O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou na última terça-feira (8/5) a retirada dos Estados Unidos (EUA) do acordo nuclear com o Irã, assinado em 2015. A decisão de abandonar o pacto havia sido uma promessa de campanha do presidente, que agora deve reimpor as sanções contra o Irã.
Veja a seguir cinco perguntas e resposta para entender o acordo e os impactos da retirada dos EUA.
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1. O que é o acordo?
Em julho de 2015, as principais potências mundiais que compõem o P5+1, grupo formado por EUA, França, Reino Unido, China, Rússia e Alemanha, assinaram um acordo com o Irã para restringir o alcance de seu programa nuclear.
O pacto foi assinado em meio à desconfiança crescente de que o Irã estava prestes a desenvolver armas nucleares, embora o governo iraniano garantisse que seu programa atômico tinha fins pacíficos. Em razão dessa suspeita, várias sanções econômicas internacionais foram aprovadas contra o Irã nos anos anteriores ao acordo.
O pacto, previsto para vigorar até 2013, estabelece o comprometimento do Irã em quatro aspectos principais:
– a redução do estoque de urânio enriquecido acima de 20%, mantendo apenas o enriquecimento a níveis inferiores a 5% – condição que permite a utilização da tecnologia nuclear para aplicações medicinais e geração de energia.
– a verificação de suas instalações nucleares por parte da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
– a redução em dois terços do número de centrífugas que enriquecem o urânio.
– a redução do estoque de urânio enriquecido de 7,5 mil quilos para 300 quilos.
Em contrapartida, foram retiradas sanções comerciais que provocaram perdas significativas na economia iraniana. O embargo ocidental ao petróleo iraniano foi suspenso, e o Irã teve acesso a 100 bilhões de dólares em reservas internacionais que estavam congelados em bancos estrangeiros.
2. Por que os EUA abandonaram o acordo?
Desde sua campanha para presidente, Trump chamava o acordo de “desastroso”. Para o mandatário norte-americano, o Irã representa uma ameaça direta aos interesses geopolíticos dos EUA. Veja os três pontos principais que pesaram em sua decisão:
– o fato de o acordo não contemplar restrições ao desenvolvimento de mísseis balísticos pelo Irã, que podem operar normalmente. Esses mísseis podem ser utilizados tanto para o transporte de artefatos nucleares como serem usados como armas convencionais.
– a intervenção direta do Irã nas guerras da Síria e do Iêmen, onde o país apoia o regime do ditador Bashar al-Assad e os rebeldes houthis, respectivamente. Esse posicionamento do Irã contraria os interesses dos EUA na região.
– a desconfiança de que o Irã estaria burlando o acordo e desenvolvendo seu programa nuclear secretamente. Dias antes da decisão de Trump, o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu apresentou supostas provas de que o regime iraniano mantém ativo seu programa para desenvolver armas atômicas. Muitos analistas consideraram as comprovações frágeis para fazer tais afirmações. Para os inspetores da AIEA, o Irã vem cumprindo normalmente com suas obrigações nucleares.
3. Qual foi a reação internacional à decisão de Trump?
De modo geral, a reação da comunidade internacional à decisão de Trump foi negativa. As únicas exceções foram Israel e Arábia Saudita, principais rivais do Irã no Oriente Médio. Para estas nações, as sanções internacionais contra o Irã representam um importante fator para debilitar a sua economia e, consequentemente, a influência do país na região.
O secretário-geral da ONU, António Guterrez, demonstrou preocupação com a retirada dos EUA do acordo e exortou os outros países signatários a respeitar o acordo feito com o Irã. As potências europeias também se mostram frustradas com a decisão. O presidente francês Emmanuel Macron e a chanceler alemã Angela Merkel ainda tentaram convencer Trump a manter o pacto, mas não conseguiram dissuadi-lo. Para as potencias europeias, ainda que imperfeito, o acordo estava sendo bem-sucedido em manter o Irã longe da bomba atômica, e a suspensão das sanções criou diversas oportunidades de negócios entre as empresas europeias e o Irã.
4. Qual foi a reação do Irã?
O aiatolá Ali Khamenei, líder religioso supremo do Irã, acusou Trump de mentir, enquanto o presidente Hassan Rohani afirmou que, se for necessário, irá começar a enriquecer urânio “muito mais do que antes”. No entanto, ambos sinalizaram estar dispostos a permanecer no pacto, se os outros signatários (França, Reino Unido, Alemanha, China e Rússia). Negociações com as potências devem ser conduzidas nas próximas semanas para saber até que ponto o Irã ainda pode se beneficiar do acordo, mesmo com a saída dos EUA.
5. O que pode acontecer se o pacto for rompido?
Caso não haja entendimento entre o Irã e as demais potências, o rompimento do acordo de forma definitiva pode provocar uma série de instabilidades no cenário internacional
– Petróleo: o anúncio de Trump levou à maior alta no preço do petróleo em três anos e meio. Isso porque a retomada das sanções ao petróleo iraniano deve provocar uma redução da oferta do produto no mercado internacional, o que contribui para elevar o valor do barril.
– Tensão no Irã: no começo do ano o Irã viveu período de protestos populares contra a situação econômica do país, que enfrenta elevada inflação e desemprego. A implementação das sanções deve sufocar ainda mais a economia iraniana e provocar instabilidades internas. Sob forte pressão popular, o regime iraniano tem histórico de violenta repressão.
– Programa nuclear: ao ser traído no acordo nuclear, a tendência é que o Irã retome o programa nuclear, voltando a enriquecer urânio acima do percentual necessário para a produção de energia.
– Tensão regional: além da retomada do programa nuclear do Irã, a participação do país nas guerras da Síria e do Iêmen podem ser ampliadas como resposta do regime ao fim do pacto, desafiando os interesses das potências ocidentais. Arábia Saudita e Israel, rivais do Irã, tenderiam a responder na mesma moeda para conter as ofensivas militares iranianas.
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