Sobrevivente retrata em mangá a bomba atômica de Hiroshima
Com aspectos autobiográficos, 'Gen' narra a história de um menino de 6 anos que sobrevive ao terror nuclear
A humanidade entrou na era atômica em 6 de agosto de 1945, quando uma bomba nuclear norte-americana atingiu a cidade japonesa de Hiroshima, matando mais de 90 mil pessoas. Enquanto o avião que havia lançados o artefato voltava para a base, os sobreviventes em terra eram mergulhados num inferno de dor e sofrimento. Uma dessas pessoas era Keiji Nakazawa, um menino que sobreviveu e, ao ficar adulto, tornou-se um dos mais importantes autores de mangás do Japão. Com mais de 35 anos de idade, começou a contar a dolorosa história de sua experiência com a bomba por meio de quadrinhos.
Gen é uma obra-prima universal, com aspectos autobiográficos, cujo protagonista, Gen Nakaoka, é um menino de 6 anos. A obra em quadrinhos está publicada em português, em dez volumes, pela editora Conra.
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A narrativa tem início nos dias anteriores à tragédia. A fome castigava a população japonesa após anos de sacrifício, já no período final da Segunda Guerra Mundial. Para quem trabalhava, o pouco dinheiro nem sempre garantia o arroz diário, devido à escassez de alimentos. Além da falta de recursos, a família Nakaoka é vítima de discriminação, por causa dos ideais pacifistas do pai de Gen, absolutamente contrário ao conflito. Ele e os filhos são apedrejados pelos vizinhos “patriotas”.
O sofrimento vira o pior dos pesadelos com a explosão atômica. Na hora em que a bomba explode nos céus da cidade, Gen ia para a escola e é protegido por um muro, mas perde o pai e dois irmãos. Muitos dos sobreviventes sofrem queimaduras terríveis e adoecem pela exposição à radiação. Na cidade destruída, o garoto se vê obrigado a ajudar o parto da mãe e a sair atrás de alimentos. As ruas tornam-se perigosas, pois muita gente se vê impelida à criminalidade e a se apoderar do que puder para tentar sobreviver. Koji, irmão mais velho de Gen, volta traumatizado de um campo militar japonês. Quando as forças de ocupação estrangeiras chegam, ele tenta atacar os soldados, mas é impedido pela mãe, que busca proteger os filhos e os manter unidos no cenário adverso.
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Em seu conjunto, Gen nos leva a um mergulho numa Hiroshima apocalíptica (mas muito real), colocando o leitor em contato direto com os horrores de um momento chave para a definição do cenário global contemporâneo. É assim uma leitura importante para quem quer refletir sobre o mundo atual.
O lançamento original de Gen é dos anos 1970, tendo sido publicado no Brasil na década de 1990, em versão de quatro volumes. Duas décadas depois, a obra foi relançada no Brasil em dez volumes, com uma edição que preserva o arranjo visual original dos mangás, na ordem inversa de leitura em relação à que se usa no Brasil. Mesmo sendo inusitado, para o leitor, é bem fácil de entender e tocar a leitura. O autor de Gen, Keiji Nakazawa, morreu aos 73 anos, em dezembro de 2012, na mesma Hiroshima em que viveu os horrores da bomba.
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