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Segunda Guerra Mundial: o conflito mais sangrento da História

Quase 8 décadas após o seu final, as consequências da guerra ainda moldam o mundo atual

Por Paulo Zocchi
Atualizado em 28 dez 2023, 10h27 - Publicado em 26 dez 2023, 12h57
Tropas alemãs avançam na Noruega, no primeiro semestre de 1940: os nazistas na ofensiva (Domínio público/Wikimedia Commons)
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Há 80 anos, o mundo estava numa guerra que incluía dezenas de países, incluindo os mais importantes e desenvolvidos. Conflito militar global, a Guerra Mundial envolveu nações de todos os continentes e durou seis anos, de 1939 a 1945.

A guerra foi causada pelo choque de interesses entre as nações após o fim da 1ª Guerra Mundial (1914-18) e pelas pretensões de alguns países, sobretudo da Alemanha, de ampliar seu poderio econômico e territorial na Europa e no mundo. O conflito terminou com a destruição do 3º Reich, de Adolf Hitler, na Alemanha, o declínio das nações da Europa e a emergência de duas potências mundiais, Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), protagonistas no período da Guerra Fria (1949-1991). Mesmo considerando o fim da URSS em 1991, os principais pilares da atual arquitetura mundial, como a existência da ONU, do FMI e do Banco Mundial, são consequências diretas do modo como o conflito terminou.

Estima-se que a 2ª Guerra Mundial causou a morte de quase 50 milhões de pessoas, civis em sua maioria. É o conflito mais mortífero da história. Em campos de trabalho forçado, de concentração e de extermínio montados pelo regime nazista, foram assassinados cerca de 6 milhões de judeus (genocídio chamado de Holocausto) e 4 milhões de homossexuais, eslavos, ciganos e portadores de deficiências, além de militantes comunistas e socialdemocratas.

+ Primeira Guerra Mundial: tudo o que você precisa saber

Antecedentes da 2ª Guerra Mundial

As condições impostas à Alemanha ao final da 1ª Guerra Mundial, em 1918, com a perda de territórios e pesadas indenizações a pagar, provocaram forte descontentamento na população alemã e favoreceram a ascensão do nazismo ao poder, em 1933. O líder nazista Adolf Hitler chegou ao cargo de chanceler (primeiro-ministro) da Alemanha em janeiro de 1933, e, alguns meses depois, implantou uma ditadura sob seu controle.

Desde a sua ascensão, o regime nazista adotou uma política militarista e defendeu uma doutrina de expansão do território alemão. As potências ocidentais conviveram com essa política externa alemã por alguns anos, considerando prioritário bloquear a influência da URSS e do comunismo na Europa (a Revolução Russa, que levou à formação da União Soviética, havia ocorrido em 1917, também na esteira da 1ª Guerra Mundial).

+ Por que Hitler odiava os judeus?

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Em 1935, a Alemanha reiniciou a produção de armamentos e restabeleceu o serviço militar obrigatório, violando os termos do Tratado de Versalhes, assinado ao final da 1ª Guerra Mundial, com condições impostas pelos vencedores do conflito, Grã-Bretanha e França. Um ano depois, a Alemanha ocupa a Renânia e dá início a uma ofensiva diplomática forjando alianças externas. Oferece ajuda econômica à Itália fascista e apoia o líder conservador Francisco Franco na Guerra Civil Espanhola. Assina com o Japão um pacto contra a URSS, em 1936.

Em 1938, o estado alemão domina a Áustria com o apoio do governo local. Depois, recebe o aval de França e da Grã-Bretanha para incorporar os Sudetos, região da Tchecoslováquia habitada por alemães – com a condição de não invadir a Polônia. Hitler aproveita ainda o temor da URSS em relação às potências ocidentais para assinar um acordo de não agressão com o líder soviético Josef Stálin: o Pacto Germânico-Soviético, de 23 de agosto de 1939.

Abre-se, assim, para Hitler, o caminho a leste para invadir a Polônia. Seu objetivo imediato era recuperar a zona do Corredor Polonês, unindo o território da Alemanha à Prússia Oriental (atualmente, parte da Polônia e da Federação Russa [Kaliningrado]).

+ 6 documentários para entender melhor o nazismo

Ataque alemão: o início da 2ª Guerra Mundial

As tropas alemãs invadem a Polônia em 1° de setembro de 1939 e empreendem uma estratégia militar de “ofensiva-relâmpago”, que se tornou conhecida por seu nome em alemão, “blitzkrieg”. É estabelecido um governo nazista na região dominada (porção ocidental da Polônia, de norte a sul), e inicia-se a perseguição às minorias, sobretudo aos judeus – cuja população era numerosa na Polônia. O Reino Unido, comprometido com a defesa polonesa, e a França, aliada inglesa, declaram guerra à Alemanha.

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Começa a 2ª Guerra Mundial.

Liberado militarmente na frente oriental pelo acordo com Stálin, Hitler deflagra uma ofensiva do lado ocidental, e consegue uma rápida ocupação militar da Dinamarca, Noruega, Holanda (Países Baixos) e Bélgica.

+ Veja fotos da Polônia após a invasão alemã que deu início à 2ª Guerra Mundial, em 1939

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Os nazistas ocupam Paris: Hitler posa em frente à torre Eiffel, ao lado do arquiteto Albert Speer (à esq.) e e do escultor Arno Breker, em junho de 1940 (Domínio público/Wikimedia Commons)

Com a retirada de Dunquerque, cidade francesa na beira do Canal da Mancha, em maio e junho de 1940, o Exército belgo-anglo-francês sofre uma grande derrota. Em junho de 1940, Hitler submete metade do território francês à ocupação das forças nazistas. Após a tomada de Paris pelos nazistas e a assinatura pelo governo francês do armistício com os alemães, o subsecretário de Defesa Nacional Francesa, o general Charles de Gaulle, exila-se no Reino Unido e passa a dirigir a Resistência Francesa.

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Em setembro de 1940, é formalizado o Eixo, pacto entre Alemanha, Itália e Japão, estabelecendo o apoio mútuo entre os países em caso de ataque por potência ainda não envolvida na guerra, no caso, os Estados Unidos. Londres é bombardeada pelos alemães, que também ameaçam o domínio inglês no Egito.

Com o avanço no front ocidental consolidado, Hitler reorienta a sua máquina de guerra para o Leste Europeu: rompe o pacto de não-agressão com a URSS, e o território da União Soviética é invadido, sem uma declaração formal de guerra, em 22 de junho de 1941. Nesse momento, a Alemanha já dominava vários países do Leste Europeu, como Romênia, Bulgária e Hungria, além de Iugoslávia e Grécia. O Exército soviético tenta reagir, em contra-ataques, sobre os países-satélites da Alemanha, que passa a lutar em duas frentes de guerra.

A entrada dos EUA na 2ª Guerra Mundial

Até o final de 1941, os Estados Unidos não haviam se envolvido diretamente na 2ª Guerra Mundial. Os japoneses provocam a entrada dos EUA na guerra ao bombardear, em 7 de dezembro de 1941, a base naval norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí. Definem-se, assim, as duas facções em conflito. De um lado, os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e, de outro, os Aliados (Reino Unido, EUA, URSS, China e o governo francês no exílio).

Em 1942 e 1943, as marinhas norte-americana e britânica eliminam submarinos alemães no oceano Atlântico, enquanto a aviação aliada intensifica o bombardeio ao território da Alemanha.

Stalingrado e Dia D: a virada na 2ª Guerra Mundial

A ofensiva geral das tropas do Eixo é interrompida no início de 1943, após mais de três anos de luta. A batalha decisiva, que muda os rumos da 2ª Guerra Mundial, ocorre em Stalingrado (atual Volgogrado), no sul da URSS. O ataque a Stalingrado, iniciado em agosto de 1942, marcou o auge territorial da presença militar nazista na guerra. A batalha durou quase seis meses e levou à morte de mais um milhão de pessoas.

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Em janeiro de 1943, o Exército alemão é derrotado em Stalingrado, e, depois disso, as tropas soviéticas iniciam um gradual avanço para oeste, recuperando territórios sob domínio militar alemão.

+ Batalha de Stalingrado foi mais decisiva que o Dia D

No norte da África, o Exército alemão rende-se em maio de 1943. Os Aliados desembarcam na Sicília, no sul da Itália, em julho de 1943, combatendo o estado fascista de Benito Mussolini, aliado de Hitler. Em 1944, o Exército soviético alcança vitórias na Romênia, na Bulgária e na Iugoslávia, enquanto a Albânia e a Grécia expulsam as tropas alemãs.

Em 6 de junho de 1944, o Dia D, acontece o desembarque de 155 mil soldados aliados em Caen, no litoral da Normandia, na França, operação aeronaval considerada a maior da história. Envolve mais de 1,2 mil navios de guerra e mil aviões.

No mesmo ano, o Brasil (que havia declarado guerra aos países do Eixo em 1942) envia tropas para lutar na Itália. Paris torna-se livre do domínio nazista em 25 de agosto de 1944. Com a derrota das tropas alemãs na Itália, Mussolini é morto em 28 de abril de 1945. Os soviéticos libertam a Polônia e, em 2 de maio de 1945, ocupam Berlim, capital da Alemanha. Hitler havia se suicidado em 30 de abril.

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Em 7 de maio de 1945, a Alemanha se rende, encerrando a guerra na Europa.

+ Pracinhas: como os brasileiros lutaram nos fronts da Segunda Guerra Mundial

Segunda Guerra Mundial: o conflito mais sangrento da História
Era nuclear: bomba atômica explode sobre Nagasaki, em 9 de agosto de 1945, matando 70 mil pessoas (Wikimedia Commons/Reprodução)

2ª Guerra Mundial: os combates no Pacífico

Nas primeiras décadas do século 20, o Japão havia ocupado territórios da Ásia, como a Coreia e a Manchúria (nordeste da China). Após o início da 2ª Guerra Mundial, invade militarmente o Sudeste Asiático e ocupa larga região do oceano Pacífico.

Com o início do combate com os norte-americanos, no final de 1941, as forças armadas do Japão veem um freio em seu expansionismo. Os EUA obtêm vitórias nas batalhas navais de Midway e do Mar de Coral, em 1942. No início de 1945, tropas norte-americanas, britânicas e chinesas recuperam o controle das Filipinas. Em 19 de fevereiro de 1945, ocorre o primeiro desembarque norte-americano em território japonês, na ilha de Iwo Jima.

A primeira bomba atômica da história é lançada pelos norte-americanos sobre a cidade japonesa de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, e mata cerca de 90 mil pessoas. Três dias depois, outra bomba é jogada em Nagasaki, causando mais 70 mil mortes. A partir de 8 de agosto, tropas soviéticas expulsam os japoneses da Manchúria e da Coreia. Em 2 de setembro de 1945, o Japão rende-se ao Exército dos Estados Unidos.

É o fim da 2ª Guerra Mundial.

+ Hiroshima – O abominável mundo novo

O mundo após a 2ª Guerra Mundial

As instituições que passaram a ser referência internacional após a 2ª Guerra começaram a ser edificadas no período final do conflito. Em 1944, ocorreu a Conferência de Bretton Woods, nos Estados Unidos, que adotou o dólar norte-americano como base do sistema monetário internacional, em substituição ao padrão ouro. Na conferência, foram criados o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, instituições multilaterais fundamentais no período pós-guerra.

Em fevereiro de 1945, na Conferência de Yalta, na Crimeia, sul da União Soviética, os mandatários de Estados Unidos, Reino Unido e URSS reuniram-se para começar a remontar o mapa geopolítico do mundo: por ele, os soviéticos anexavam os Estados bálticos (Letônia, Lituânia e Estônia) e o leste da Polônia. Em julho de 1945, na Conferência de Potsdam, na Alemanha, foi determinado, entre outras medidas, a dissolução de todos os órgãos e associações nazistas, o desarmamento alemão e a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação militar: soviética, norte-americana, francesa e britânica. A Alemanha foi separada da Áustria, obrigada a devolver os territórios tomados da Tchecoslováquia, a entregar Dantzig (atual Gdansk) à Polônia e a reconhecer a divisão da Prússia Oriental entre URSS e Polônia.

Em 24 de outubro de 1945, nasce formalmente a Organização das Nações Unidas (ONU), com os propósitos de manter a paz internacional, defender os direitos humanos e promover o desenvolvimento das nações. A ONU tem como membros permanentes de seu Conselho de Segurança os cinco principais países vencedores da 2ª Guerra Mundial – Estados Unidos, Reino Unido, França, União Soviética (atualmente, a Rússia) e China.

+ O desmanche soviético

Segunda Guerra Mundial: os principais líderes

Adolf Hitler (1889-1945)

Nascido na Áustria, Adolf Hitler ingressa no Exército alemão em 1913 e luta na 1ª Guerra Mundial. Em 1919, filia-se ao Partido Operário Alemão (DAP), organização nacionalista antissemita, e passa a chefiá-lo dois anos depois. Em 1923, é preso após uma tentativa de golpe de Estado. Em 1933, é nomeado chanceler (primeiro-ministro) da Alemanha. Com a morte do presidente, Paul von Hindenburg, instaura uma ditadura e assume o papel de führer (líder do povo alemão). Começa a expansão militar do país, que dá início à guerra. Em 1945, com a derrota, suicida-se.

Benito Mussolini (1883-1945)

Líder do fascismo na Itália, Benito Mussolini nasce em Predappio, região central do país. Luta na 1ª Guerra Mundial, e, em 1919, funda o movimento nacionalista Fascio de Combatimento. Em 1922, organiza a Marcha sobre Roma. O rei então o convida para encabeçar um novo governo. No poder, estabelece o controle sobre a estrutura sindical, proíbe greves, persegue a imprensa e estabelece uma ditadura de partido único. Alia-se à Alemanha na 2ª Guerra Mundial. Derrubado pelo avanço militar dos Aliados, em 1943, é preso por correligionários e libertado pelos nazistas. Morre em 1945 nas mãos de guerrilheiros italianos.

+ Teste: o que você sabe sobre Mussolini e o fascismo?

Franklin D. Roosevelt (1882-1945)

Estadista norte-americano, Franklin Roosevelt estuda direito e começa a carreira política em 1910. Assume a Presidência dos Estados Unidos em 1933, quando o país enfrenta a maior crise econômica da história, após a quebra da Bolsa de Nova York (1929). Promove a recuperação com medidas administrativas e econômicas conhecidas como New Deal. É reeleito em 1936, em 1940 e em 1944. Durante a 2ª Guerra Mundial, é o principal articulador da aliança dos EUA com o Reino Unido e a URSS contra o Eixo.

Imperador Hiroito (1901-1989)

Michinomiya Hiroito nasce em Tóquio e, ainda príncipe, visita a Europa, fato então inédito na monarquia japonesa. Em 1926, torna-se imperador, e adota uma política expansionista. Em 1941, o Japão ataca a base norte-americana de Pearl Harbor, colocando os EUA na 2ª Guerra Mundial. Em 1945, o Japão se rende após a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Hiroito anuncia a rendição à população japonesa em cadeia de rádio. Com o país sob ocupação militar dos EUA, as instituições japonesas são reformadas: o imperador nega o caráter divino atribuído a seu cargo e aceita medidas democratizantes.

Josef Stálin (1879-1953)

Josef Vissariónovitch Diugachvíli adere em 1902 ao Partido Operário Social-Democrata Russo e à sua fração bolchevique. É preso e deportado para a Sibéria em 1913, adotando o nome Stálin (homem de aço). Em 1917, entra para o Comitê Central do Partido Bolchevique e participa da Revolução Russa. Sucede a Lênin após sua morte, em 1924, superando o dirigente Leon Trotsky. Passa a controlar o Estado soviético com poderes ditatoriais, em um regime de cunho personalista. Milhões de oposicionistas são presos, executados ou enviados a campos de trabalho. Durante a 2ª Guerra Mundial, é um dos líderes dos Aliados.

Winston Churchill (1874-1965)

Estadista inglês, forma-se em escola militar e trabalha como repórter. Em 1900, inicia a sua carreira política. Entre 1911 e 1915, ocupa a chefia do Almirantado, órgão responsável pela Marinha britânica, que moderniza antes da 1ª Guerra Mundial. Volta a esse cargo no início da 2ª Guerra e, em 1940, torna-se primeiro-ministro britânico. Com Roosevelt e Stálin, lidera o campo dos Aliados no período final da guerra. Após a vitória, participa das conferências que decidem o novo mapa da Europa. Autor de Memórias de Guerra, recebe o Prêmio Nobel de Literatura em 1953.

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