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Atualidades no Vestibular

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Acompanhar as notícias - e compreendê-las - é fundamental para quem vai prestar o vestibular. Veja aqui resumos semanais e análises dos acontecimentos mais importantes da semana.

Atualidades e História: 3 fatos internacionais que se relacionam com o passado

Por Fabio Sasaki
Atualizado em 24 fev 2017, 15h02 - Publicado em 6 out 2016, 14h14

“Aqueles que não conhecem a história estão condenados a repeti-la”. Será que a frase atribuída ao filósofo irlandês Edmund Burke (1729-1797) pode ser aplicada nos dias de hoje? Afinal, diversos acontecimentos atuais ecoam fatos que aconteceram décadas e séculos atrás.

Mas, antes de responder, é fundamental fazer uma leitura crítica dos acontecimentos atuais e relacioná-los adequadamente com a História. Por isso, é importante notar não apenas as semelhanças, mas também as diferenças entre esses fatos aparentemente conectados pela História. Esse tipo de análise pode ajudar muito no vestibular e é cada vez mais cobrado pelos examinadores.

A seguir comparamos 3 temas de atualidades com seus respectivos correspondentes históricos:

>> Veja também: História do Brasil e Atualidades: confira 3 temas que unem passado e presente

RÚSSIA E EUA: UMA NOVA GUERRA FRIA?

Atualidades e História: 3 fatos internacionais que se relacionam com o passado
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Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos Estados Unidos, Barack Obama, encontram-se em Nova York, em setembro de 2015 (Chip Somodevilla/Getty Images)

A eclosão da crise na Ucrânia em 2014 voltou a colocar Estados Unidos (EUA) e Rússia em lados opostos em uma disputa geopolítica. A decisão do presidente ucraniano Viktor Yanukovich de rejeitar um acordo comercial com a União Europeia (UE) em favor de um acerto com a Rússia desencadeou violentos protestos. Os EUA, que também tinham interesse no acordo entre UE e Ucrânia, apoiaram as manifestações populares. O presidente Yanukovich acabou sendo deposto, mas, em retaliação à derrubada de seu aliado, a Rússia tomou da Ucrânia a península da Crimeia.

Outro episódio recente que colocou mais lenha na fogueira da rivalidade entre EUA e Rússia é a guerra civil na Síria, iniciada em 2011. Os russos mantêm uma aliança histórica com o regime do ditador sírio Bashar al-Assad. A partir de 2015, a Rússia passou a realizar uma intervenção militar direta para defender Assad, o que foi muito criticado pelos EUA. Seus alvos são as bases do grupo extremista Estado Islâmico (EI) e algumas milícias anti-Assad que recebem apoio direto do governo norte-americano.

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Essas duas ações reacenderam as discussões acerca de uma possível volta da lógica bipolar que caracterizou a Guerra Fria. Após a II Guerra Mundial, abriu-se um confronto ideológico, político, econômico e militar, que dividiu o mundo em dois blocos, com sistemas diferentes: o mundo capitalista, liderado pelos EUA, e o socialista, encabeçado pela União Soviética (URSS). A Guerra Fria durou até o fim da URSS, em 1991, que se desmembrou e deu origem à Rússia e a outras repúblicas.

Nesta década, a partir das intervenções na Ucrânia e na Síria, a Rússia tenta retomar o protagonismo internacional, reacendendo a rivalidade com os EUA. Estaríamos vivendo uma nova Guerra Fria? Apesar de alguns paralelos históricos serem evidentes, também há fortes argumentos para crer que tal comparação é exagerada. Afinal, não temos mais a disputa econômica e ideológica que caracterizou a Guerra Fria, opondo capitalismo e socialismo: desde o fim da URSS, a Rússia adotou o sistema capitalista, ainda que mantenha forte intervenção do Estado. Além disso, o mundo hoje está mais multipolar, com outros atores importantes na arena geopolítica, mais notadamente a China. Em suma, é fato que a rivalidade entre EUA e Rússia está mais acirrada do que na década passada, mas a  complexidade no atual cenário internacional impede a formação de dois blocos distintos em disputa por hegemonia, como ocorreu na Guerra Fria.

ESTADO ISLÂMICO: SUPOSTO CALIFADO NÃO É ESTADO, NEM É ISLÂMICO

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Militante do Estado Islâmico (imagem: iStock)

O Estado Islâmico (EI) é considerado a organização extremista mais poderosa da história. Adotando táticas cruéis de dominação e promovendo atentados terroristas em diversas partes do mundo, o EI controla atualmente uma vasta região na Síria e no Iraque. O grupo começou a ganhar evidência a partir de 2014, quando seus líderes proclamaram a criação de um califado nos territórios ocupados.

O califado é uma referência aos antigos impérios islâmicos surgidos após a morte do profeta Maomé. O último califado foi o Império Otomano. Sob a liderança de Otman, um grupo de turcos nômades assumiu o controle da região que faz a ligação entre a Ásia e a Europa, conhecida como Anatólia, e iniciou a expansão a partir de 1299. Foi criado um Estado militarista, que travou uma guerra santa contra seus vizinhos. Em 1453, coube a Maomé II, o Conquistador, liderar os otomanos em seu maior feito: colocar um fim aos 1.100 anos do Império Bizantino com a tomada de Constantinopla.

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No século XVI, sob a liderança de Solimão I, o Magnífico, o Império conquistou as áreas entre o Mar Vermelho e a Bósnia, alcançando sua maior extensão. Mas no século XVII veio a crise. O Império começou a se fragmentar em 1800 até ser abolido em 1922, como consequência dos conflitos da I Guerra Mundial.

No século XXI, o EI força a barra ao autoproclamar-se um calfifado. O fato é que o EI não é um Estado, nem é islâmico. Apesar de ter uma gestão com governo próprio, este suposto califado carece de legitimidade mesmo dentro do mundo árabe-muçulmano. Todas as organizações islâmicas e nações muçulmanas condenam o EI – a maioria das vítimas das atrocidades do grupo são os próprios muçulmanos. Mesmo que seus membros se considerem islâmicos sunitas, eles são incapazes de representar toda a diversidade da comunidade islâmica, formada por 1,7 bilhão de adeptos.

MUROS NA EUROPA: DO FEUDALISMO À CRISE DOS REFUGIADOS

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Crianças refugiadas em frente à barreira na cidade de Horgos, na fronteira entre a Sérvia e a Hungria, em julho de 2016 (Matt Cardy/Getty Images)

Em um dos mais intensos fluxos migratórios atualmente, milhares de pessoas fogem da guerra civil na Síria em busca de melhores condições de vida na Europa. No entanto, governantes de muitos países têm se posicionado abertamente contra a chegada desses refugiados. O governo nacionalista da Hungria, por exemplo, decidiu construir uma cerca de 175 quilômetros em sua fronteira com a Sérvia e aprovou um conjunto de leis que facilitam a detenção e a deportação de imigrantes ilegais. O erguimento de cercas também foi seguido por outros países, como Áustria e Eslovênia. Por trás dessas medidas, os nacionalistas alegam que os estrangeiros que chegam à Europa sobrecarregam os serviços públicos e as vagas no mercado de trabalho. Além disso, o primeiro-ministro da Hungria, o conservador Viktor Orbán, disse que suas ações visam a “defender a cultura da Hungria e da Europa”, em referência à chegada de refugiados, em sua maioria muçulmanos, a países cristãos.

Em diferentes proporções e em outro momento histórico, a Europa viveu um período de proliferação de muros. Após a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, ninguém se sentia seguro nas cidades. A onda de invasões bárbaras levou os nobres a construírem castelos e erguerem barreiras, em torno dos quais a população pobre se instalou, buscando proteção. Era o início do feudalismo. Já na decadência feudal, a busca por segurança também levou os comerciantes que se reuniam nos cruzamentos de rotas de comércio a murar a área que eles ocupavam. Esse processo deu origem a vários burgos e foi a base do Renascimento Comercial e Urbano na Baixa Idade Média.

Muros, cercas e barreiras carregam consigo um forte simbolismo: o erguimento dessas construções tem o propósito de dividir áreas e restringir o livre trânsito de pessoas. Geralmente utilizados com o pretexto de proteger seus territórios e limitar o acesso a determinadas regiões, os muros fazem parte da paisagem europeia em diferentes períodos históricos. Mas note que, no caso dos nobres e dos comerciantes feudais, a razão desse isolacionismo era proteger-se de bárbaros e saqueadores. Já uma parcela dos atuais governantes europeus vê nos refugiados sírios uma suposta ameaça aos empregos e a uma dita “unidade cultural”.

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