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Rio 2016: 5 lições de política que aprendemos com as Olimpíadas

Por Fabio Sasaki
Atualizado em 24 fev 2017, 15h04 - Publicado em 25 ago 2016, 12h40

Além da disputa esportiva, dos recordes e das medalhas, as Olimpíadas se notabilizam por reunir em um único evento nações e povos dos quatro cantos do planeta sob o lema do “espírito olímpico”. E justamente por se tratar de um grande acontecimento multicultural, que atrai os olhares de todo o mundo, muitas situações de competição acabam servindo de palco para o exercício da política e da diplomacia. Na Rio 2016 não foi diferente.

Atletas de nações que não se bicam foram colocados frente a frente na disputa por medalhas, causando reações amistosas ou hostis. Em outros casos, competidores aproveitaram os holofotes da mídia para transformar seus feitos esportivos em atitudes de protesto. E parte da torcida brasileira não fez por menos e deu seu recado político nas arquibancadas.

Confira a seguir os momentos mais emblemáticos nos quais os Jogos Olímpicos se transformaram em Jogos Políticos.

COREIAS DO SUL E DO NORTE: UMA SELFIE HISTÓRICA

As ginastas Lee Eun-Ju (Coreia do Sul, à direita) e Un Jong (Coreia do Norte) tiram uma selfie após o treino na Arena Olímpica do Rio de Janeiro (foto: Reuters/Dylan Martinez)

As ginastas Lee Eun-Ju (Coreia do Sul, à direita) e Hong Un Jong (Coreia do Norte) tiram uma selfie após o treino na Arena Olímpica do Rio de Janeiro (Reuters/Dylan Martinez)

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Na Arena Olímpica do Rio, duas ginastas adversárias foram vistas tirando uma selfie e conversando descontraidamente após os treinos. O episódio não causaria tanto furor se não envolvesse atletas de dois países que vivem em clima de tensão. De forma espontânea, Lee Eun-Ju, da Coreia do Sul, e Hong Un Jong, da Coreia do Norte, fizeram o que os líderes de seus países costumam evitar: deixaram as diferenças de lado e relacionaram-se de forma amistosa e respeitosa.

Coreia do Sul e Coreia do Norte entraram em guerra em 1950, influenciadas pela disputa ideológica da Guerra Fria – o Norte comunista invadiu o Sul capitalista. Apesar de um armistício ter sido assinado em 1953, estabelecendo uma zona desmilitarizada entre os dois países, tecnicamente Coreia do Sul e Coreia do Norte ainda continuam em guerra, já que não houve a assinatura de nenhum tratado de paz.

Desde que o regime norte-coreano admitiu possuir armas atômicas em 2002, a tensão entre os dois vizinhos aumentou e, em muitos momentos, temeu-se uma retomada do conflito. Mas para as duas ginastas, isso parece não importar. Mais uma vitória da diplomacia esportiva, que reconhece o país vizinho apenas como adversário e não inimigo.

EGITO E ISRAEL: SEM CUMPRIMENTOS

Os judocas Or Sasson de Israel (de branco) e Islam El Shehaby do Egito em disputa na Rio 2016 (Elsa/Getty Images)

Os judocas Or Sasson de Israel (de branco) e Islam El Shehaby do Egito em disputa na Rio 2016 (Elsa/Getty Images)

Fim da luta entre os judocas Islam El Shehaby, do Egito, e Or Sasson, de Israel, pela categoria acima de 100 quilos na Rio 2016: vitória do israelense por ippon. Mas a disputa em si foi ofuscada pelo momento do cumprimento entre os dois atletas ao final da luta, um ritual que é praxe no judô. Or Sasson estendeu a mão para El Shehaby que ignorou o gesto e deu as costas ao oponente.

“Não tenho nenhum problema com judeus ou com pessoas de qualquer outra religião. Mas, por razões pessoais, você não pode exigir que eu aperte a mão de alguém desse Estado, especialmente em frente do mundo todo”, tentou justificar El Shehaby, que acabou sendo excluído pelo Comitê Olímpico do Egito da delegação do país na Rio 2016.

Como integrante de uma coalizão de países árabes, o Egito já entrou em guerra com Israel em pelo menos três ocasiões diretas: em 1948, imediatamente após a criação do Estado de Israel; em 1967, na Guerra dos Seis Dias; e em 1973, na Guerra do Yom Kippur. Nos três enfrentamentos, Israel saiu vencedor. Nos anos de 1978 e 1979, Egito e Israel assinaram os acordos de Camp David, estabelecendo a paz entre as duas nações. No entanto, ainda há profundos ressentimentos de parte da população egípcia contra o Estado de Israel – feridas que são expostas em episódios como a luta de judô na Rio 2016.

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Veja também: árabes e israelenses: sangue do mesmo sangue

KOSOVO: EM BUSCA DE RECONHECIMENTO

Majlinda Kelmendi, judoca do Kosovo, recebe a medalha de ouro na Rio 2016 (Getty Images)

Majlinda Kelmendi, judoca do Kosovo, recebe a medalha de ouro na Rio 2016 (Getty Images)

A vitória da judoca Majlinda Kelmendi na final da categoria até 52 quilos rendeu à atleta mais do que uma medalha de ouro. Pela primeira vez, Kosovo teve a bandeira hasteada no lugar mais alto de um pódio olímpico, e todos puderam ouvir o seu hino na cerimônia de entrega de medalhas. O feito diz muito para uma pequena república que declarou independência da Sérvia em 2008, mas ainda não obteve o reconhecimento formal como país pela ONU. Já o Comitê Olímpico Internacional admitiu Kosovo como “nação independente” em 2014, autorizando sua estreia na Rio 2016.

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Nos anos 1990, a Guerra dos Balcãs provocou o desmembramento gradual da Iugoslávia, país do qual Kosovo fazia parte. Posteriormente integrada à Sérvia como uma província, Kosovo lutava pela independência, mas o movimento separatista foi duramente reprimido pelas forças sérvias entre 1998 e 1999. No decorrer dos anos 2000, Kosovo conquistou certa autonomia até declarar a independência em 2008, contra a vontade da Sérvia.

Desde então, a nova república tenta afirmar sua soberania no cenário internacional. No total, 113 países já reconheceram a independência – o Brasil segue a posição da ONU, que não considera Kosovo uma nação independente. “Espero que o que fizemos aqui, com essa medalha de ouro, mostre para países que ainda não reconheceram Kosovo que merecemos”, declarou a judoca kosovar após o seu feito esportivo e diplomático.

ETIÓPIA: PROTESTO NA MARATONA

O corredor Feyisa Lilesa da Etiópia protesta com os braços cruzados na chegada da maratona na Rio 2016 (Buda Mendes/Getty Images)

O corredor Feyisa Lilesa da Etiópia protesta com os braços cruzados na chegada da maratona na Rio 2016 (Buda Mendes/Getty Images)

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Na maratona, o corredor etíope Feyisa Lilesa acelerava para garantir o segundo lugar. A poucos metros da chegada, diante dos olhares de todo o mundo, Lilesa cruzou os braços sobre a cabeça, em um gesto pouco compreendido para quem observava a cena. Após conquistar a medalha de prata, o maratonista explicou aos jornalistas: “Foi um sinal de apoio aos manifestantes que foram mortos pelo governo do meu país. Eles fazem o mesmo sinal lá. O governo está matando o meu povo, o povo oromo, gente sem recursos. Talvez me matem quando eu voltar”.

Os oromos constituem o maior grupo étnico da Etiópia, somando um terço da população país. Desde novembro de 2015, eles protestam contra os planos do governo de expandir a capital Adis-Abeba. Isso porque havia a ameaça de que as terras agrícolas dos oromos pudessem ser tomadas pelo governo em nome deste projeto de reurbanização. O plano foi suspenso, mas os protestos não cessaram, pois os oromos se sentem perseguidos e marginalizados pela elite política do país. Segundo a ONG Human Rights Watch, mais de 400 pessoas morreram desde o início das manifestações dos oromos.

O governo etíope rechaçou qualquer perseguição ao atleta e afirmou que Lilesa será bem-recebido quando chegar ao país. Paralelamente, uma campanha feita pela internet arrecadou mais de 100 mil dólares em menos de 24 horas para ajudar o corredor a obter asilo político. Até 25 de agosto, Lilesa permanecia no Brasil e ele chegou a se informar na Polícia Federal sobre a obtenção de asilo político no país.

BRASIL: EXERCENDO A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Faixa de protesto contra o presidente interino Michel Temer é exibida durante o jogo de futebol feminino entre Canadá e França, na Arena Corinthians, pela Rio 2016 (Alexandre Schneider/Getty Images)

Faixa de protesto contra o presidente interino Michel Temer é exibida durante o jogo de futebol feminino entre Canadá e França, na Arena Corinthians, pela Rio 2016 (Alexandre Schneider/Getty Images)

Os países que sediam os Jogos Olímpicos raramente deixam de presenciar protestos populares. Os manifestantes aproveitam a exposição midiática para mandar seu recado ao mundo. Foi assim em Pequim, em 2008, quando os protestos pela independência do Tibete ganharam força e pressionaram o governo chinês. E o Brasil não escapou à regra, ainda mais diante do turbulento cenário político que o país vive. Com a presidente Dilma Rousseff afastada em maio, o vice Michel Temer assumiu interinamente e, desde então, tem sido alvo de manifestações pedindo a sua saída.

Na cerimônia de abertura, ao anunciar o início dos Jogos Olímpicos, Temer foi vaiado pelos expectadores no Maracanã. Durante as competições, era comum encontrar nas arquibancadas faixas e cartazes com os dizeres “Fora Temer”. Nos primeiros dias de competição, os expectadores tiveram as faixas tomadas pela segurança do local de competição e alguns chegaram a ser expulsos por protestar contra o presidente interino. O Comitê Olímpico Internacional deu aval à decisão, anunciando que estavam proibidas as manifestações políticas nas instalações olímpicas.

Mas uma liminar do juiz federal João Augusto Carneiro Araújo, no dia 8 de agosto, reverteu a situação, proibindo a repressão contra os manifestantes, desde que os protestos sejam pacíficos. A decisão tem como base a própria Constituição brasileira que garante a legítima manifestação da liberdade de expressão. Dessa forma, prevaleceu a tese de que nenhum regulamento tem a força de se sobrepor à lei máxima do país.

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