019, “Parasita” foi o primeiro filme não falado em inglês a ganhar um Oscar..

Falando desta forma pode até parecer que exercer o soft power é simples, mas não é, e exige muita estratégia para render frutos. De acordo com o Yonhap News Agency, jornal sul-coreano, o Ministério da Cultura da Coreia do Sul recebeu mais de 6 trilhões de Won – moeda coreana – em investimentos, equivalente a quase 2% do orçamento total do país.

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Para além da cultura, também existe a influência religiosa e politica. De acordo com o vaticanista Filipe Domingues, doutor pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, o Vaticano é um dos grandes exemplos deste uso da religião como poder brando, já que, oficialmente, o país não possui forças militares e é protegido apenas pela Itália.

“A Santa Sé, na sua diplomacia, não tem um poder de persuasão como os mecanismos que outros países têm. O que ela tem é soft power, poder de influência, mais do que de convencimento. E [o atual papa] é muito diplomático, tenta com todas as forças chegar a todos os cantos”, afirma o estudioso em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo a respeito das críticas feitas pelo papa Francisco à Guerra na Ucrânia.

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Soft power e Brasil

Já ouviu falar naquele ditado “quem não tem cão, caça com gato”? No caso do hard power e soft power, ficaria mais ou menos assim: “quem não tem exército ou fortunas, convence na lábia”. O autor do livro “Poder Suave”, Franthiesco Ballerini, afirma em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo que o soft power é a maior arma dos países que foram colonizados, como o Brasil e a Índia. Este último, por exemplo, exporta suas músicas, cultura e valores para o mundo por meio de Bollywood, o mercado de entretenimento indiano.

Para Ballerini, o Brasil não ter usado Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 de maneira estratégica foi um grande erro – para quem não se lembra, o país estava em meio a uma grande crise política na época. Além disso, ele também defende que o carnaval é uma grandes armas de soft power para nosso país. “O Carnaval exibe a imagem de um povo alegre e amistoso, acompanhado pelo mundo inteiro”, afirma.

Caio Gracco, professor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, concorda. “O Brasil é o estudo de caso dessa questão, ele não possui capacidade orçamentária nem tecnológica para se impor através do poder militar como outras superpotências. Se fosse apenas pelo poderio militar, o Brasil não conseguiria explicar a posição de destaque que tem. Entretanto, o Brasil possui outros recursos de poder que justificam o seu destaque e que são de soft power, ele possui uma boa imagem com os outros países pela cultura e o povo brasileiro”, conclui o professor em entrevista para o Jornal da USP.

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