Filho de um coronel do cacau, Jorge Amado cresceu em Ilhéus e era fascinado pelo povo, costumes e histórias da Bahia. Basta acompanhar um ou outro capítulo para entender que não é ao acaso que José Inocêncio, protagonista da novela ‘Renascer‘ tem este como seu escritor preferido. O cenário e mesmo a atmosfera fantástica dos livros de Jorge Amado são os mesmos da novela – e o autor até ganhou seus minutinhos de divulgação gratuita em horário nobre na Rede Globo, com referência direta a livros como “Capitães da Areia“.
Um dos mais populares escritores do Brasil, Jorge Amado tem uma trajetória ímpar. Escreveu livros que viraram novelas, e outros que entraram para a lista de obras obrigatórias em grandes vestibulares. Foi militante comunista, mas não enxergava a religião como o “ópio do povo”, como disse Karl Marx. Seus romances lhe renderam a fama de contador de histórias, no entanto, quem o conhecia de perto, sabia que era sobretudo um exímio ouvinte.
Conheça um pouco da trajetória e obras do escritor.
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Berço baiano
Jorge Leal Amado de Faria nasceu no município de Itabuna, sul da Bahia, em 10 de agosto de 1912, mas é uma cidade litorânea a pouco mais de 30 quilômetros dali que tornou-se seu lar. Em 1913, o fazendeiro de cacau João Amado de Faria e sua esposa Eulália Leal Amado mudaram-se para Ilhéus, levando junto o primogênito de apenas um ano de idade. Circulando entre coronéis e trabalhadores das fazendas de cacau do pai, Jorge passou boa parte da infância solitário, sem a companhia de outras crianças, mas já em contato com histórias e personagens que ganhariam o mundo em seus romances décadas mais tarde.
Aos 14 anos, mudou-se para Salvador para concluir os estudos secundários, e encontrou seu segundo lar. É na capital baiana que se aproximou da literatura, fundando com outros jovens escritores a Academia dos Rebeldes, que publicava textos em jornais próprios e independentes. Salvador, assim como Ilhéus, virou cenário de várias obras famosas do escritor, como “Bahia de todos-os-santos“, “Jubiabá“, “Capitães da Areia” e “Dona Flor e seus dois maridos“.
“O Brasil do Jorge Amado é o Brasil da Bahia”, afirma a biógrafa do autor, Joselia Aguiar. Em uma aula pública sobre o escritor, Joselia atribui o senso de humor sarcástico, a atmosfera fantástica e o teor místico e religioso das histórias contadas pelo autor à sua ardorosa vivência na Bahia.
Na literatura, Jorge Amado é usualmente classificado na segunda fase do Modernismo – mais especificamente, como um autor regionalista, ao lado de Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz.
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Militante e escritor
Um livro que iria abalar a sensibilidade do país. Foi com essa convicção que o Jorge Amado de apenas 25 anos publicou “Capitães da Areia”, em 1937. A essa altura, formado em Direito pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), já era autor de outros cinco romances – “O País do Carnaval” sendo o primeiro deles. Mas sobretudo, era militante ativo do Partido Comunista, e reuniu naquela obra sobre meninos que viviam nas ruas dois anseios: ser um autor muito lido e despertar seus leitores para a ação política. Seus planos foram logo frustrados: um mês depois do lançamento, “Capitães da Areia” era retirado de todas as prateleiras.
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Era o Golpe de 1932, e Getúlio Vargas assumia o poder instaurando o Estado Novo. O Partido Comunista, do qual Jorge Amado integrava as fileiras, foi lançado na ilegalidade. O escritor chegou a ser preso e mais tarde exilou-se na Argentina e Uruguai. Só retornou ao Brasil com o fim do Estado Novo, e elegeu-se em 1946 deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro. É de Jorge Amado uma célebre lei em vigor ainda hoje que assegura o direito à liberdade de culto religioso. Também propôs uma emenda constitucional que garantiu isenção de impostos sobre o papel usado para imprimir livros, revistas e jornais, fortalecendo a indústria editorial e garantindo livros mais baratos.
Apenas um ano depois, o Partido Comunista voltou a ser considerado ilegal e seus integrantes perseguidos. Jorge Amado exilou-se mais uma vez com o filho e a segunda esposa, Zélia Gattai, agora na França e União Soviética. Ao retornar ao Brasil em 1955, encerrou a longa fase da sua vida como militante, afastando-se do partido. Sua literatura, com isso, também mudava de cara.
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“De xingado a queridinho”
Durante os anos em que esteve no Partido Comunista, Jorge Amado lançou obras que ficaram conhecidas pelo engajamento político e temáticas sociais – “Suor”, “Seara Vermelha”, “Terras do Sem-Fim” e outras. Em 1958, no entanto, um de seus grandes hits é publicado e inaugura, senão uma nova fase, uma nova cara de sua literatura. Ambientado em Ilhéus, o romance “Gabriela Cravo e Canela” explora tipos sociais, aborda os costumes e tem um tom mais despojado do que as obras anteriores do escritor.
+ “Gabriela, Cravo e Canela”: resumo da obra de Jorge Amado
O romance virou novela da Globo em 1975, com Sônia Braga no papel principal. Mais tarde, “Dona Flor e seus dois maridos” (1966) também ganhou várias adaptações para as telas. Jorge Amado consolidava-se cada vez mais como o escritor popular por excelência, com suas histórias caindo no gosto dos leitores e mesmo dos que um dia o haviam criticado por seu posicionamento político. Tal qual uma celebridade, tornou-se corriqueira notícias banais sobre o autor nos jornais, como seu gosto por sorvete ou os lugares que frequentava.
Nas palavras de Joselia Aguiar, Jorge Amado foi de “xingado a queridinho” da imprensa e dos leitores. E não apenas dos brasileiros.
Pelé da literatura
Nascido no berço do cacau, forte produto de exportação na época, o escritor baiano tinha uma postura um tanto diferente de seus contemporâneos quando se tratava de publicar e vender livros. Desde as primeiras obras, passou a viajar para países vizinhos oferecendo suas histórias para editoras estrangeiras – se poderia exportar cacau, por que não poderia fazer o mesmo com livros?
Com essa mentalidade aliada ao sucesso das suas obras por aqui e ao esforço de editores, Jorge Amado tornou-se um sucesso internacional. Seus livros foram publicados em 49 idiomas e percorreram o mundo todo. Ganhou prêmios de literatura nacionais e internacionais – como o Camões – e tornou-se amigo de grandes nomes da literatura como José Saramago, Gabriel García Márquez e Pablo Neruda.
Quando Jorge Amado faleceu, em 6 de agosto de 2001, o jornal The New York Times afirmou que ele era conhecido como o “Pelé da escrita”. Sua biógrafa discorda: “Ele veio antes, o Pelé que deveria ser chamado de ‘Jorge Amado do futebol'”, brinca.
+ “Terras do Sem Fim”: resumo da obra de Jorge Amado
Para conhecer mais sobre Jorge Amado
Jorge Amado: uma biografia
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