Por que ‘Ainda Estou Aqui’ é um filme obrigatório para vestibulandos
Questões de vestibular com base no vencedor do Oscar são previsíveis para o final de an

Quem está se preparando para fazer o vestibular neste ano tem uma ida obrigatória ao cinema (ou ao streaming): é preciso assistir a “Ainda Estou Aqui”. Dirigido por Walter Salles, estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, recebeu vários prêmios pelo mundo, culminando com o Oscar 2025 de Melhor Filme Internacional, feito inédito para o cinema brasileiro. Não é preciso nenhuma bola de cristal para prever que tem grandes chances de aparecer em questões dos exames de 2025.
O filme é de fato muito bom, recomendado para estudantes do Ensino Médio e para o público em geral – no final de março, estava se aproximando dos 6 milhões de espectadores no Brasil.
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Classe média
“Ainda Estou Aqui” traz a história de Rubens Paiva e de sua família. Paiva, jovem engenheiro eleito deputado federal pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) em 1962, foi cassado pelos militares logo após o golpe de 1964. Após um período no exterior, voltou a viver no Brasil, exercendo sua profissão e tocando seus negócios. Com a mulher, Eunice, teve cinco filhos: Vera, Eliana, Marcelo, Ana Lúcia e Beatriz.
Em sua parte inicial, o filme retrata a vida de Rubens (Selton Mello), Eunice (Fernanda Torres) e os filhos em 1970/71, quando o Brasil vivia sob o período mais duro da ditadura militar, iniciado em 13 de dezembro de 1968, com a decretação do AI-5 (Ato Institucional número 5), que extinguiu garantias individuais, como o habeas corpus, e dava direito à cúpula do regime de cassar qualquer mandato político.
Família de classe média, os Paiva moravam numa casa em frente à praia do Leblon, no Rio de Janeiro, e usufruíam de uma vida confortável. O filme mostra que, de forma discreta, o deputado cassado mantinha contato com pessoas perseguidas pelo regime militar – que poderiam ser de simples opositores, com opiniões políticas democráticas, a adeptos da luta armada, para a qual a ditadura empurrou uma parcela da juventude inconformada com a total falta de liberdade no país. Eventualmente, prestava apoio como, por exemplo, entregar cartas ou dar notícias de familiares e amigos.
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Desaparecimento
Tudo mudou na vida dos Paiva com a prisão arbitrária do pai, em 20 de janeiro de 1971, por agentes da ditadura, sem acusação nem registro. Dois dias depois, também foram presas Eunice e a filha Eliana, de apenas 15 anos. A menina foi solta em 24 horas; a mãe, duas semanas depois, após a prisão ter virado notícia na imprensa internacional.
Quando a família quis entregar roupas para o preso, o Exército negou que estivesse com ele. Rubens Paiva tornou-se então um “desaparecido”, como tantos opositores que o regime militar assassinou e deu um destino desconhecido ao corpo – desde enterrar em valas comuns até jogar em alto mar.
Hoje se sabe que Rubens Paiva foi assassinado sob tortura nas horas seguintes à sua prisão nas dependências do DOI-CODI, órgão ligado do Exército. Os militares apontados como responsáveis por isso nunca foram julgados.
Após o desaparecimento do marido, e meses sem conseguir obter notícias, a família retorna a São Paulo. Eunice volta a estudar e se forma em Direito. Pelo resto de sua vida, ela luta para que o Estado brasileiro reconheça a morte de Rubens – o que conseguiu em 1996 – e pela responsabilização dos assassinos.
O filme toma como base o livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, escritor e filho do casal, relatando a trajetória de sua mãe até a velhice, quando, sofrendo da doença de Alzheimer, afirma em certo momento: “Ainda estou aqui”. Nessa fase final da vida, Eunice é interpretada notavelmente no filme por Fernanda Montenegro, hoje com 95 anos.
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Crime impune
Como neste ano completam-se 40 anos do final do regime militar (15 de março de 1985, posse do presidente civil José Sarney), o filme pode ser integrado a questões de vestibular abordando a herança desse período. Uma boa ideia pode ser assistir ao filme com seus colegas e organizar um debate depois entre vocês. Podemos nos perguntar, por exemplo, o que explica seu estrondoso sucesso, ainda antes do Oscar, para além da constatação de que é muito bem realizado. O fato é que ele toca os brasileiros, entre outros motivos, pelo incômodo causado pelos crimes impunes praticados pelas forças de repressão da ditadura.
Pelo direito internacional, o crime de assassinato sob tortura por agentes do Estado é imprescritível, o que significa que, a qualquer tempo, os criminosos podem ser indiciados e julgados, mesmo após décadas. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal já considerou que a Lei de Anistia, de 1979, afastou essa possibilidade. Mas tal entendimento sofre oposição interna e contestação internacional em fóruns dos quais o Brasil é signatário, como a Corte Interamericana dos Direitos Humanos.
Isso significa que, mesmo tratando de um crime ocorrido há mais de 50 anos, “Ainda Estou Aqui” é um filme de atualidade, sobre a permanência no cenário político de traumas e conflitos não resolvidos do período ditatorial. E a polarização política dos últimos anos tem relação óbvia com esses fatos. Com base no filme, as provas podem abordar o assunto sob vários ângulos. É bom estar preparado.
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