De acordo com a Constituição Federal, a saúde é um direito de todos e dever do Estado. Mas, na prática, o acesso a ela não é igualitário. Por isso, assim como a educação, este é um forte eixo temático a ser explorado e problematizado pelos vestibulares.
As propostas de redação envolvendo o tema podem seguir por diferentes caminhos, desde saúde física a mental. Para completar, diante do cenário pandêmico, é provável que a maioria dos assuntos tenham como pano de fundo o impacto da crise sanitária.
Entenda como a banca do vestibular pode tratar o tema saúde em uma redação a partir de 8 possíveis desdobramentos.
Vacinação
Diante da sua relevância não só durante a pandemia mas no combate a diversas outras doenças, a vacinação se firma como um tema forte para vestibulares. Felipe Leal, professor de redação do Curso Anglo, destaca que o Brasil foi historicamente referência mundial em programas de vacinação pública. Mesmo com os atrasos nas compras de vacinas contra a covid-19, o bom desempenho do país na imunização ficou evidente ao longo da crise sanitária.
“Contudo, é preciso enfrentar dois problemas em relação às vacinas no nosso país: o negacionismo e a queda da imunização para outras doenças no momento atual”, observa Leal. Um levantamento feito pelo Ministério da Saúde no início de 2022 apontou a queda da cobertura vacinal para doenças como poliomelite, caxumba, sarampo e rubéola.
“Existem diversos motivos que podem esclarecer essa queda nas coberturas vacinais. Nós vimos um descaso por conta do sucesso da própria vacinação. Quando as pessoas não escutam mais sobre casos de uma determinada doença, elas param de se importar”, afirma a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, em entrevista à CNN Brasil.
Arthur Medeiros, coordenador de redação do Poliedro Colégio de São Paulo, também aposta no tema. Segundo ele, a discussão sobre vacinação não diz respeito somente à prevenção de doenças: ela ilustra o modo como os governos tratam os problemas de saúde e a forma como a população se relaciona com a própria ciência. “O fato de que, no ano passado, foi aprovada a primeira vacina contra a malária também ajuda a ampliar a importância do tema”, completa Medeiros.
Saúde suplementar
A saúde suplementar engloba os serviços de saúde privados oferecidos por meio de empresas de planos de saúde. No ano passado, esse tipo de serviço ficou em evidência e trouxe discussões após o escândalo da Prevent Senior, revelado pela CPI da Covid.
Em agosto do ano passado, a CPI, que investigou a ação do governo federal frente à pandemia, recebeu um documento elaborado por médicos ex-funcionários da Prevent com uma série de denúncias de irregularidades. Segundo o dossiê, a rede de plano de saúde realizou estudos com medicamentos sem nenhuma eficácia comprovada contra a covid-19, como a cloroquina, e ocultou morte de pacientes.
“Levando-se em consideração, ainda, as debilidades do sistema de saúde, o papel do setor suplementar pode aparecer na redação como um gancho de discussão sobre a atuação do Estado na saúde (ou a falta dela) e sobre a relação entre acesso a ela e o poder econômico”, diz Medeiros, coordenador do Poliedro.
Saúde pública
Segundo Leal, o outro lado da moeda da saúde brasileira – o setor público – também pode ser debatido pelos vestibulares. Uma das discussões possíveis, apontada pelo professor, são os rumos da saúde pública brasileira após a pandemia de covid-19.
“Por um lado, tivemos uma demonstração das vantagens de termos um sistema público de saúde, mas, por outro, percebemos limites dele, em especial evidenciáveis nas diferenças na qualidade de atendimento entre rede pública e privada”, defende.
Epidemias no Brasil
Medeiros observa que, nos últimos anos, com o holofote da saúde quase inteiramente sobre a Covid-19, muitas doenças endêmicas e epidêmicas típicas no Brasil, como as causadas pelo Aedes Aegypti, têm sido negligenciadas. Isso levou a um enorme aumento dos índices de dengue e chikungunya, que têm impactos expressivos sobre o sistema de saúde. “Esse fenômeno pode nos levar ao questionamento sobre as fragilidades do sistema de saúde em território nacional”, afirma o especialista, demonstrando ainda que é possível fazer uma ligação entre os dois recortes.
Saúde mental
Dentro desse eixo temático, a saúde mental é um dos aspectos de maior destaque para os vestibulares. Entre as diversas possibilidades de abordagem, Felipe Leal, do Anglo, aponta para os efeitos da pandemia na saúde mental do brasileiro. “A pandemia esteve relacionada com diversos fatores sociais que podem intervir no psicológico, como o isolamento, a falta de contato presencial com colegas e amigos e o desemprego”, explica.
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Cigarros eletrônicos
Os cigarros eletrônicos têm despertado preocupação por parte de entidades de saúde pública no Brasil – um país com uma ampla e bem sucedida campanha antitabagista há décadas.
“Mesmo com a proibição de sua comercialização, o uso dos chamados “vapes” tem penetrado a cultura jovem e foi alvo inclusive de campanhas feitas por escolas, onde o consumo tem sido cada vez maior, diz Medeiros.
“Na redação, o tema pode aparecer, por exemplo, em forma de pergunta sobre a validade da regulamentação dos cigarros eletrônicos, que ainda está em discussão na Anvisa”, completa.
Fome e insegurança nutricional
Leal chama atenção para o aumento da fome, agravada pelo desemprego e pela inflação. “Embora o combate à miséria e à fome no Brasil fosse considerado um sucesso há poucos anos, seja por períodos de melhorias econômicas ou por políticas públicas como o Bolsa Família, hoje há um forte retorno do problema”, explica.
Em 2014, o Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome. Mas uma pesquisa do IBGE divulgada em setembro de 2020 analisou dados de junho de 2017 e julho de 2018 e concluiu que o número de brasileiros que passam fome voltou a aumentar. Em cinco anos, cresceu em cerca de 3 milhões o número de pessoas sem acesso regular à alimentação básica.
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Falta de saneamento básico
O professor do Anglo aponta outro problema crônico e persistente no Brasil: saneamento básico precário. “A problemática é agravada pela crise econômica, já que mais brasileiros passam a morar em zonas de risco, sem saneamento básico, além de faltarem mais recursos por parte do Estado devido à queda de arrecadação”, diz.
Dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) revelam que mais de 35 milhões de pessoas no Brasil não têm acesso a água tratada. Além disso, quase metade da população não possui atendimento de rede de esgoto nas residências, e apenas 46% do montante gerado é tratado.
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