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O Diário de Anne Frank: a história da menina que viveu o Holocausto

Anne relatou o horror do Nazismo e o sofrimento de sua família enquanto escondia-se no anexo de uma fábrica. Conheça o livro que marcou o mundo

Por Ludimila Ferreira
Atualizado em 14 dez 2023, 16h45 - Publicado em 14 dez 2023, 15h24
 (Anne Frank Fonds/Divulgação)
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“Eu espero que a você eu possa tudo confiar, como nunca confiei a ninguém e espero também que você venha a ser um grande amparo para mim”, escreveu Anne Frank na primeira página do seu diário, em 12 de junho de 1942. O Diário de Anne Frank foi publicado pela primeira vez em 1947, editado pelo pai de Anne, Otto Frank, que sobreviveu à perseguição nazista e ao campo de concentração.

Anne Frank nasceu em 12 de junho de 1929, em Frankfurt, Alemanha. Em 1933, os pais de Anne Frank buscaram um lugar em que pudessem morar e trabalhar em Amsterdã, Holanda, após a ascensão de Hitler ao governo alemão e o início da perseguição contra os judeus. A partir daquele momento, independentemente de terem nascido na Alemanha, os judeus deixaram de ser considerados alemães.

+ Por que Hitler odiava os judeus

“Por sermos judeus, meu pai emigrou para a Holanda em 1933. Ele tornou-se diretor da companhia holandesa Opekta, que produz ingredientes para fazer geleia”, relata Anne em certo ponto do diário.

O nazismo foi um movimento politico totalitário que perseguiu judeus e outras minorias na Alemanha e parte da Europa Ocidental. Anne Frank, uma menina judia, viveu escondida por dois anos com sua família no Anexo Secreto e iniciou a escrita de seu diário após ganhar o caderno em seu aniversário de 13 anos.

Neste texto, conheça o Diário de Anne Frank.

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O diário de Anne

O livro, considerado hoje um documento histórico, é o relato da menina sobre os fatos que ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial. Muitas das informações contidas nele foram coletadas por Anne a partir do que ela ouvia no rádio com sua família. Ela narra que “após maio de 1940 foram-se acabando os bons tempos: primeiro a guerra, depois a capitulação, em seguida a entrada dos alemães e então, a desgraça para nós, judeus, começa”.

No livro, Anne mescla a história da guerra com a sua própria e de sua família. “Meu pai, o pai mais adorável que eu já vi em minha vida, casou-se com minha mãe quando já tinha 36 anos e ela 25.”

Anne Frank inicia o diário narrando o que vive na escola, fala sobre seus amigos e principalmente sobre seus sonhos. O diário se inicia leve, antes da captura da irmã de Anne para o campo de concentração. O texto fica mais opressivo com a explosão da perseguição contra os judeus na Holanda. Anne compartilha seus sentimentos e reflete sobre a guerra de maneira madura, mesmo aos 13 anos de idade.

“Vivíamos com certa ansiedade, já que nossos parentes que permaneceram na Alemanha não ficaram salvos das leis de Hitler contra os judeus. Após os pogroms em 1938, os meus dois tios, irmãos de minha mãe, fugiram e chegaram salvos na América do Norte. A minha idosa avó veio morar conosco. Ela tinha, na época, setenta e três anos”.

Apesar da ansiedade, Anne Frank e sua família viviam em quase normalidade em Amsterdã, até a invasão do exército nazista em maio de 1940, próximo à fábrica de Otto Frank. Inicia-se então o registro de cidadãos judeus na cidade, o que faz com que o grupo se torne alvo fácil do alemães nazistas. Em um ano, todos já estavam “fichados”. A falsa sensação de paz havia chegado ao fim para a família de Anne, quando Otto Frank não pode mais sequer manter seu próprio negócio por ser judeu.

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A cronologia dos fatos apresentada no diário conta que a partir de 03 de maio de 1942, todas as crianças judias maiores de seis anos na Holanda tinham obrigação de usar uma estrela de David em sua roupa. Em 12 de junho, Anne ganha o caderno que se transformaria em seu diário. Em 05 de julho, sua irmã, Margot Frank é convocada para um “campo de trabalho” – o que era, na verdade, um campo de concentração para execução dos judeus.

No dia seguinte se inicia o isolamento de Anne Frank e sua família do resto do mundo, com uma outra família que se juntaria a eles em 13 de julho daquele mesmo ano – os Van Pels. Em novembro de 1942, entra o último membro do esconderijo, Fritz Pfeffer. Agora, eles precisam lidar com brigas, tédio e medo.

“A uma lei antissemita seguia-se outra e a nossa liberdade foi seriamente limitada. Os judeus são obrigados a usar uma estrela de Davi na roupa; os judeus são obrigados a entregar as suas bicicletas; os judeus não podem andar nos bondes; os judeus não podem andar de automóvel, nem mesmo nos particulares; os judeus só podem fazer compras das 15 às 17 horas; os judeus só podem ir a barbeiros judeus; os judeus não podem sair na rua das 20 horas até as 6 horas da manhã.”

+ Ele sobreviveu a um campo de concentração nazista – e desenhou tudo depois

O Anexo Secreto

O Anexo Secreto ficava dentro da empresa de Otto Frank. O pai de Anne passou a empresa para o nome de seus amigos não judeus quando a Holanda foi invadida e poucos ajudantes da família Frank tinham conhecimento de que eles estão escondidos ali, uma minoria trabalhadora da empresa. Até durante o dia, era preciso silêncio absoluto no esconderijo.

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O anexo ficava escondido atrás de uma estante de livros. Graças aos ajudantes, eles tinham acesso a comida, livros, jornais e revistas para se distraírem mesmo na situação degradante. Anne tinha, por exemplo, mais cadernos para continuar escrevendo. Em 1943, Anne Frank relatou ter percebido que gostava mesmo de escrever. Ela compartilhava seus sonhos no diário, que àquela altura já havia deixado de ser o primeiro caderno que ganhou de seus pais.

Em meio à guerra, a menina viveu também seu primeiro amor com Peter van Pels, o filho da família van Pels que também está no anexo. Apesar de narrar a paixão adolescente com sensibilidade, Anne nunca alienou-se do contexto em que viviam. “Aflige-me, mais do que posso expressar, a ideia de que nunca podemos sair na rua. Tenho medo que nos descubram e nos fuzilem.”.

As únicas informações que o grupo tinha sobre o que estava acontecendo na guerra era por meio dos jornais que recebiam e de um rádio. Anne lidava com a frustração de estar presa ali, escrevendo. No diário, ela compartilhava episódios de tristeza extrema com objetivos que almejava realizar quando saísse dali.

Ao longo das páginas, conta como precisavam ficar em silêncio durante o dia, não dar descarga no banheiro, nem ficar perto das janelas. A partir de seu texto, mergulhamos no dia a dia de uma menina de 13 anos que tem sonhos como tantas outras, e que tenta manter a esperança de que um dia eles vão se realizar.

Em 6 de junho de 1944, Anne Frank tem um lampejo de esperança quando ouve no rádio que tropas aliadas contra no nazismo estão em movimento para libertar a Europa.

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“Todos estão comovidos no Anexo! Terá chegado, enfim, o dia da tão esperada libertação? A libertação da qual tanto tem se falado, mas, que chega a parecer um conto de fadas e demasiado boa para tornar-se realidade algum dia? Irá este ano de 1944 nos trazer a vitória? Nós também ainda não sabemos… Porém, onde há esperança, há vida. E esta mesma esperança é o que nos enche de coragem e nos fortalece novamente.”

A libertação, porém, nunca chegou para a família Frank e seus amigos.

+ Segunda Guerra Mundial: Dicas para estudar o Dia D

Depois do diário

Em 4 de agosto de 1944, as famílias Frank e van Pels são denunciadas. A empresa é invadida e eles são levados para o campo de concentração, acusados de não se pronunciarem voluntariamente quando houve a primeira chamada dos judeus. O diário de Anne Frank é resgatado por Miep Gies e Bep Voskuijl, duas das ajudantes da família. Anne morre de tifo, uma grave doença bacteriana, em um campo de concentração em 1945 junto com sua irmã. Seu pai é o único sobrevivente dos oito que estavam escondidos em Amsterdã.

“Essas são as dificuldades em tempos como este: sonhos, ideais e esperanças que não se concretizam ou, são atingidos pela mais cruel realidade e assim destruídos. É um grande milagre que não desisti das minhas esperanças, pois parecem absurdas e impraticáveis. Mesmo assim as mantenho, apesar de tudo, pois ainda creio na bondade interior das pessoas. Para mim é impossível construir tudo baseado na morte, desgraça e confusão”, relatou Anne nas páginas de seu diário.

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“Eu vejo como o mundo é lentamente transformado em um deserto, ouço a chegada de um trovão, que também nos matará, sinto a dor de milhões de pessoas, e mesmo assim, quando olho para o céu, penso que isso tudo se reverterá ao bem, que também essa crueldade acabará e que voltará a tranquilidade e a paz mundial. Enquanto isso, tenho que manter firme meus ideais. Talvez nos tempos que estão por vir seja possível realizá-los.”

O Diário de Anne Frank

capa do livro o diário de anne frank

O retrato da menina por trás do mito. A única edição brasileira autorizada pelo Anne Frank Fonds, onde parte dos direitos autorais são direcionados a UNICEF.

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