Temas que podem cair na prova
A redação é uma parte diferenciada dos vestibulares, e a expectativa quanto ao tema da prova costuma resultar em uma dose extra de ansiedade, principalmente no Enem. Nela, o candidato deve apresentar a famosa proposta de
intervenção social, e quem não tem repertório próprio perde pontos.
As universidades possuem autonomia para buscar os alunos mais promissores, que possam produzir conhecimentos para a própria instituição e para a sociedade. Você talvez não goste do que vamos dizer: a universidade quer saber
se ela precisa de você o quanto você precisa dela; entre outros motivos, porque a formação das salas faz diferença imensa no resultado de cada turma do curso superior! Então, o que fazer? É o que veremos aqui, entre dicas para
se aprimorar e temas possíveis para as próximas provas, com possibilidades de argumentação.
Como conseguir repertório Nas dissertações é preciso que você expresse uma reflexão sobre o assunto e um ponto de vista. Para isso é a essencial ter o chamado repertório, que é familiaridade com os temas para refletir. Veja sugestões nossas e dos professores convidados Yeso Osawa, do Curso Positivo, de Curitiba, e Thiago Braga, do Colégio e Curso PH, do Rio de Janeiro.
Tipos de Temas Um bom início é observar quais tipos de temas são solicitados nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e da universidade em que você quer estudar, pois cada uma habitualmente adota uma linha.
Podem ser temas sociais, como nos anos recentes no Enem, mas podem também pedir temas mais pessoais, filosóficos ou ambientais. Nos anos recentes, estão em alta questões que transitam entre o mundo real e o virtual.
Procure se informar em conteúdos de áreas de temas das provas com as quais você não tem familiaridade. Baixe provas das instituições que você quer: em várias, a prova inteira é coletânea para a redação, como são os casos da PUC-Rio, PUC- São Paulo e ITA, já trazendo diferentes aspectos do tema. Se a prova da instituição que você pretende é assim, você já pode reduzir um pouco sua ansiedade.
Leituras Busque ler principalmente reportagens, editoriais dos jornais e textos analíticos autorais. As reportagens mais profundas e completas são publicadas nas edições de fim de semana de jornais, em revistas semanais e veículos
mensais. Se você está muito por fora em todas as áreas, reveze assuntos de uma área de cada vez, alternando.
“A leitura de fatos do cotidiano deve ser constante. Recomenda-se a leitura de pelo menos um artigo jornalístico por dia, em um momento que não se está estudando”, diz Thiago. “O estudante não deve deixar de ler diariamente”, orienta Yeso. “Não adianta ler uma revista quatro horas seguidas e tornar a ler apenas dali a um mês. Isso não tem
efeito prático para formar repertório. É fundamental que haja um tempo diário reservado para isso, mesmo que seja pequeno, para que a mente fuja ao discurso das apostilas e das lições. Nessa leitura – que pode ser pequena – também se forma um poderoso repertório”, afirma. “É preciso ler continuamente e treinar redação de forma constante, mas saber perceber seus limites. Sempre há momentos em que há pouco ou nenhum rendimento – é o momento de descansar”, sugere Yeso.
Selecione as Fontes de Informação
Escolha, em papel ou internet, veículos de informação confiáveis de que você mais gosta.
Se você precisar usar a Wikipédia por algum motivo, para buscar algum assunto, verifique os links que cada artigo costuma trazer ao pé do arquivo, para verificar as fontes usadas, pois elas podem interessar. Se a própria Wikipédia informa, ao alto, que o texto não traz fontes ou coloca outra objeção, abandone: a Wikipédia é apenas um caminho aberto e colaborativo, tem coisas boas e ruins; qualquer um escreve o que quer e ela não é fonte final confiável.
Procure diferentes visões É fundamental ter acesso a diferentes pontos de vista sobre cada assunto para obter
capacidade de crítica e, assim, fugir da tendência que existe atualmente nas redes sociais de engessamento de opiniões.
Ter uma visão mais ampla dos temas é fundamental. Note, por exemplo, o que ocorre no Enem quando tudo parece resolvido na coletânea, como aconteceu em 2013 com Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil. Quem não tinha contrapontos a apresentar não soube como refletir ou fazer alguma proposta de intervenção. Em 2015, com o tema A
persistência da violência contra a mulher no Brasil, a coletânea estava ancorada em números relativos à Lei Maria da Penha; por causa disso, tinha mais chances de obter os 200 pontos na competência 5 quem trouxe outras propostas de intervenção que não apenas leis mais severas.
Atuação Colaborativa: Forme um grupo de estudo. O grupo otimiza seu acesso de conteúdos e formação de opinião. Cada um pode pesquisar assunto de uma área e, depois, compartilhar ao grupo para discutir. Pode ser semanalmente, quinzenalmente, o grupo define. Fazer resumo do que encontrou para leitura aos outros ajuda você a dominar técnicas narrativas e dissertativas e turbina o processo para todos. Estender o grupo na plataforma WhatsApp ou Facebook pode ser interessante para incorporar amigos distantes e incluir os professores.
Ferramentas novas: Thiago sugere aos alunos do Curso pH abrir uma conta extra no Twitter para receber notícias
de boas fontes de informação, como agências de notícias, jornais, revistas e bons blogueiros, além de acompanhar as notificações das universidades para o vestibular.
Nas Atividades de lazer: Prefira filmes, bons documentários e quadrinhos recomendados por seu tema e qualidade. Damos indicações em nossas duas edições semestrais do GUIA DO ESTUDANTE ATUALIDADES DO
VESTIBULAR + ENEM.
Professoooor… Peça ajuda e orientação de seus professores de língua portuguesa e ciências humanas, como
sugestões de leituras não previstas no currículo ou complementares aos temas estudados de que você gostou, ou ainda de assuntos que procurando.
Nas próximas páginas você encontrará temas possíveis para as próximas provas sugeridas pelo guia, pelos professores já citados nesta reportagem, e por Eclícia Pereira, do Cursinho da Poli; Ítalo Paganotti, do Colégio Dante
Alighieri; e Luciano Segura, do Curso Intergraus, em São Paulo.
Construa seu repertório
Selecionamos para você fatos atuais que podem ser tema nas próximas provas de redação
Corrupção:
Delações premiada abalam o governo
A crise política iniciada em 2014, com a Operação Lava Jato da Polícia Federal, agravou-se em 2017 após o início da divulgação das delações premiadas de 77 executivos, diretores e do presidente da construtora Odebrecht, Marcelo Odebrecht. Elas indicam corrupção no governo federal, nos governos estaduais e no Congresso, e era chamada na esfera política de “A delação do fim do mundo”. Pareceu que nada podia ficar pior, quando, a seguir, estouraram gravações de consequências ainda mais graves na delação premiada dos proprietários do grupo JBS, Joesley Mendonça Batista e Wesley Mendonça Batista. O grupo JBS é um dos maiores grupos frigoríficos do país, dono de muitas marcas de alimentos, entre elas a Seara, a Friboi e a Swift. Seus proprietários reivindicaram ter direito de fazer delação premiada, definido em lei, diretamente ao Ministério Público Federal, fora da esfera das investigações
da Lava Jato. Suas delações envolviam a Presidência da República.
As investigações da Lava Jato começaram para apurar desvio de dinheiro na Petrobras. Elas revelaram um grande esquema de desvio de recursos públicos envolvendo funcionários da estatal, políticos e grandes construtoras. O dinheiro obtido ilegalmente pelas empresas era transferido a servidores e políticos na forma de doações a campanhas eleitorais, caixa 2 e propinas, enriquecia agentes públicos e os empresários. Em outubro de 2016, a operação levou à prisão o então deputado e presidente da Câmara federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no mês seguinte, foi a vez do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, do mesmo partido. Pelas delações da Odebrecht, ficou-se sabendo que houve corrupção na construção dos estádios da Copa do Mundo de 2014, por exemplo. As investigações já abrangem dezenas de deputados e também senadores.
Delatores corruptos premiados?
As delações dos donos da JBS agravaram a crise, pois incluíram gravações que levaram o Supremo Tribunal Federal a autorizar abertura de inquérito (investigação) contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), e contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Contudo, até então, nas operações anteriores, os delatores iam para a cadeia ou ficavam em prisão domiciliar. Não foi o caso para os donos da JBS, o que levou a questionamentos: por que o Ministério Público está deixando os corruptores livres, sujeitos apenas a pagamento de multas? A delação é uma postura aceitável eticamente? Ela é condenada, por exemplo, no filme Perfume de Mulher e, quando o assistimos, percebemos que o diretor do filme acredita que está nos convencendo com essa avaliação. No filme, o estudante Charlie Simms é acusado em tribunal disciplinar do colégio porque se recusa a delatar colegas de classe e é inicialmente punido, enquanto outro aluno torna-se delator e é premiado. O ex-militar Frank Slade defende Charlie e consegue reverter sua condenação indicando sua integridade moral, e condenando a premiação do delator.
Quem delata alguém, principalmente um parceiro, é comumente chamado também de alcaguete, vira-casaca, traíra, traidor, palavras que indicam que a sociedade tem para a delação um sentido de condenação moral. A delação premiada sugere rompimento com um princípio ético consagrado, o de que “os fins não justificam os meios”: a delação, moralmente questionável, foi o meio encontrado pelos empresários para tentar evitar a prisão. Então porque ela é aceita pela justiça?
A delação de pessoas e das empresas (nesse caso chamada de acordos de leniência) passa a ser aceita pela Justiça dos países depois de sua instituição por leis. No Brasil, os dois tipos foram regulamentados por leis aprovadas pelo Congresso e sancionadas pela presidente Dilma Roussef. Leis como essas existem em outros países, como os Estados Unidos e nações da União Europeia. Elas são adotadas pelos governos para fazer frente a crimes que são difíceis de identificar e punir, mas o delator deve apresentar denúncias e provas contra pessoas em escalões mais
elevados de poder e decisão.
Direitos dos Índios:
Ruralistas avançam contra as terras indígenas
Os últimos anos têm sido marcados por uma ofensiva da chamada bancada ruralista (fazendeiros ou seus aliados) no Congresso nacional no sentido de rever direitos indígenas consagrados na Constituição de 1988. Esta, pela primeira vez na história do país, definiu que os povos indígenas têm direito sobre suas terras originalmente ocupadas, sua cultura e tradições. Os ruralistas sempre pressionaram para a aprovação de leis que lhes permitissem questionar esses direitos, principalmente a posse de terras. E essa pressão tornou-se uma ofensiva especialmente forte em 2016 e 2017.
No início, a pressão se deu por uma proposta de Emenda Constitucional (a PEC 215/2000) enviada à Câmara pelo
então presidente Fernando Henrique Cardoso. Essa proposta tramitava desde então, recebendo emendas. Em sua versão final o texto passou a incluir a transferência da Presidência da República para o Congresso da palavra final na demarcação das terras indígenas. Também passou a incluir a extinção da Fundação Nacional do Índio (Funai) principal órgão de condução das demarcações. Essa proposta provocou forte reação das instituições de defesa
dos índios e do meio ambiente, entre elas o Conselho Indigenista Missionário, da Igreja Católica. Aprovada na Câmara pelos ruralistas, a PEC 215 foi barrada no Senado, onde permanecia em meados de 2017.
Os ruralistas não recuaram e conseguiram criar na Câmara dos Deputados uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para investigar a Funai e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), pois eles questionam também os assentamentos da reforma agrária e a regularização legal das terras de Comunidades Quilombolas. A CPI estava em andamento na Câmara federal em 2017.
O poder da bancada ruralista no Congresso deriva da importância do agronegócio para a economia do país. Ele representa 20% do Produto Interno Bruto anual brasileiro e as exportações são crescentes. Faz parte da atuação
da bancada ruralista pressionar para a aprovação de leis de seu interesse e que permita a expansão das terras de
cultivo e criações animais.
Veja alguns aspectos para dissertar:
• É possível às comunidades indígenas preservar sua cultura sem o modo de vida que têm em suas terras?
• É necessário diminuir a extensão de terras indígenas para ampliar fazendas e a produção de alimentos, ou são possíveis outras soluções?
• Qual é a importância das culturas indígenas para a formação da brasilidade: nossa culinária, nosso vocabulário, nossos nomes e costumes?
Saiu na imprensa:
Índios fecham esplanada e entram em conflito com PM em ato por Demarcação
Indígenas acampados em Brasília fecharam a Esplanada dos Ministérios durante uma marcha até o Congresso Nacional, na tarde desta terça-feira (25). A caminhada começou às 15h. Por volta das 15h30, os índios desceram correndo o gramado em frente ao Congresso e foram impedidos por policiais da Tropa de Choque de acessar a entrada que dá acesso à Câmara e ao Senado.
De acordo com a Polícia Militar, 2 mil índios participaram da manifestação. (…) O grupo protesta contra o governo do presidente Michel Temer e reivindica o avanço na demarcação de terras indígenas. Índios de diferentes etnias estão reunidos em Brasília para a 14ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL). O objetivo é pedir mais respeito à natureza e à demarcação de terras. O evento é promovido pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e deve se estender até a próxima sexta-feira (28). (…)
A manifestação terminou às 18h. As vias foram liberadas e os indígenas voltaram para o acampamento montado em uma área próxima ao Teatro Nacional, onde pretendem ficar até o fim da semana.
Portal G1, 25/4/2017
Demografia:
Desafios do envelhecimento das populações
A população mundial está aumentando e envelhecendo. A população atual de 7,3 bilhões deverá atingir 8,5 bilhões em 2030, 9,7 bilhões em 2050 e 11,2 bilhões em 2100, conforme a última estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU). O crescimento populacional gera grandes desafios para a sociedade e os governos, e não é diferente para o Brasil. O país já possui a quinta maior população mundial, de 206 milhões de pessoas em 2016, e deverá ter 226 milhões em 2050, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografa e Estatística. O aumento no número de idosos pressiona os sistemas públicos de saúde e da Previdência Social.
O envelhecimento da população acompanha o desenvolvimento econômico e social. Ele é provocado principalmente pela queda da taxa de fertilidade (diminui o número de filhos por mulher), pela queda nas taxas de mortalidade em todas as faixas etárias e, principalmente, pelo aumento da expectativa de vida. Como resultado, tem início a chamada transição demográfica e a população começa a envelhecer. O Brasil está nessa transição.
A transição demográfica em cada país tem início quando o desenvolvimento econômico e social avança e ele deixa de ter altas taxas tanto de fertilidade quanto de mortalidade. A população jovem e adulta começa a crescer e, no início,
ocorre uma janela de oportunidades na economia, chamada de bônus demográfico: é o período em que a quantidade
de jovens e adultos aptos a trabalhar é maior do que a soma de crianças e idosos.
No Brasil, essa janela está se fechando. Esse é um dos argumentos utilizados pelos que apoiam reformas da Previdência Social: a quantidade de pessoas idosas e aposentadas está crescendo mais rapidamente do que a de jovens e adultos que paguem ao governo para garantir essas aposentadorias. Esse debate, porém, é complexo, pois há diferentes formas de se constituírem programas de aposentadorias. No Brasil, as aposentadorias são apenas uma parte da Previdência Social, definida pela Constituição. Ela inclui também auxílio-doença, diferentes pensões e o seguro-desemprego, por exemplo. Países como a Alemanha, Japão e França, em que essa questão também é enfrentada, criam programas de estímulo à gravidez para casais, por exemplo, e permitem a entrada de imigrantes para garantir o crescimento da economia e o custeio das aposentadorias.
A concepção de nosso sistema previdenciário é chamada de solidária: o trabalhador que paga a Previdência não
está fazendo uma poupança para a sua aposentadoria, mas sustentando quem já se aposentou. Há quem acredite que as aposentadorias deveriam ser pessoais, cada um pagaria a sua própria; ou, ao contrário, que deve ser uma política
pública priorizada pelo Estado, na qual o governo cobriria as receitas sempre que necessário. Há ainda quem defenda o atual modelo brasileiro, no qual são feitos ajustes e mudanças dos critérios ao longo do tempo.
Em 2017, o Congresso discutia uma nova e radical proposta de reforma, enviada pela Presidência, que aumenta as exigências aos trabalhadores contribuintes para obter a aposentadoria. Essas exigências seriam necessárias, segundo
o novo governo, em razão de um déficit crescente, resultante do aumento no número de aposentados e de receitas insuficientes. Os críticos da proposta afirmam que elas punem os trabalhadores e que o governo deveria criar mecanismos para aumentar a arrecadação.
Saiu na imprensa
O que é a reforma Da Previdência de Temer
Por Bruno Lupion
O governo federal enviou no dia 6 de dezembro de 2016 à Câmara dos Deputados sua proposta de reforma da Previdência. Ela altera as regras sobre quando as pessoas podem se aposentar e quanto elas vão receber. O texto agora enfrentará um longo processo de debate e tramitação no Congresso, com a participação de centrais sindicais e outros atores envolvidos no tema. Ao mesmo tempo em que apresentou a medida, o Palácio do Planalto lançou uma campanha publicitária para tentar convencer o público a apoiar a reforma da Previdência. O argumento central
do governo é que, se as regras atuais forem mantidas, em breve não haverá mais dinheiro suficiente para pagar aposentadorias e benefícios sociais vinculados à Previdência, como salário-maternidade e auxílio-doença.
Nexo Jornal 27/4/2017
Segurança pública:
O Brasil enfrenta violência cíclica
O Brasil está consolidando sua triste posição como o país mais violento do mundo em quantidade total de assassinatos, com mais de 50 mil vítimas anualmente. Esse quadro de violência social se dissemina das ruas para as penitenciárias, tomadas por facções, nas quais repetidas rebeliões e confrontos entre elas deixam dezenas de mortos. Finalmente, a violenta atuação das polícias brasileiras agrava esse problema de segurança pública.
A violência em seus diversos tipos de ocorrências (roubo, assalto, homicídios e outros) é mais habitualmente medida pela taxa de ocorrência por 100 mil habitantes. Em 2012, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde, o Brasil aparecia na 11ª posição no mundo, com 29 assassinatos por 100 mil habitantes. O país estava atrás de nações da América Central e Caribe e alguns países africanos. Porém, foram mais de 56 mil homicídios naquele ano, a pior situação mundial em números abisolutados, superior a dos Estados Unidos e Índia, por exemplo, que têm populações muito maiores. Os homicídios no Brasil aumentam sem parar há décadas. Eram 15 mil em 1982, e
passaram de 59 mil em 2015, recorde na história do país.
Guerra de facções
Uma das razões da violência é a atuação das organizações criminosas do tráfico de drogas e de armas nas periferias pobres e favelas. Elas lutam entre si e com a polícia. O combate policial a esses grupos leva dirigentes das facções para as penitenciárias, onde eles conseguem novos comandados. Facções surgidas em São Paulo, Rio de Janeiro
e outros estados disputam o controle dentro das penitenciárias e também do próprio tráfico fora delas. Uma das
razões da disseminação das facções foi a política federal de transferir presos perigosos para presídios distantes de
seus estados e territórios de origem, pois, quando um líder é transferido de estado, comandados mudam-se para lá,
para voltar a estabelecer laços com o dirigente e, nessa mudança, criam novas áreas de atuação. A violência nas penitenciárias brasileiras atingiu o patamar de barbárie. Apenas nos primeiros 15 dias de janeiro de 2017, 134 detentos foram assassinados em rebeliões no Amazonas, Roraima e Rio Grande do Norte, em guerras de facções.
Prisões superlotadas
As penitenciárias brasileiras são superlotadas e desumanas. Uma das razões foi a política de endurecer as leis contra as drogas. As prisões dispararam com uma legislação dúbia em que a ordem de prisão fica a critério da interpretação de cada juiz. De 2000 para 2016, o número de detidos passou de 232 mil para 654 mil. Desse total, 221 mil estavam presos em 2016 sem terem sido julgados, em razão da morosidade da Justiça.
A adoção de políticas de policiamento ostensivo, que contribui para lotar as prisões, chama a atenção dos observa-
dores também por sua letalidade incomum. As polícias brasileiras matam mais que a dos Estados Unidos, por exemplo. Apenas em 2014, foram 3.009 civis mortos pela polícia, em casos quase sempre registrados como “resistência à prisão” nos boletins de ocorrência.
Saiu na imprensa
Gasto com compra de fuzis para polícia de sp cresce 73 vezes entre 2015 e 2017
por Bruno Ribeiro
Os gastos do governo de São Paulo com a compra de fuzis para as polícias neste ano já são 73 vezes maiores do que os realizados nos últimos dois anos. Em 2017, foram R$ 11,5 milhões investidos nesse tipo de armamento pesado, ante R$ 155 mil gastos em 2015 – em 2016, não houve compras. Os dados são da Secretaria Estadual da Fazenda, disponíveis no Portal da Transparência.
A Secretaria Estadual da Segurança Pública afirma que as compras não fazem parte de nenhum plano diferenciado do governo e o armamento está sendo distribuído para batalhões especiais do Estado. (…)
O porte desse armamento, por si, não é alvo de críticas dos especialistas consultados pelo Estado de S. Paulo. A ressalva é quanto à forma de uso. O presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, afirma que se esses equipamentos forem distribuídos nos batalhões especiais, que ficam aquartelados e só são acionados em situações atípicas, não há problemas mais graves. “Agora, se forem usados como equipamento padrão, para o uso cotidiano, podemos ter efeitos ruins, como acontece no Rio, onde o fuzil é um equipamento padrão.”
Agência Estadão Conteúdo, 15/5/2017
Problemas midiáticos:
Cresce a preocupação com notícias falsas
A disseminação generalizada de informações falsas deixou de ser apenas uma característica indesejável do mundo virtual e tornou-se um problema tanto econômico quanto político em grau elevado, em 2016 e 2017. As notícias falsas (fake news, em inglês) surgiram inicialmente apenas em sites caça-níqueis, que buscam audiência na internet para conseguir o dinheiro da publicidade, ou de humor, mas invadiram o universo político. Suspeita-se que tenham influenciado os eleitores do Reino Unido a votarem “sim” no plebiscito do Brexit, que decidiu a saída do país da União Europeia, e também na vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, em 2016.
Os dois casos acenderam um sinal de alerta e preocupação com as eleições na França e na Alemanha em 2017.
Pressionados por governos, políticos, empresas e a mídia exigindo alguma medida, os dois maiores gigantes da internet, o Google e o Facebook, decidiram se mexer e começaram a adotar ferramentas para contra-atacar os sites
que propagam mentiras. Um dos aspectos importantes a discutir na disseminação de mentiras pelas redes sociais é quanto aos limites da liberdade de expressão. Um dos principais sites de notícias falsas dos Estados Unidos é de humor. O site satírico
A Última linha de defesa da América fatos absolutamente inventados. Seus autores dizem que pretendem expor a
cegueira, o ódio extremo e a ignorância que contaminam a direita norte-americana. Afirmam que é tudo mentira e completam: “Em outras palavras, se você acredita nesta porcaria, você é um perfeito idiota”.
Ocorre que uma pesquisa a respeito no país indicou que notícias falsas chegam a enganar até 75% das pessoas. Há também aspectos éticos: por que as pessoas parecem gostar de compartilhar mentiras ou fatos ruins a respeito de outras? Por que não se sentem responsáveis por compartilhar essas notícias?
ONU diz que “Notícias falsas” representam Uma preocupação global
Da ONU News
Relatores especiais da ONU sobre liberdade de expressão divulgaram hoje (3) uma declaração conjunta afirmando que as “notícias falsas” (“fake news”, em inglês), a desinformação e a propaganda representam uma preocupação global. Além das Nações Unidas, o comunicado foi assinado também pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pela Organização para Cooperação e Segurança na Europa e pela Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos. (…)
Segundo David Kaye, relator especial da ONU sobre o direito à liberdade de opinião e expressão, as “fake news” tornaram-se um assunto de preocupação global e que os esforços para combatê-las podem levar à censura. Segundo ele, há o risco também da supressão do pensamento crítico e de outras abordagens contrárias à lei de direitos humanos. A declaração encoraja a promoção da diversidade na mídia e enfatiza o papel das redes sociais, da mídia digital, e também de jornalistas e dos meios de comunicação.
Agência Brasil, 3/3/2017
Acompanhe os temas da Atualizada É essencial atualizar-se sobre grandes temas atuais, como os apresentados
nesta reportagem. Para entender cada assunto é importante saber dos antecedentes históricos de cada um, acompanhar seu desenvolvimento na imprensa semanalmente e o desfecho, quando há, com diferentes análises sobre seus significados e consequências. Isso não é tarefa simples para quem está no terceiro ano do Ensino Médio ou fazendo cursinho. Uma publicação que pode ajudar nessa função é o GUIA DO ESTUDANTE ATUALIDADES,
publicado em duas edições, em março e agosto. O guia traz fatos do Brasil e do mundo, analisados em uma
linguagem acessível, ideal para quem não tem o costume de ler jornais e revistas.
Redes sociais:
Diálogos surdos
A democratização do acesso à informação no Brasil contemporâneo garante o desenvolvimento das pessoas? A pergunta foi feita por Thiago Braga, coordenador de redação do Colégio e Curso PH, no Rio de Janeiro, em uma proposta de dissertação. Ao guia, o professor esclarece que sua intenção foi fazer os alunos refletirem sobre uma tendência que se dissemina nas novas plataformas de comunicação: a falta de diálogo verdadeiro sobre problemas e questões que surgem, e o acirramento de posições.
“Em uma sociedade em risco, o medo e as incertezas propagam os discursos radicais”, opina Luciano Ricardo Segura, professor de redação do Curso Inter-graus, em São Paulo. “Hoje a história não é contada apenas pelos poderosos, mas por todo aquele que deseja manifestar-se (graças à internet), mas não faltam casos em que essa suposta democracia nos meios digitais acaba criando repetidos espaços, lugares de discurso uniforme, em que a discussão ou a discordância não encontram presença”, disse ao guia.
Os professores destacaram esse tema entre os que estão na chamada “ordem do dia” da sociedade e que podem cair nas provas de redação. Os espaços com posições monolíticas surgem principalmente em grupos do WhatsApp, Facebook, entre outros caminhos digitais.
Uma pesquisa feita nos Estados Unidos revelou que as pessoas tendem cada vez mais a acessar apenas aquilo de que gostam ou que trazem títulos que confirmam aquilo em que elas já acreditam. Pode parecer natural, diante do volume de informações veiculado. Mas esses dois vieses trazem, como possível resultado, diminuir a diversidade de conteúdos e opiniões novos que a pessoa poderia estar acessando em uma verdadeira democracia de informação, o que a deixa ainda mais exposta a não atualizar sua posição quanto aos temas colocados. É um terreno fértil para polarizações de opinião.
ENEM
2016 Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil.
2015 A persistência da violência contra a mulher no Brasil .
2014 Publicidade infantil em questão no Brasil.
2013 Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil.
2012 O movimento imigratório para o Brasil no século XXI.
2011 Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado.
2010 O trabalho na construção da dignidade humana.
2009 O indivíduo frente à ética nacional.
2019 Valorização do idoso (prova cancelada).
Fuvest
2017 O Homem saiu de sua menoridade?
2016 As utopias: indispensáveis, inúteis ou nocivas?
2015 “Camarotização” da sociedade brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia.
2014 Os idosos e o direito à assistência pública em meio ao liberalismo econômico.
2013 Aproveite o melhor que o mundo tem a oferecer com o cartão de crédito.
Unicamp
2017 O Brasil cordial e a presença de estrangeiros no Brasil (carta opinativa); Apresentação de uma campanha solidária de arrecadação de fundos.
2016 Resenha de fábula moral de La Fontaine/Texto de divulgação científica em neurologia.
2015 Síntese de leituras sobre Humanização da saúde/Carta-convite à comunidade escolar para resolução de conflitos.
2014 Relatório de um projeto de uma oficina cultural/Carta à prefeitura exigindo ações de mobilidade urbana.
2013 Otimismo e pessimismo/Álcool na adolescência.
2012 Pesquisas e espaços de opinião/ Educação, redes sociais, o espaço público e o privado/Computação em nuvem, segurança de acesso à internet.
UFRGS
2017 O que é ter estilo?
2016 O livro na era da digitalização do escrito e da adoção de novas ferramentas de leitura.
2015 Na sua opinião, o que é a amizade nos dias de hoje?
2014 Qual o livro clássico da sua vida?
2013 O papel e os limites do humor na sociedade.
2012 Língua portuguesa: herança, memória, criação.
Mais provas de 2017 e 2016 – 2ª Semestre
PUC-Rio 2017 – Prova 1 A necessidade do ser humano de viver transformações e de mudar o mundo a sua volta. Prova 2 É possível (recomendável, viável, desejável) – ou não – responder às agressões do mundo contemporâneo com afeto (?)
PUC-SP 2017 Expectativas de mudanças apresentadas pela ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal.
PUC-SP 2016 2ª Semestre. A necessidade de planejamento prévio em transporte: carro versus transporte público.
UECE 2016 2ª Semestre – Proposta 1 Crônica sobre algum(ns) fato(s) do cotidiano do lugar onde você mora (cidade, vila ou comunidade rural). Proposta 2 Artigo de opinião discutindo questões relevantes relacionadas à vida do lugar onde você mora (cidade, vila ou comunidade rural).
UNESP 2017 A riqueza de poucos beneficia a sociedade inteira?
UERJ 2017 Rio de Janeiro: Cidade Maravilhosa para quem?
UNIFESP 2017 O voto nulo é um ato político Eficaz?
O que dizem as imagens
Fotografas, charges, mapas, infografias e outras formas de linguagens visuais e não verbais estão definitivamente incorporadas às propostas de redação dos vestibulares e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). É preciso habituar-se a interpretar essas imagens e associá-las aos textos. Aqui você vê possibilidades de abordagens de duas
propostas recentes de provas.
proposta de redação:
O conceito de família proposto pelo estatuto da família: discriminação contra outros arranjos familiares?
A proposta de redação do vestibular da Unesp, aplicada em junho de 2016, trazia apenas um comando: Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema. Essa pretendia discutir o projeto de lei do Estatuto da Família, aprovado por comissão especial da Câmara.
Além da charge da cartunista Laerte, a coletânea trazia outros quatro textos verbais, dos quais o segundo transcrevia a definição mais polêmica do Projeto de Lei no 6.583, de 2013 (Estatuto da Família):
Para os fins desta Lei, define-se família como o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
O projeto então aprovado desconsiderava outros arranjos, como os das pessoas do mesmo sexo, ou a união entre três ou mais pessoas, que existem no país. Havia ainda texto a favor e contrário a essa definição do estatuto.
Em sua charge, Laerte desenhou um cadinho siderúrgico, equipamento no qual os minérios são derretidos e, depois, o metal líquido é despejado em moldes de fabricação de peças. Dois engravatados e uma mulher, que representam os deputados federais, se esforçam para tentar virar o cadinho e despejar a população em seu molde de padrão familiar conservador: papai e mamãe, filho e filha. Porém, as pessoas parecem agarrar-se umas às outras, ajudando-se, por não desejarem se sujeitar a isso.
Opção de abordagem
Em sua dissertação, o vestibulando poderia se apropriar da sugestão da autora, de que são criadas leis que pretendem moldar a vida dos cidadãos segundo concepções específicas que desconsideram outras e a própria realidade da existência de outros arranjos familiares. A aprovação de lei, nesses moldes, ameaçaria a garantia de eventuais direitos. Porém, o Supremo Tribunal Federal já havia deliberado que os direitos dos casais homoafetivos são os mesmos dos heterossexuais. Esse projeto de lei continuava em trâmite na Câmara dos Deputados em 2017.
Proposta de redação
Observe, com atenção, o mapa. O relatório da FAO-ONU, divulgado em 16/9/2014, mostra a distribuição da fome no
mundo. O mapa acima mostra a distribuição geográfica de áreas com diferentes graus de concentração de pessoas que passam fome. Segundo a organização, no período de 1990-1992, 14,8% dos brasileiros passavam fome. Para o período de 2012-2014, o índice brasileiro caiu para 1,7%.
Escreva um texto informativo/opinativo, de 10 a 12 linhas, a respeito da fome no mundo, destacando a presença/ausência do problema nos diferentes continentes. Seu texto deve:
1 – Apresentar um panorama geral do problema no mundo;
2 – Levantar hipóteses que expliquem essa distribuição;
3 – Comentar a situação do Brasil no presente quadro.
Um panorama da fome no mundo e no Brasil
O vestibular da universidade federal paranaense pede em sua prova a redação de pequenos textos de diferentes
gêneros. Nesta proposta era importante o candidato saber que o mapa se refere aos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODMS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que tinham prazo final em 2015. Observe que a legenda 1 da infografia sugere ter havido progressos na América Latina, grande parte da África, Oriente Médio, países dos oceanos Índico e Pacífico e China. Na península da Índia houve avanço insuficiente. Na África, mantiveram-se grandes áreas sem melhoria, falta de informações e até países em que a fome se agravou. Países desenvolvidos da América do Norte, Europa, Japão e Austrália não foram avaliados por não apresentarem
percentuais significativos de situações de fome.
Opções de abordagem
Seguindo os comandos da prova, o candidato poderia:
01 Após destacar cada continente, avaliar como um avanço a redução da pobreza extrema e da fome no mundo, como resultado da adoção dos ODMS pelas nações da ONU.
02 Registrar que não há percentuais significativos de fome nos países desenvolvidos, e que a evolução abrangeu
grande quantidade de países em desenvolvimento ou não desenvolvidos no mundo.
03 Situar o avanço do Brasil como resultado de políticas de governo de combate à pobreza e a fome, como o Programa Bolsa Família.
Ou:
01 Após citar cada continente, ressaltar que o mapa revela avanços do combate à fome nos países em desenvolvimento do mundo, como resultado dos ODMS da ONU.
02 Destacar que o mapa da fome revela mais uma das consequências da exploração dos países desenvolvidos, e sem fome, sobre os países mais pobres.
03 Afirmar que a adoção de políticas de governo e de Estado pode minorar essa situação de exploração, o que ocorreu no Brasil com o Programa Bolsa Família.
Escreva bem Evitando erros comuns
Reveja algumas regras para driblar erros mais comuns, como o uso da crase, alguns pronomes, adjetivos compostos, os quatro porquês, onde e aonde, quando usar melhor ou mais bem, à medida que e na medida em que, entre outros
Importante: as regras da nova ortografa entraram em vigor em 2016 e são adotadas na norma-padrão da língua para efeito de escrita e de correção nas provas.
Uso da Crase
Advinda da fusão de dois “as”, uma preposição e, normalmente, um artigo, a crase causa dúvidas em estudantes, vestibulandos e, até mesmo, em profissionais formados.
A crase só ocorre diante de palavras femininas. Assim sendo, uma das regras mais simples para descobrir se ela ocorre ou não em uma frase é substituir o termo seguinte ao a por um equivalente masculino – se o resultado gerar a contração ao antes da palavra substituída, há crase
Estava ansioso para ir à prova.
Estava ansioso para ir ao vestibular.
Acabou perdendo a prova.
Acabou perdendo o vestibular.
Embora útil, a dica não dá conta de todos os casos. Muitas vezes, há dúvida no uso da crase, também, diante do nome de lugares – cidades, estados, países etc. –, principalmente quando utilizamos o verbo ir. Ir a Manaus ou à Manaus? A Alemanha ou à Alemanha? Nesses casos, o truque é trocar o verbo ir por voltar junto da preposição de – se houver outro artigo, há crase.
Volto de Manaus.
Vou a Manaus.
Volto da Alemanha.
Vou à Alemanha.
Locuções adverbiais, ou que usam conjunções e preposições com palavras femininas, também apresentam crase. Exemplos desses casos são: à noite, às vezes, à direita, à frente, às escondidas, à moda de, à esquerda de, à volta de, à medida que, à altura de etc.
Este ou Esse
Não raro, encontramos textos que confundem os pronomes demonstrativos este e esse e suas variações (esta, isto, desse, nesse etc.). Afinal, qual é o certo?
Este deve ser utilizado para demonstrar proximidade com o enunciador, enquanto esse serve para os casos em
que aquilo a que se refere está afastado do enunciador e mais próximo do receptor.
Estre meu coração teme o que passa nessa sua cabeça.
A ideia de proximidade também pode ser utilizada na localização temporal. Este é utilizado para indicar o tempo
em que estamos: este ano, este dia, esta hora. Ainda no que se refere ao tempo, usamos esse para o tempo passado e
este para o futuro.
Prestei vestibular nessa semana.
Prestarei vestibular nesta semana.
Tal raciocínio também é utilizado para a localização dos elementos indicados no texto. Usamos esse para elementos
já citados e este para os que serão anunciados.
Não perco mais meu tempo com baladas, isso faz parte do passado! Só o que desejo é isto: uma boa balada!
Lembre-se: em contraposição a aquele, usamos sempre este para indicar o elemento mais próximo numa oração.
Eis a maior diferença entre meu trabalho anterior e o atual: este me dá mais tempo livre, aquele me tomava até os fins de semana.
No caso acima, este se refere ao trabalho atual, mais próximo no texto, e aquele, ao trabalho anterior.
O emprego correto de melhor
É de conhecimento geral que, quando fazemos comparações, o uso da forma sintética melhor é obrigatória no lugar
de mais bem e mais bom.
- O Fazer uma graduação é melhor do que parar no Ensino Médio.
- Fazer uma graduação é mais bom do que parar no Ensino Médio.
- O Um profissional formado ganha melhor que um estagiário.
- Um profissional formado ganha mais bem que um estagiário.
No entanto, diante de particípio, o uso da forma sintética melhor não é correto, já que o mais não intensifica apenas o advérbio bem, mas toda a expressão formada por bem + particípio. Veja:
O Com uma especialização estarei mais bem preparado para o mercado de trabalho.
Com uma especialização estarei melhor preparado para o mercado de trabalho.
Porque – Por que e Por quê – Porquê
Escreve-se por que separado em pergunta quando se trata da preposição por + pronome interrogativo que, na função de advérbio de interrogação. Veja um exemplo com uma substituição:
- Por que motivo eu deveria pagar essa conta?
- Por qual razão eu deveria pagar essa conta?
Quando usada no fim da oração, com a mesma função interrogativa, deve ter o pronome acentuado:
- Eu devo pagar essa conta por quê?
Quando é empregada a conjunção explicativa ou causal porque, equivalente a pois ou já que, a grafa é de uma palavra só:
Porque foi você quem fez o pedido…
Pois foi você quem fez o pedido…
Já que foi você quem fez o pedido…
Finalmente, grafamos porquê, em uma palavra com acento, quando se trata de um substantivo, com sentido de um motivo ou uma razão. Veja exemplos de certo e errado e analise:
- Não soubemos porque a estação de trem USP Leste desistiu da certificação ambiental.
- O Não soubemos por que a estação de trem USP Leste desistiu da certificação ambiental.
- O A estação de trem USP Leste desistiu da certificação, mas não se sabe o por quê disso.
- Não houve a certificação ambiental da estação de trem USP Leste por que?
- O Não houve a certificação ambiental da estação de trem USP Leste por quê?
- O A certificação da estação seria importante porque serviria de parâmetro para outras instituições.
De Onde Vem
Na norma-padrão da língua, o advérbio onde, indicador de lugar, deverá ser acompanhado da preposição a se
houver a presença de um verbo que a exija. Na gramática normativa o verbo r “rege” o emprego da preposição a: Quem vai, vai a algum lugar. Logo: Aonde você vai? Analise outros exemplos:
O Aonde você quer chegar?
Onde você quer ir?
O O bairro onde moro não recebeu investimentos públicos.
A cidade aonde ocorreram as inundações pediu ajuda.
Outra dica importante: onde, de acordo com a gramática normativa, deve ser empregado somente quando
remete a lugares, espaços. É incorreto ser usado em substituição a outro elemento gramatical:
A situação econômica onde estamos tem resultados frágeis (em lugar de na qual).
Vou treinar a dissertação onde sempre cai nas provas (em lugar de que).
Essa foi a redação onde demorei a encontrar a argumentação (em lugar de na qual).
Plural dos adjetivos Compostos
Os adjetivos compostos vêm, salvo exceções, separados por hífen, e apenas o último elemento sofre modificação
para concordar com o substantivo.
- O Jogadores franco–argentinos.
- O Reuniões político–partidárias.
- O Políticas econômico–sociais.
- O Medidas social–humanitárias.
Exceção: Surdo-mudo flexiona em número e gênero (surdos-mudos, surdas-mudas). O caso é diferente quando um dos elementos do adjetivo composto é um substantivo. Nesse caso, usa-se o hífen, mas nenhum dos dois elementos varia.
O Bandeiras vermelho-cereja.
O Uniformes verde-abacate.
O Mísseis terra-ar.
Não se confunda quando o elemento composto que você sempre vê como adjetivo muda de função e é usado como substantivo. Exemplo: Os verdes-abacate e os vermelhos-cereja da moda deste ano não são bonitos. Também são aceitos verdes-abacates e vermelhos-cerejas.
À medida que na medida em que
Essas duas expressões existem e podem confundir um pouco, mas observando com atenção não erramos mais. As duas têm valor de conjunção, ou seja, ligam as orações em seus significados.
À medida que
É uma locução com o sentido de proporcionalidade. Equivale a “à proporção que”, “conforme”. Veja exemplos:
- À medida que o calor aumenta, ele fica igualmente mais irritadiço.
- A população de algumas cidades de vida rural vai diminuindo à medida que os filhos partem para viver nas metrópoles.
Na medida em que
Esta locução tem sentido de causalidade, ou seja, estabelece uma relação de causa e consequência entre duas ideias
expressas. Pode ser substituída por “uma vez que”, “porque”, “visto que”, “já que”, “tendo em vista que”. Exemplos:
- A população ficou satisfeita na medida em que suas exigências foram ouvidas.
- Na medida em que não havia provas, os acusados foram liberados.
- Atenção: A expressão “à medida em que”
Acerte os pontos na dissertação
Não adianta apenas saber para que servem os sinais de pontuação, deve-se saber quando utilizá-los. Em determinados tipos de texto, algumas pontuações podem não ser adequadas.
Enquanto em uma narrativa é comum o emprego de interrogações, exclamações e reticências, em uma dissertação esse uso não é recomendado. É até possível que o candidato insira uma pergunta nesse tipo de texto, desde que
ela seja respondida na própria redação, mas frases exclamativas e ideias em aberto estão fora de questão.
Também se deve evitar o uso de aspas e parênteses em um texto dissertativo – no caso de textos intercalados, por
exemplo, pode-se utilizar vírgulas ou travessão. As aspas devem ser empregadas exclusivamente em casos de citações, desde que pertinentes, e em palavras estrangeiras imprescindíveis ao contexto.
Enfim, a pontuação deve ser utilizada com critério, para que possa auxiliar a compreensão do leitor. Não há lugar para deslizes, brincadeiras nem invencionices nesse aspecto.
Uso de pronomes relativos
Entre os elementos gramaticais mais negligenciados em redações escolares e de vestibulares estão os pronomes relativos. A função dos pronomes relativos é substituir um termo da oração anterior e estabelecer relações entre duas orações dentro de um mesmo período. Veja:
- Prefiro fazer dissertações. Eu já conheço a estrutura das dissertações.
- Prefiro fazer dissertações, cuja estrutura eu já conheço.
(Deixar em vermelho o “CUJA”)
O desvio no uso dos pronomes relativos compromete a coesão textual e prejudica, até mesmo, a coerência dos textos. Um dos pronomes relativos usados equivocadamente na construção dos textos é cujo.
- Esta é a prova cuja farei.
- O Esta é a prova que farei
- A redação é a parte da prova cujo tenho mais medo.
- A redação é a parte da prova de que tenho mais medo.
O pronome relativo cujo, e suas flexões, tem valor possessivo, ou seja, só pode ser utilizado quando a segunda oração apresentar elementos possuídos pelo termo retomado.
O Não confio em instituições cujos cursos não são aprovados pelo MEC.
No exemplo acima, os cursos pertencem às instituições, por isso o uso de cujos está correto. Vale ressaltar que, embora o cujo e suas flexões retomem o termo anterior, eles não concordam com esse termo, mas com os elementos possuídos. Veja:
- O Procuro um curso cuja licenciatura seja integrada ao bacharelado. (cuja, no feminino, retoma curso e concorda com licenciatura)
- O Quero uma instituição cujos alunos saiam preparados para o mercado de trabalho. (cujos, no masculino plural, retoma instituição e concorda com alunos)
Colocação pronominal. Próclise, ênclise e mesóclise
A colocação pronominal incorreta é uma das falhas mais recorrentes nas redações. O motivo é simples: no uso oral da língua, costumamos negligenciar a norma-padrão no uso dos pronomes oblíquos átonos – é comum aos falantes da língua portuguesa nascidos no Brasil colocar o pronome antes do verbo, ou seja, privilegiar a próclise quando fala, por exemplo.
Recordando, a colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos (me, te, se, o, os, a, as,
lhe, lhes, nos e vos) ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem.
Os pronomes oblíquos átonos podem assumir três posições na oração em relação ao verbo:
1. Próclise: o pronome vem antes do verbo;
2. Ênclise: o pronome vem depois do verbo;
3. Mesóclise: o pronome vem no meio do verbo.
PRÓCLISE A próclise é aplicada antes do verbo quando temos:
PALAVRAS COM SENTIDO NEGATIVO:
Não me inscrevi para o vestibular.
Ninguém me auxiliou na escolha da carreira.
Advérbios:
Aqui se testam os candidatos.
Naquela sala se fazem as inscrições.
Pronomes relativos:
O professor que te auxiliou era competente.
Percebi o que te atrapalhava.
Pronomes indefinidos:
Quem nos auxiliou?
Todos nos auxiliaram.
Pronomes demonstrativos:
Isso lhe atrapalhou.
Aquilo lhe pareceu certo.
Preposição seguida de gerúndio:
Em se tratamento do vestibular, estou confiante.
Salvo ficar se lamemtando, ele não faz mais nada.
Conjunção subordinativa:
Fizemos a redação, conforme nos indicaram.
Preenchemos a ficha, como nos pediram.
Ênclise A ênclise é empregada depois do verbo quando temos:
O verbo no imperativo afirmativo:
Matricule-se já.
Inscreva-se ali.
O verbo iniciando a oração:
Inspirei-me no professor.
Matriculei-me hoje.
O verbo no infinitivo:
Procure acalmar-se.
Será preciso empenhar-se.
O verbo no gerúndio:
Dedicando-me, irei passar.
Permaneci esforçando-me.
vírgula ou pausa Antes do verbo: Acabando a prova, entreguei-me ao cansaço. Quando passei, senti-me realizado.
Mesóclise A mesóclise acontece quando o verbo for flexionado no futuro do presente ou no futuro do pretérito:
A prova realizar-se-à nas dependências da faculdade.
Ajudar-te-ei a estudar.