Mulheres fantasmas enfrentam o patriarcado em livro japonês viral
Em dezessete contos, a autora Aoko Matsuda reimagina histórias folclóricas para dar protagonismo às “monstras” da sociedade

Entre tantas riquezas culturais, o Japão também é conhecido por suas histórias de fantasmas. E é justamente dessa tradição que a escritora Aoko Matsuda parte para construir o universo de “Onde vivem as monstras“, um livro que une o sobrenatural ao feminismo em contos afiados, criativos e cheios de crítica social. Ao longo de dezessete contos, a autora revisita lendas do folclore japonês e as reinterpreta sob a ótica contemporânea, dando voz a mulheres consideradas “fora da norma”.
Temas como machismo, assédio moral no trabalho, papéis sociais de gênero, pressão estética e a busca pela autoexpressão são alguns dos abordados ao longo das narrativas. Ah! Mas um detalhe: a maior parte das protagonistas são fantasmas.
Abaixo, conheça mais sobre o livro e sua autora!
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Humor, crítica social e folclore japonês
Durante as narrativas em “Onde vivem as monstras”, as mulheres são menosprezadas e diminuídas à performance de gênero, mas sempre com uma reviravolta que as coloca de novo como protagonistas de suas próprias histórias.
Embora independentes, os contos não são isolados. Personagens e situações reaparecem, criando uma trama entrelaçada em que os homens se tornam cada vez mais coadjuvantes diante da força das protagonistas – muitas já em certa idade, que vão crescendo conforme a leitura corre.
Aoko Matsuda, inclusive, dá ênfase em como as mulheres vão se tornando “descartáveis” para a sociedade conforme elas envelhecem, no título original do livro. Ele se traduz para “onde estão as tias”, do original em japonês “おばちゃんたちのいるところ” (Obachantachi no iru tokoro). Essas personagens, que têm a partir de 40 anos, vivem a pressão de não terem atingido as expectativas da sociedade, logo, se tornam as “monstras” aos olhos de todos.
Para além do etarismo, ainda há a “monstra-mulher” que simplesmente deseja se expressar, independente da sua idade. A personagem que não quer fazer depilação, a outra que deseja deixar as responsabilidades da maternidade para escalar montanhas como uma raposa, aquela que quer namorar outra mulher; todas que, de alguma maneira, fogem da “norma” social.
Com uma escrita ágil, bem-humorada e repleta de monólogos internos, Matsuda convida o leitor a abraçar a “esquisitice” e a imperfeição, mas sem jamais cair no tom autoajuda. O tom é fantástico, sim – há fantasmas, metamorfoses, criaturas – mas a crítica social é real e pontual.
Ao resgatar narrativas clássicas do folclore japonês, a obra discute o presente e, sobretudo, as estruturas sociais que tentam silenciar mulheres de diferentes perfis.
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Quem é Aoko Matsuda
Aoko Matsuda é uma escritora japonesa que vem fazendo sucesso dentro e fora do Japão por suas obras com críticas ao patriarcado, mas sempre cheias de bom humor. Assim como em “Onde vivem as monstras”, seus livros são criativos e recheados de reviravoltas.
Em 2013, o livro de estreia “Stackable” (ainda sem tradução para a Língua Portuguesa) foi indicado aos prêmios Yukio Mishima e Noma Literary New Face. Em 2019, seu conto “The Woman Dies”, publicado na revista Granta, foi selecionado para o prêmio Shirley Jackson.
“Onde vivem as monstras” recebeu o World Fantasy Award em 2021.
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