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Por que mais brasileiros agora se consideram pardos?

Dados de cor e raça do Censo 2022 mostram redução de brancos e amarelos, e registram o crescimento de pardos, pretos e indígenas

Por Paulo Zocchi
2 jan 2024, 10h24

Pela primeira em 150 anos, as pessoas que se declaram pardas são o maior contingente apurado pelo recenseamento no Brasil. No Censo 2022, cujo resultado para o item “cor e raça” foi divulgado em 22 de dezembro de 2023, os pardos totalizaram 92,1 milhões de pessoas, 45,3% da população, superando as que se declaram brancas, que somaram 88,2 milhões, 43,5% do total. Isso já havia acontecido antes no primeiro Censo demográfico brasileiro, em 1872, no qual 38,3% das pessoas se declararam “pardas” e 38,1% das pessoas se disseram “brancas”. Desde então, a população branca sempre foi a maior categoria apurada pelos diversos censos (veja a tabela histórica abaixo).

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Em 2022, comparando-se com os resultados do último censo, o de 2010, houve um significativo crescimento da população que se declara preta – de 7,6% para 10,2% – e indígena – de 0,4% para 0,6%. Caiu de forma notável a população autodeclarada amarela – de 1,1% para 0,4%.

Tabela Censo 2022, cor e raça

Mudanças populacionais

Estudantes negros nas universidades

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O censo coleta suas informações com base na autodeclaração das pessoas entrevistadas. São elas que escolhem a categoria na qual se encaixam, levando em conta critérios que incluem não só a cor da pele, mas os traços físicos, a ascendência e a identificação cultural.

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As cinco categorias nas quais a pessoa pode se encaixar são amarela (para pessoas nascidas no leste da Ásia ou seus descendentes), branca, indígena (vivendo ou não em áreas indígenas), parda ou preta. Essas cinco categorias são apuradas desde o Censo de 1991; antes, houve variações (confira na tabela abaixo).

É significativo o aumento dos percentuais de pessoas pardas e pretas se pensarmos que, nas últimas duas ou três décadas, houve grande valorização da cultura e da identidade negras em nosso país. Boa parte dos estudiosos considera que o Brasil de hoje é um país com população de maioria negra, somando-se os dados apurados de pretos e pardos – que chegam a 55,5% do total.

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Essa questão é importante para pensarmos na sociedade brasileira em seu conjunto: sua herança cultural e social, seus valores e seu lugar no mundo. Vários estudos socioeconômicos são feitos com base nesse entendimento. Mas essa abordagem também é objeto de contestação, pois há estudiosos que consideram que a miscigenação populacional é o que predomina quando o maior contingente é de população parda, e que seria inconsistente somar os que se declaram pardos com os que se declaram pretos.

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Nos resultados, chama também a atenção que houve uma diminuição numérica da população branca do Censo de 2010 para o de 2022. Entre os dois levantamentos, a população brasileira, no total, passou de 190,8 milhões de pessoas (2010) para 203,1 milhões (2022), com um crescimento de 6,5%. A população que se declara branca, no entanto, caiu de 91,1 milhões de pessoas para 88,3 milhões – uma redução de 3,1% em números absolutos. Em termos percentuais, a participação dos brancos na população total caiu ainda mais, de 47,7% para 43,5%.

No mesmo período de 12 anos, a população parda teve um expressivo crescimento de 9,8 milhões de pessoas. Em termos percentuais, seu crescimento foi de 11,9%, e ainda assim ficou atrás da expansão das populações pretas e indígenas. De um censo para outro, o número de brasileiros que se declaram pretos passou de 14,5 milhões para os atuais 20,7 milhões – aumento de 42,3% –, e o número dos que se declaram indígenas cresceu de 817 mil para 1,7 milhão, um expressivo salto de 107%!

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Em relação aos indígenas, uma explicação suplementar: no recenseamento em localidades indígenas – como terras ou agrupamentos indígenas –, caso o entrevistado desse uma resposta ao quesito “cor e raça” diferente de “indígena”, a resposta era contabilizada, mas havia uma pergunta suplementar: “Você se considera indígena?”. Exatas 467.194 pessoas responderam “sim” a essa pergunta, e, assim, sem mudar sua declaração inicial, foram também somadas às que, em todo o país, se declararam indígenas para “cor e raça” (total de 1.227.642 pessoas). Assim, chegou-se ao total de 1,7 milhão de indígenas no Brasil.

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Uma redução significativa ocorreu na população que se declara amarela, que passou de 2,1 milhões no Censo 2010 para 850 mil no Censo 2022: uma diminuição de quase 60%. Os números ainda precisam ser melhor estudados, mas, neste último caso, talvez a explicação principal seja que, à medida em que as gerações se distanciam daqueles que imigraram dos países asiáticos, a identidade étnica/cultural ancestral vá se esmaecendo.

Os censos e a história

Recenseador do IBGE entrevista moradora da comunidade quilombola de Pedra Bonita, no Rio de Janeiro, em 6 de outubro de 2022
Recenseador do IBGE entrevista moradora da comunidade quilombola de Pedra Bonita, no Rio de Janeiro, em 6 de outubro de 2022 (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Como se sabe, o território no qual se localiza o Brasil era habitado, antes da chegada dos europeus, por populações indígenas. Desde o início da colonização, a população de origem europeia foi aumentando lentamente. A vinda maciça de africanos escravizados, desde o século 16, como o grosso da mão-de-obra, provocou enorme impacto populacional.

O primeiro censo demográfico, com todas as suas limitações, ocorreu apenas na segunda metade do século 19, no período do Império, em 1872. Desde então, outros nove censos apuraram o quesito hoje denominado “cor e raça”. Veja a evolução dos levantamentos na tabela abaixo.

Tabela censos quesito cor e raça
(Guia do Estudante/Guia do Estudante)

Em 1872, o censo apurou uma população branca de 38,1%, que se alterou pouco no de 1990. Apenas 50 anos depois, em 1940, houve novo levantamento de cor e raça: a mudança foi enorme, com a população branca passando para 63,5%. A explicação é uma política ativa de “branqueamento” da população brasileira com a abolição da escravidão (1888). O estado brasileiro adotou uma diretriz de substituição da mão-de-obra escrava pela de imigrantes europeus, atraídos para o Brasil em massa a partir da segunda metade do século 19. Entre os europeus, além dos portugueses, imigraram principalmente italianos, espanhois e alemães, que marcaram profundamente a composição das populações, especialmente no Sul e Sudeste do Brasil.

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Um aspecto relevante da fratura social que marca o país ainda hoje – com uma das maiores concentrações de renda do mundo – foram as condições adotadas no final da escravatura. Não houve políticas públicas que fornecessem educação ao enorme contingente de iletrados, nem que distribuíssem terras aos escravizados recém-libertos (como reforma agrária), embora o Estado brasileiro tivesse uma parte enorme de seu território desocupada (as chamadas terras devolutas). Na prática, negaram-se os meios de ascensão social à população liberta da escravidão, usando-se as políticas de estado para ampliar maciçamente a presença no Brasil de imigrantes – sobretudo os de origem europeia.

Acompanhando a tabela acima, pode-se acompanhar a evolução de mudanças da população, e também da percepção das pessoas a respeito de sua cor e raça.

  • A população branca se mantém como maioria desde o Censo de 1940 até o de 2000. A partir de 2010, a soma de “pardos e pretos” torna-se majoritária;
  • A identificação de cor como pardamestiça no Censo de 1890 – se manteve sempre relevante, indicando um país fortemente miscigenado desde o século 19, e que se torna a principal categoria populacional no Censo 2022;
  • A autodeclaração como pessoa preta, que teve queda constante desde o século 19, passou a ter um crescimento constante nos últimos 30 anos;
  • No século 19, a população indígena era contabilizada na categoria “caboclo”; apurada de forma específica desde 1991, vem registrando um forte crescimento, que coincide com a expansão da demarcação de terras indígenas (estipulada pela Constituição de 1988), estabelecendo melhores condições de vida para essa população;
  • A opção amarela entra no censo a partir de 1940, três décadas depois do início da imigração japonesa (iniciada em 1908). Tendo se mantido estável por décadas, registrou um crescimento no Censo de 2010, para ter uma forte queda agora.

A divulgação de agora foi a primeira dos dados de cor e raça do Censo 2022. Com base neles, novos estudos vão se desenvolver nos próximos meses ou anos.

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