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Como a maternidade me mostrou qual carreira seguir

Conheça a história da mãe e fisioterapeuta Danielle Aparecida

Por Juliana Morales
8 Maio 2021, 00h01

As motivações para uma pessoa escolher qual carreira seguir são das mais diversas. O que ama fazer, o que dá mais dinheiro, seguir os passos dos pais ou se aventurar em um campo muito diferente. Tem gente que sabe desde sempre o que vai ser quando crescer, outros descobrem com a vida e suas surpresas. 

Eu, Danielle Aparecida, quando era mais jovem, era do grupo de quem não fazia ideia do que seguir. Achava tudo legal, mas não tinha interesse em nada, de fato. Era difícil sonhar muito alto no meio do aperto que a minha família passava. Meu pai estudou até a quarta série e minha mãe frequentou a escola por três anos apenas. Minha mãe fazia faxina. Meu pai era taxista de um carro que nem era dele. Dois seres humanos incríveis, que me deixaram tanto orgulho e muita saudade.

Fiquei órfã de mãe com 11 anos. Quando fiquei mais velha, sonhava em ter uma família. Comecei a namorar aos 18 anos, e acabei engravidando. Hoje, com 41 anos, as várias sessões de terapia me fizeram entender que a pressa era uma maneira de suprir uma questão emocional. Senti muita falta da minha mãe. E o amor que poderia preencher, de certa forma, meus sentimentos era o amor mais intenso que existe: o de mãe para filho. 

Aos 19 anos, então, ganhei um garoto risonho, que chamei de Marcos. Três anos depois, a pequena Mariana chegou. Não tinha vaga no hospital público, o parto demorou muito. A bebê acabou aspirando mecônio – matéria fecal produzida pelo intestino antes do nascimento – o que pode causar várias sequelas. A Mari precisou ficar internada no CTI (centro de tratamento intensivo) por alguns dias. 

Quando ela tinha cinco meses de idade, a sogra do meu irmão, pessoa acolhedora que meus filhos têm a sorte de chamar de avó, sugeriu que tinha algo errado com a Mari. Fomos investigar. Após uma série de exames, descobrimos que a demora no parto resultou em um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. O neurologista que deu o diagnóstico disse que ela teria sequelas persistentes por toda vida. Não ia andar, nem falar. Meu filho mais velho estava comigo nesse dia e o médico disse para eu “investir” no garoto, porque ele tinha uma saúde de ouro. 

“E se fosse sua filha? O que o senhor faria?”, questionei o especialista. “Faria fisioterapia de segunda a segunda. Todo dia, durante toda a vida”, foi a resposta.

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Ele tinha condições de pagar, eu não. Apesar de conseguir tratamento gratuito, seria muito difícil a minha filha ter atendimento na semana toda. Quando eu disse que, então, eu começaria a estudar fisioterapia para resolver o problema, ele riu, sem acreditar muito. Eu sabia que seria difícil: mãe de duas crianças pequenas, uma que necessitava de cuidados especiais.

Na época, eu não tinha noção direito do que era a Fisioterapia. Eu tinha feito o segundo grau completo e depois engravidado. Só sabia que a minha filha precisava fazer um tratamento de estimulação precoce todos os dias. Mesmo escutando do neurologista que os resultados não seriam tão animadores, diante dos resultados dos exames. 

Mas começamos a enfrentar o desafio de frente. Encontrei o Instituto Brasileiro de Reeducação Motora (IBRM) , no Rio de Janeiro. Além das sessões nas manhãs de segunda a quinta dedicadas à Mariana, tivemos o acolhimento com os profissionais do centro de reabilitação. Lá, eu vi, entendi e me encantei pelo trabalho da Fisioterapia. É isso, pensei. 

E fiz uma promessa. Se a minha filha andar, vou trabalhar a vida inteira para quem não pode pagar o tratamento. Essa será minha forma de retribuir. 

Faculdade, família e futuro

Com uma bolsa de estudos, consegui ingressar no ensino superior em Fisioterapia. Comecei a aprender como estimular a minha filha e levá-la comigo para a clínica escola da faculdade. 

Enquanto ainda estava cursando a graduação, tive uma surpresa. Durante uma troca de remédios anticoncepcionais, eu engravidei novamente. Um choque. Eu na faculdade, Mariana no tratamento e mais um bebê? No primeiro momento, eu não imaginei que uma irmã mais nova, como a Manoella, poderia ajudar tanto no desenvolvimento da Mari. É importante para uma criança com necessidades especiais observar e imitar outra criança. 

A caçula adorava acompanhar a irmã nos exercícios de fisioterapia. Em casa, eu fazia estímulo e fortalecimento nas duas pequenas. Com o tratamento, a Mariana se superou e conseguiu começar a andar de forma independente aos quatro anos. Hoje, aos 19 anos, ela tem um leve atraso no desenvolvimento. Um ritmo próprio de vida e aprendizado. Mas é independente, se vira. Está fazendo curso de cozinheira profissional.

Por ter sido muito estimulada ao acompanhar a irmã, Manoella ganhou habilidades como a flexibilidade, que a destacaram no mundo do esporte. Muito novinha, ela entrou em um projeto de ginástica na escola pública onde estudava e hoje ela faz parte da Seleção Brasileira de Ginástica Aeróbica. Agora, ela conta comigo, além de mãe, como fisioterapeuta, na prevenção de lesão e preparação para melhor desempenho. 

Marcos, o mais velho, está finalizando a graduação de Biologia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Estagiário no Instituto Nacional de Câncer (INCA),  já decidiu que quer seguir fazendo pesquisas relacionadas à doença. E, eu, desde 2011 passei em um concurso público e atuo no SUS, cumprindo a promessa de trabalhar e atender quem precisa. Esse ano iniciei o mestrado, e continuarei estudando para me especializar cada vez mais. Afinal, a vida é um eterno aprendizado!

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Então, escolha uma profissão na qual você poderá exercitar seu propósito de vida. Sigo também orgulhosa na missão mais linda – e complexa na mesma intensidade – que é ser mãe.

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