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Enem: Professores comentam o tema da redação

Coletânea indicava a necessidade de problematização da intolerância

Por Guilherme Eler
Atualizado em 16 Maio 2017, 13h40 - Publicado em 6 nov 2016, 23h13

O 2º dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) trouxe como tema de redação: “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Os estudantes tiveram 5h30 para produzir um texto dissertativo-argumentativo, além de responder 90 questões das provas de Linguagens e Matemática.

Segundo Gabriela Carvalho, coordenadora de Redação do curso e colégio Poliedro, a proposta de redação não foi inesperada. “Para o aluno, foi um tema relativamente tranquilo. Dependendo de como ele estudou o tema do ano passado, pôde perceber que a nossa sociedade é intolerante em geral.”

Saray Azenha, diretora do curso pré-vestibular Oficina do Estudante, em Campinas, aponta as temáticas sociais como bastante recorrentes no exame de redação. Lembrando da prova do ano passado, em que o tema foi “A persistência da violência contra a mulher”, a professora diz que tal discussão sobre intolerância não seria muito difícil de ser transferida para o aspecto religioso.

O problema, no entanto, era não deixar que as possibilidades do tema desviassem o texto da formulação de uma proposta de intervenção. Tal dificuldade foi recorrente em 2015, quando muitos optaram por falar sobre o feminismo, que era apenas um recorte do tema, não a problemática em si.

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Para Saray, o próprio enunciado do tema resumia o que o aluno deveria fazer. A palavra “combater” sinalizava para que se tratasse a intolerância como algo a ser reprimido. “Não se pediu para comentar sobre os credos”. Experiências pessoais e particularidades, portanto, deveriam ser evitadas. A coletânea, para a professora, foi bastante precisa nesse sentido, por dar provas de que isso de fato acontecia no país, com dados e exemplos mais gerais.

A prova dispunha de quatro textos de apoio, entre eles, um trecho da Constituição Federal e uma nota do Ministério Público sobre a laicidade do Estado. Dois excertos de reportagens fechavam a coletânea, destacando a violência religiosa como crime inafiançável e o número de denúncias sobre discriminação. A dissertação deveria obedecer o formato argumentativo, com proposta de intervenção que considerasse os direitos humanos.

“Gostei muito da coletânea. Havia um texto que falava sobre o Estado laico, o que talvez fosse uma cutucadinha na bancada evangélica, mas eram todos textos mais objetivos e menos opinativos”, diz Gabriela.

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Para Saray, a prova promoveu o resgate de um tema recente e chocante. A intolerância religiosa obteve grande destaque no mês de julho de 2015, quando uma menina de 11 anos, que possuía ligação com o Candomblé, foi apedrejada no Rio de Janeiro. A agressão aconteceu enquanto a jovem seguia com parentes e irmãos de santo para um centro espiritualista, e foi atribuída a um grupo de cristãos evangélicos.

Propostas como o aumento da punição e fiscalização de ações de intolerância, aulas de história das religiões nas escolas e retirada de símbolos religiosos de locais públicos, foram apontadas pela professora Gabriela como possíveis de serem utilizadas na situação problema.

A nota da redação será divulgada apenas em 19 de janeiro. O gabarito oficial está previsto para o próximo dia 9, quarta-feira.

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