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A trajetória de Adélia Prado, descrita como “lírica e bíblica” por Drummond

Poeta mineira acaba de ser agraciada com dois importantes prêmios literários pelo conjunto de sua obra

Por Taís Ilhéu
27 jun 2024, 15h00
Adélia Prado em entrevista ao programa Roda Vida, em 2014
Adélia Prado em entrevista ao programa Roda Vida, em 2014 (TV Cultura/Reprodução)
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Considerada a maior poeta viva do país, Adélia Prado está longe de ser um talento reconhecido tardiamente. Lançado em 1978, seu segundo livro, “O coração disparado“, foi logo agraciado com o Prêmio Jabuti, o maior da literatura brasileira. Ainda assim, os últimos dias de julho de 2024 certamente ficarão marcados como os de maior celebração da escritora de 88 anos. Em um intervalo de sete dia, Prado recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, e o Prêmio Camões, o mais importante da Língua Portuguesa.

Ambas as premiações reconhecem o conjunto da obra do escritor – no caso de Adélia, sobretudo livros de poesia, mas também contos, romances, peças teatrais e até livros infantis. A autora, que passou alguns longos períodos sem publicar chamados por ela mesmo de “deserto criativo”, deve lançar em breve uma coletânea de textos inéditos sob o título “Jardim das Oliveiras”.

Conheça um pouco da trajetória de Adélia Prado, apadrinhada por Carlos Drummond de Andrade, autora de clássicos da poesia brasileira e uma das maiores expoentes do Modernismo no país.

+ Bagagem: análise do livro de Adélia Prado

Nasce uma poeta

Adélia Prado nasceu em 13 de dezembro de 1935 na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais. A poeta Adélia, no entanto, surge 15 anos depois, em 1950, quando sua mãe Ana Clotilde Corrêa faleceu. Perder a figura materna tão cedo fez com que a jovem começasse a escrever seus primeiros versos, bem como incentivou sua carreira no magistério anos mais tarde.

Além de escrever suas poesias, Adélia formou-se professora e começou a lecionar em um ginásio de Divinópolis. Mais tarde, entrou também na graduação em Filosofia junto com o marido, o funcionário do Banco do Brasil José Assunção de Freitas. Assim que se formou filósofa, em 1973, resolveu também enviar alguns dos seus poemas para o crítico literário Affonso Romano de Sant’Anna. Os textos foram parar na mão de ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade.

+ Drummond, o escritor mais cobrado no Enem

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“Lírica e bíblica”

Não é exagero dizer que Drummond ficou perplexo diante do que lia. Chamou os textos de Adélia de “fenomenais”, e escreveu sobre a poeta de Divinópolis em sua coluna no Jornal do Brasil, em 9 de outubro de 1975.

“Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo”.

A definição não poderia ser mais precisa. As poesias da divinopolitana misturam elementos da religião católica e do ambiente doméstico, narrando tarefas simples como a de cozinhar “arroz, feijão roxinho e molho de batatinhas”. Ao mesmo tempo, a partir do cotidiano, reflete sobre a passagem do tempo, sobre a finitude, os lugares que as mulheres ocupam e tantos outros temas.

Além do prosaísmo, Adélia também aproximava-se de Drummond na forma de sua escrita: modernista, não se apegava a métricas e escrevia livremente.

No lançamento do primeiro livro da poeta, “Bagagem”, reuniram-se no Rio de Janeiro grandes nomes da literatura, das artes e da política como Antônio Houaiss, Clarice Lispector, Juscelino Kubitschek, Nélida Piñon e, é claro, Carlos Drummond de Andrade.

Os clássicos de Adélia Prado

O livro de estreia de Adélia lhe rendeu, logo de cara, muitos elogios. Dividido em quatro partes, fala do lugar da mulher-poeta, reflete sobre o amor, a religião e a memória. Entre os poemas de “Bagagem” estão “Com licença poética” (que parafraseia o “Poema de sete faces” de Drummond) “Grande desejo” e “Enredo para um tema”.

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Foi seu segundo livro, no entanto, que lhe rendeu o primeiro prêmio, um Jabuti. “O coração disparado” resgata os temas da primeira obra, que são afinal a tônica de Adélia Prado, especialmente a religiosidade. “A experiência religiosa é uma experiência poética. A poesia aponta para o mesmo lugar para onde a fé nos leva. São experiências de natureza comum. Tanto é verdade que a linguagem é a mesma. Os textos míticos são paradoxos, falam por metáforas, porque falam do indizível. A poesia é a mesma coisa”, afirmou a poeta sobre o livro.

Entre outras obras marcantes de Adélia estão “Terra de Santa Cruz“, “A faca no peito“, “O homem da mão seca” (um romance) e o mais recente “Miserere“, que reúne 38 poemas.

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Poeta mineira acaba de ser agraciada com dois importantes prêmios literários pelo conjunto de sua obra

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