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Rússia e Ucrânia: 4 pontos centrais para entender a crise atual

A tensão também envolve os EUA. Para entender, vamos revisar a Guerra Fria, o papel da Otan e as questões geopolíticas da Ucrânia

Por Juliana Morales
Atualizado em 24 fev 2023, 13h03 - Publicado em 11 fev 2022, 15h08

Depois de uma série de ameaças e sinalizações, o presidente russo, Vladimir Putin, iniciou a invasão da Ucrânia no dia 24 de fevereiro de 2022. Segundo o governo russo, o foco é o leste do país, que abriga territórios separatistas. Ao longo da madrugada, no entanto, foram registradas explosões em outras áreas, incluindo a capital Kiev. Os ucranianos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) já falam em uma invasão total.

Putin já havia anunciado o avanço sobre a Ucrânia em 21 de fevereiro do mesmo ano, enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas reunia-se nos Estados Unidos para tentar intermediar a crise entre os países. No dia 24, enquanto declarava o ataque, Putin afirmou que “quem tentar interferir, ou ainda mais, criar ameaças para o nosso país e nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e levará a consequências como nunca antes experimentado na história”. Segundo o presidente russo, o objetivo da invasão é “desmilitarizar” e “desnazificar” a Ucrânia.

Em postagem no Twitter, o chanceler ucraniano Dimitri Kuleba afirmou que o ataque ao país é generalizado, mas que “as forças de defesa da Ucrânia não colapsaram” e que “o Exército ucraniano está na luta”. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que os 30 países-membros da organização se reunirão para dar uma resposta unificada.

Desde o começo, a Otan tem se posicionado a favor da Ucrânia. Em resposta às movimentações do governo russo, a organização colocou instalações militares em alerta e reforçou sua presença no Leste europeu com navios de guerra e caça.

A principal exigência do governo da Rússia na atual crise é, justamente, que o ocidente garanta que a Ucrânia não vai aderir à aliança militar liderada pelos Estados Unidos. A presença ostensiva da Otan também é vista com desconfiança pelos russos, que alegam que o apoio da organização aos ucranianos, com treinamento e armas, ameaça a segurança da Rússia.

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Esse atual impasse entre os dois países escalou em novembro de 2021, quando o presidente russo, Vladimir Putin, posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Há anos, as duas nações, que no passado fizeram parte da União Soviética, disputam porções de territórios próximos a fronteira. A Ucrânia frequentemente acusa a Rússia de atentar contra sua soberania ao financiar grupos separatistas. 

Neste texto, o GUIA DO ESTUDANTE explica os principais atores envolvidos na crise geopolítica e elenca quatro pontos centrais para entender como começou o conflito entre Rússia e Ucrânia. 

A transformação e expansão da OTAN

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) surgiu em 1949, no contexto da Guerra Fria. A finalidade da aliança era lutar contra a expansão do comunismo e retaliar qualquer ataque soviético contra seus países-membros. Eram eles: Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Noruega, Portugal, Reino Unido.

Com o fim da Guerra Fria, marcado pela Queda do Muro de Berlim (1989) e pela extinção da União Soviética (1991), a Otan perde o sentido prévio de existir, mas se reformula e permanece como instituição internacional – contrariando até mesmo algumas previsões teóricas, de acordo com Pedro Feliú Ribeiro, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).

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O professor explica que parte da reformulação da Otan envolvia sua expansão e uma nova atuação contra ameaças não estatais, como o tráfico humano, o tráfico de drogas, a pirataria, o controle migratório, questões do meio ambiente e também o controle do tráfico de armas em massa. Atualmente, a aliança defensiva, liderada pelos Estados Unidos, é composta por 30 países. “A Otan é criticada por não ter um propósito muito claro, mas ela usou o aumento do número de membros como a forma de justificar a sua existência e permanência”, analisa Ribeiro.

Nesse projeto de expansão, Países Bálticos como Lituânia e Estônia entraram para a Otan. Na Guerra Fria, essas nações faziam parte do Pacto de Varsóvia, que foi justamente uma resposta da URSS à Otan, em 1955. O Pacto era apoiado por países do bloco socialista e criado nos mesmos moldes da rival.Esses países têm o que o próprio presidente da Rússia, Vladimir Putin, chama de “russofobia” (aversão contra a Rússia ou o povo russo). Assim, aderiram à aliança dos EUA como uma forma de se proteger da Rússia”, diz Ribeiro.

O professor da USP explica que a Rússia sempre foi contra a adesão desses países à Otan, mas mantinha diálogo com os Estados Unidos e os países europeus. O país aderiu uma postura de contrariedade com a ascensão do nacionalismo russo, encarnado na figura do Putin.

+ 5 questões para entender a Rússia de Vladimir Putin

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Preocupações geopolíticas e econômicas da Rússia

Do lado russo, existem duas preocupações centrais que perduram desde a queda da União Soviética: uma é geopolítica e a outra é econômica.

Na parte geopolítica, historicamente, esses países que estão na fronteira da Rússia sempre serviram como uma contenção à invasão terrestre. A situação, é claro, mudou um pouco com a globalização e os novos adventos tecnológicos. “Hoje isso perde um pouco esse valor devido à tecnologia militar, que permite outras formas de ataques e até de invasão”, observa o professor. Ainda assim, a questão geopolítica ainda pesa para os russos.

Isso porque, em termos práticos, quando esses países aderem à Otan estão estabelecendo uma estreita cooperação militar com os EUA o que, nas próprias narrativas de Putin, significa escolher o ocidente e não a Rússia.

Vale destacar ainda como as divisões demográficas da Ucrânia influenciam nas tensões com a Rússia. No oeste do país, a maioria da população tem ascendência ucraniana, fala ucraniano e apoia uma aproximação com a União Europeia. Já no leste, a maior parte dos habitantes é de origem russa, tem o idioma russo com primeira língua e defende a manutenção de laços com Moscou.

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Do ponto de vista econômico, o interesse russo (e mundial) na região se dá principalmente pelo fato de o país, que é uma ex-república soviética, ser o local por onde passam gasodutos que levam o gás natural russo para a Europa.

Mapa que mostra o leste europeu, com foco na Ucrânia
(Google Maps/Reprodução)

O interesse da Otan pela Ucrânia e vice-versa

Do outro lado, países do ocidente que fazem parte da Otan também apontam alguns riscos geopolíticos envolvendo a Ucrânia. Segundo a própria organização, por ter sido parte da URSS, há chances de que a Ucrânia ainda tenha armas com potencial perigoso, que podem, eventualmente, cair na mão de terroristas. Essa é a justificativa formal para a intervenção na Ucrânia, mas alguns especialistas na área apontam outros interesses mascarados. “Nas análises mais políticas e críticas sobre a Otan, defende-se que existe um propósito de conter a Rússia e entrar nesse jogo de influência política doméstica”, afirma Pedro Feliú Ribeiro, da USP.

Para os países cortejados pela Otan, no entanto, essa parece ser uma via de mão dupla, em que todos podem sair ganhando. O interesse dos países em entrar na organização tem relação com uma busca por estabilidade. Também há a perspectiva de ganhos do ponto de vista de investimentos e de segurança. A Otan exige que seus membros sejam democracias adeptas da economia de mercado. “Embora seja militar, o ingresso na aliança liderada pelos EUA causa um efeito semelhante ao da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para esses países do leste europeu, com obrigações e benefícios”, explica Ribeiro.

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+ O que é a OCDE e por que o Brasil quer fazer parte dela?

As narrativas

A legitimidade do uso da força é uma questão central nas relações internacionais. O professor da USP explica que como não existe uma autoridade central, algo como uma constituição internacional que impõe limites ao uso da força, as partes envolvidas criam narrativas que legitimam suas ações. A narrativa russa, segundo o professor, para justificar o investimento em separatistas russos na Ucrânia é totalmente fundamentada em proteger o povo russo. Mas o que a Rússia entende como defesa do seu povo, e portanto legítimo, a Europa e os EUA entendem como violação da soberania, algo ilegítimo.

“A Ucrânia se contrapõe à narrativa da Rússia também argumentando que se trata de uma ação induzida: uma política intencional de armar pessoas que se identificam com a nacionalidade russa, como aconteceu no episódio da Crimeia”, observa Ribeiro.

Para quem não se lembra do episódio da Crimeia, aí vai uma breve explicação. Em 2014, uma crise na Ucrânia colocou Estados Unidos e Rússia em lados opostos em uma disputa geopolítica. A decisão do então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, de rejeitar um acordo comercial com a União Europeia em favor de um acerto com a Rússia desencadeou violentos protestos da população. Os EUA, que também tinham interesse no acordo entre União Europeia e Ucrânia, apoiaram as manifestações populares. O presidente Yanukovich acabou sendo deposto, mas, em retaliação à derrubada de seu aliado, a Rússia tomou da Ucrânia a península da Crimeia.

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