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O que foi a Guerra Fria, conflito que dividiu o mundo em dois

Disputa entre Estados Unidos e União Soviética criou uma ordem bipolar, opondo países apoiadores do capitalismo e do socialismo

Por Ludimila Ferreira
14 fev 2024, 15h00
imagem da bandeira dos eua e da urss
 (Getty Images/Lucas S. Paiva/Guia do Estudante)
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A Guerra Fria foi o confronto ideológico, político, militar e econômico entre dois blocos formados no fim da Segunda Guerra Mundial. Os blocos eram o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, encabeçado pela União Soviética (URSS). Embora o poder militar de ambos fosse imenso – já que as duas potências tinham nas mãos bombas nucleares – não houve um enfrentamento direto, e por isso o nome “Guerra Fria”.

Conheça um pouco sobre este conflito que abalou o mundo.

Os precedentes e início da Guerra Fria

É possível afirmar que a Guerra Fria teve início, de certa forma, com o fim da Segunda Guerra Mundial. O conflito havia se encerrado com a vitória dos Estados Unidos e da União Soviética contra a Alemanha nazista em 1945. Os vencedores, então, passaram a exercer um grande influência no mundo.

Os Estados Unidos atuaram sobre o oeste da Europa por meio do Plano Marshall, de 1948, que garantiu financiamento aos países europeus para se reconstruírem no pós-guerra.  Já a URSS, que havia passado, décadas antes, pela Revolução Socialista, passou a avançar sobre os países vizinhos estimulando a adoção do socialismo.

Historiadores indicam que o estopim da guerra pode ter sido o discurso do ex-presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, em 1947. Nesta ocasião, o presidente pedia apoio financeiro para combater o avanço do comunismo na Europa, e colocava os Estados Unidos como responsável por este enfrentamento.

Mundo bipolar

divisão dos países do mundo durante a guerra fria
(Almanaque Abril/Editora Abril)

Poucos anos depois, foram formadas duas alianças militares. Estados Unidos e Europa Ocidental se uniram em 1949 na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A União Soviética e o Leste Europeu constituíram o Pacto de Varsóvia seis anos depois.

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Também em 1949, a URSS explodiu sua primeira bomba atômica em um teste. Naquele momento, as duas potências passaram a ter um grande poder em suas mãos: uma arma capaz de causar uma destruição nunca antes vista. Por isso, nunca chegaram a um enfrentamento militar direto – disputavam por outros meios como a corrida espacial, os avanços econômicos e o domínio sobre países.

Conforme diversas nações aderiam a um ou outro lado, a Alemanha era o retrato do mundo bipolar. Já em 1949, o país há pouco devastado pela Segunda Guerra Mundial foi dividido em dois. De um lado, as zonas de ocupação francesa, britânica e americana formaram a República Federal da Alemanha (RFA ou Alemanha Ocidental), parte capitalista. A zona soviética originou a República Democrática Alemã (RDA ou Alemanha Oriental), socialista.

Acontece que a capital, Berlim, seguiu dividida entre o domínio das quatro nações. Em 1961, para evitar o fluxo crescente de pessoas que passavam para a Berlim capitalista, o governo socialista ergueu o Muro de Berlim, isolando o lado oeste da capital. A divisão era tão categórica que famílias inteiras chegaram a ser separadas, o muro passou a ser um símbolo da Guerra Fria.

Principais conflitos durante a Guerra Fria

Guerra do Vietnã
Um dos mais famosos conflitos durante a Guerra Fria foi a Guerra do Vietnã, que ocorreu entre 1955 e 1975 (Wikimedia Commons/Divulgação)

O conflito entre Estados Unidos e União Soviética pode até ter sido simbólico, sem um enfrentamento direto, mas o contexto da Guerra Fria resultou em diversos confrontos ao redor do mundo. A Guerra da Coreia e a Guerra do Vietnã são exemplo disso.

Confira alguns destes eventos:

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  • Revolução Chinesa: Quando teve início a Guerra Fria, a China já passava por uma Guerra Civil que se estendia desde 1920 – e que ganhou força após a Segunda Guerra Mundial. O confronto entre comunistas e nacionalistas chineses teve fim com a vitória dos primeiros, em 1949. O evento ficou conhecido como Revolução Chinesa e alarmou os americanos com a possibilidade de que o comunismo fosse disseminado pelo continente asiático por meio da influência chinesa.
  • Guerra da Coreia: Após a Segunda Guerra Mundial, as Coreias se dividiram em duas, com o norte dominado pela União Soviética e o sul pelos Estados Unidos. O conflito se iniciou em 1950 quando a Coreia do Norte invadiu a Coreia do Sul com o objetivo de reunificar o país. O conflito teve um fim não oficializado, em 1953, com a assinatura de um cessar-fogo, mas nenhum dos lados jamais admitiu a derrota e as duas Coreias seguem em tensão até hoje. 
  • Crise dos Mísseis: Em 1962, a URSS instalou secretamente mísseis nucleares em Cuba. Os EUA descobriram, e o presidente John Kennedy ordenou um bloqueio naval à ilha. A União Soviética chegou a enviar uma frota para confrontar os americanos, mas o líder soviético Nikita Kruschev cedeu e retirou os mísseis.
  • Guerra do Vietnã: O cenário dessa guerra é, em certa medida, semelhante ao caso das Coreias. No contexto da Guerra Fria, Vietnã do Sul (capitalista) e Vietnã do Norte (comunista) travaram um conflito entre 1959 e 1975. Ambos lados procuravam unificar o país sob seu controle. Os Estados Unidos entraram oficialmente no conflito em 1965, mas a opinião popular dos americanos era contrária à intervenção. O país acabou se retirando da Guerra e os comunistas venceram em 1976.
  • Guerra do Afeganistão: Conflito foi travado entre 1979 e 1989. Dessa vez, no entanto, foi a URSS quem interviu, e entrou no país para apoiar o governo comunista que enfrentava um levante de rebeldes islâmicos. Na época, os Estados Unidos financiaram os revoltosos, inclusive com armas.

Para além da intervenção direta, com o envio de tropas, Estados Unidos e URSS também interviram politica e economicamente nos países sob seus domínios. Um exemplo é o apoio americano às ditaduras da América Latina – incluindo a do Brasil – temendo o avanço do socialismo.

+ Por que o brasileiro tem tanto medo do comunismo?

Após a morte do líder soviético Josef Stálin, em 1953, e a ascensão de Nikita Kruschev, a URSS tentou reduzir a corrida armamentista implementando a política de Coexistência Pacífica.

Corrida espacial

homem pisando na lua
(Domínio público/Wikimedia Commons)

Sem a possibilidade de um conflito militar direto, a disputa entre EUA e URSS estendia-se para várias outras esferas, como no esporte e na ciência. No campo da tecnologia, por exemplo, os dois países disputavam para ver quem apresentaria mais inovações ao mundo. Essa disputa abriu a possibilidade de explorar o espaço com a corrida espacial.

Ambos os países lançaram satélites artificiais, sondas espaciais e expedições tripuladas para o espaço. Esta foi uma disputa importante porque, quem dominasse o espaço primeiro, firmaria seu papel de potência diante da sociedade. Conquistar o espaço também era uma estratégia militar, que permitiria monitorar os movimentos do inimigo, e abria uma nova possibilidade de ataque em caso de guerra.

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Os quase vinte anos de corrida espacial foram marcados por eventos de grande notoriedade:

  • Sputinik: Feito soviético. No dia 4 de outubro de 1957, às 22h28m, no horário de Moscou, foi lançado o Sputnik 1, o primeiro satélite artificial a ficar na órbita da Terra. Alguns minutos depois, o satélite começou a emitir os primeiros sinais de rádio e o Sputnik 1 permaneceu em órbita por 22 dias.
  • Nasa e Explorer: Os Estados Unidos, após ficarem para trás no lançamento do satélite, enviaram seu próprio em 31 de janeiro de 1958, quando aconteceu o lançamento do Explorer 1
  • Homem no espaço: Yuri Gagarin foi o primeiro homem a ser enviado pela União Soviética para o espaço, e a espaçonave que o transportou chamava-se Vostok 1.
  • Homem na Lua: O último grande feito da corrida espacial foi a viagem tripulada até a lua em 1969. Vitória dos Estados Unidos com o norte-americano Neil Armstrong.

+ Chegada do homem à Lua: 6 fatos sobre a Apollo 11

A queda do muro de Berlim e o começo do fim

O Muro de Berlim foi símbolo da divisão entre Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental por 28 anos. Em 1989, cerca de 100 mil alemães enfurecidos derrubaram tijolo por tijolo utilizando pás, martelos e outras ferramentas.

Era uma reação às quase três décadas em que os moradores da Alemanha Oriental enfrentaram dificuldades financeiras, uma profunda crise política e a perseguição de um governo autoritário. Diante da inegável ruína econômica da Alemanha Oriental e da abertura de outras nações antes socialistas, como Hungria e Polônia, o porta-voz do governo Günter Schabowski viu-se obrigado a anunciar o início de uma mobilidade dos cidadãos entre as duas partes do país.

A população do lado oriental, no entanto, compreendeu que a mobilidade tinha início imediato, e dirigiu-se ao Muro de Berlim. No dia 9 de novembro de 1989, o muro caiu, simbolizando também o iminente fim da Guerra Fria.

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+ 6 filmes para relembrar a queda do Muro de Berlim

Fim da Guerra Fria

Apesar da Guerra Fria ter arrefecido em 1973, quando as superpotências concordaram em desacelerar a corrida armamentistapor meio da Política de Détente, a trégua não durou muito. A invasão soviética no Afeganistão, em 1979, aqueceu novamente o conflito. Foi só a partir de 1985, com a ascensão ao poder do líder soviético Mikhail Gorbatchov, que a guerra entrou novamente em declínio.

O fim da Guerra Fria ficou estabelecido em 1991, com a dissolução da União Soviética. O fim da URSS foi resultado de uma grande crise econômica e política que iniciou-se em 1970. Um dos acontecimentos que agravou a situação dos soviéticos foi o acidente nuclear de Chernobyl, que ocasionou muitas mortes e exigiu grandes quantias de dinheiro para conter os estragos.

+ O desmanche soviético

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