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Putin amplia poderes na Rússia e continua popular. Como ele consegue?

Apesar de críticas ao autoritarismo, presidente russo identificado com recuperação econômica conseguiu estender possibilidade de reeleição

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 9 abr 2021, 19h02 - Publicado em 9 abr 2021, 12h45

“Putin para sempre?” É o que se perguntam os manifestantes em um protesto na Praça Vermelha, em Moscou, após mais uma mudança na lei sobre reeleição na Rússia. Foi sancionada no início de abril novo projeto que concede ao presidente o direito de disputar mais duas eleições. A lei é parte da reforma constitucional realizada em julho de 2020, com amplo apoio popular.

Com a alteração, Putin pode disputar um terceiro mandato consecutivo em 2024, quando teria de deixar a presidência, e mais outros três mandatos – uma vez que, alega-se, a regra nova “zera o jogo”. Isso significa que o presidente, hoje com 68 anos, pode se manter no poder até os 90!

Putin já comanda a Rússia desde 1999. À época primeiro-ministro, assumiu o poder após a renúncia de Boris Iéltsin, presidente do qual os russos não têm saudade. Foi eleito em 2000 e reeleito em 2004. Sucedido pelo aliado Medvedev na presidência, ocupou o cargo de primeiro-ministro até 2012, quando foi reeleito e ampliou o mandato para seis anos. Medvedev deixou o cargo de primeiro-ministro no ano passado, após a aprovação da nova Constituição, dando mais espaço ainda a Putin.

Ex-agente da KGB, o serviço secreto da União Soviética (URSS), Putin disfruta de grande popularidade no país, apesar de todas as críticas feitas a seu governo no Ocidente com relação às liberdades civis e à corrupção. A sua agenda busca reinserir a Rússia como ator global – razão pela qual o país se associou à China, algo que não aconteceu nem na época da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e tem comercializado doses da Sputnik V a preços mais acessíveis a países de renda mais baixa.

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A reforma constitucional de 2020 baseou-se em medidas econômicas populares e no conservadorismo – com a proibição formal do casamento igualitário. O país, assim como a Polônia, faz uma crítica ao Ocidente colocando como alvo a população LGBT.

Para entender a popularidade de Putin ante um governo considerado autoritário é preciso, antes, entender o histórico político da Rússia.

Império Russo

Capa da revista Time coloca Putin como um “czar em ascensão”
(Divulgação/Reprodução)

Por séculos a Rússia foi um império, a chamada Rússia czarista. Esse estado caiu na Revolução de Fevereiro de 1917, que terminou com a abdicação do czar Nicolau II (1868-1918) e deu início ao período da chamada “Revolução Branca”, em que liberais e socialistas governaram em coalizão num governo de caráter republicano que seria derrubado com a Revolução de Outubro de 1917, quando os sovietes do Partido Bolchevique tomam o poder.

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Com a Revolução de Outubro, tem início a primeira experiência socialista do mundo, com um desenvolvimento centralizado pelas instituições de Estado, com as empresas geridas por grupos operários e as terras das oligarquias e da Igreja nas mãos da população do campo.

Em 1922, após a Guerra Civil contra o Exército Branco, que pretendia restaurar a ordem czarista, nasce a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URRS), que ganham maior impulso já sob o comando de Josef Stálin (1878-1953). Considerado o mais sanguinário dos governantes russos do período e o responsável pelo fechamento do regime, Stálin foi também responsável pelo desenvolvimento industrial russo – muito baseado na economia da guerra, como também os Estados Unidos a partir de 1930 – e parte fundamental da derrota dos nazistas na Segunda Guerra.

Com o fim da Segunda Guerra, tem início a Guerra Fria, que divide o mundo em áreas de influência de duas potências imperiais, que rivalizam entre si. Os Estados Unidos, em defesa do capitalismo, e a URSS, representando o mundo socialista. O auge dessa disputa se dá no terreno espacial, com o lançamento do Sputnik 1 pela Rússia em 1957. Doze anos depois, seria a vez de o homem chegar à Lua em um foguete dos Estados Unidos.

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A partir dos anos 1970, o modelo soviético, que tinha sido capaz de transformar um país feudal e agrário numa potência industrial em cinco décadas, começa a perder seu dinamismo e não mais acompanhar as revoluções industriais do Ocidente. A decadência da economia russa leva à chamada Perestroika, uma reforma econômica comandada por Mikhalil Gorbachev. Na mesma época, foi implantada a Glasnost, conjunto de medidas de abertura política.

As tentativas reformistas, porém, chegaram tarde demais e a URSS se desmantelou, com a independência dos estados associados a ela (dando origem a vários conflitos locais, como na antiga Iugoslávia). É nesse contexto que a Rússia se torna uma república federalista de caráter liberal com um regime semipresidencialista, no qual o presidente exerce o cargo de chefe de Estado e o primeiro-ministro, o de chefe de governo.

A passagem do regime socialista para o liberal-capitalista foi extremamente traumática para a Rússia. A década de 1990 foi um período de forte crise econômica, com altos índices de inflação, desemprego e endividamento que levariam à moratória em 1998, em decorrência da desvalorização do rublo, a moeda russa, em relação ao dólar. O período de Boris Iéltsin na presidência foi também de forte crise política – em razão também do alcoolismo do presidente – e de corrupção nos processos de privatização.

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Com a renúncia de Iéltsin, Putin, então seu primeiro-ministro, assume o cargo, iniciando sua longa trajetória no poder que levou a revista americana Time a colocá-lo como um “czar em ascensão” numa edição de 2018. O período marca uma espécie de reconstrução do país – beneficiado também pelos altos preços do petróleo e do gás, produtos nos quais a Rússia é um dos países-líderes no comércio internacional.

A volta do crescimento, da estabilidade política e da ideia de grandeza russa, muito forte no período socialista, explicam os índices de popularidade de Putin e permitem que ele redesenhe o país, mesmo que, para isso, liberdades civis e opositores sejam solapados. Em um dos casos mais recentes, o ativista Alexis Navalny, atualmente preso, diz que passou mal depois de tomar um chá em um aeroporto na Sibéria. As suspeitas sobre o envenenamento de vários opositores recaem sobre Putin e seu regime. 

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