No Enem e nos vestibulares, a resposta pode estar na pergunta

Para fazer o Enem, a primeira coisa a saber é que o exame cobra do aluno a “competência leitora”, ou seja, a sua capacidade de entender o que está lendo em cada questão apresentada. Com concentração, leitura atenta e comparação entre as informações fornecidas na pergunta e as opções de solução, você pode responder corretamente a diversas questões do exame – ou seja, a resposta pode estar na pergunta! Outra parte das questões, mesmo quando pressupõe conhecimentos de conteúdos do Ensino Médio, também exige do aluno boa capacidade de entender informações expressas nas mais diversas formas, com textos e imagens.

Uma característica pedagógica dominante no Enem é que boa parcela das questões traz, nos elementos que apresenta aos alunos, informações que permitem encontrar a resposta certa – sem que, necessariamente, a pessoa domine o assunto abordado. O objetivo principal desse tipo de questão não é medir o conhecimento do aluno a respeito de um conteúdo, mas a sua capacidade de, ao ler o enunciado, raciocinar e extrair as informações que indicam a solução correta. Os vestibulares também estão exigindo, cada vez mais, essa mesma competência.

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Neste texto, quando usamos o verbo “ler”, não estamos tratando apenas de textos escritos, mas também de fotografias, mapas, ilustrações, gráficos e tabelas. Todas essas formas de comunicação carregam informações cuja leitura e compreensão são fundamentais para um bom desempenho em todas as áreas da prova.

Veja abaixo quatro questões do Enem 2023, das quatro áreas, que trazem as informações embutidas nas perguntas. Analisamos cada uma delas, mostrando que, com uma leitura atenta e criteriosa do enunciado e das cinco alternativas – e com raciocínios simples –, o candidato poderia acertar todas. Mas, para começar, trazemos na sequência duas questões exemplares de competência leitora retiradas de provas anteriores do Enem.

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QUESTÃO 1 (ENEM 2008)

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Análise e resposta

Esta questão é fascinante, pois se baseia na observação do céu feita por povos distintos, com culturas diferentes, em épocas variadas. O resultado é diverso: os indígenas veem nas estrelas a figura de uma ave do ambiente no qual vivem e que faz parte de suas lendas; os europeus enxergam símbolos mitológicos (Órion) e cristãos (o Cruzeiro).

Note que essa pergunta não exige do candidato nenhum conhecimento prévio sobre astronomia ou cultura dos povos. Em suas afirmativas, a questão exige do candidato competência leitora em relação ao que está escrito (as três primeiras afirmações vêm de elementos contidos no texto) e às duas figuras, pois a afirmativa IV exige que o aluno consiga, comparando as duas imagens celestes, perceber que elas se sobrepõem apenas parcialmente, e que não são idênticas. O ponto mais claro de identificação é o Cruzeiro do Sul, que equivale à parte acima da cabeça da Ema (e o texto esclarece que se trata do Cut´uxu). A parte de baixo do corpo da Ema equivale, na outra imagem, à constelação do Escorpião.

Com isso, o aluno deve concluir que as Três Marias, na constelação de Órion, estão fora da figura da Ema, o que torna a afirmativa IV errada. Como as três primeiras afirmativas estão certas, a alternativa d é a correta.

QUESTÃO 2 – ENEM 2009

Análise e resposta

Neste caso, o Enem lança mão de uma propaganda oficial. O que a prova pretende aqui é que os candidatos coloquem um novo olhar sobre uma peça publicitária que já podem ter visto, e façam uma reflexão mais analítica do que a do cotidiano, quando são bombardeados por anúncios e sofrem sua influência de forma quase inconsciente. Assim, o exame nos leva a prestar atenção nas imagens e frases, buscando tirar conclusões de cada par. Para ir bem no Enem, precisamos fazer tudo isso com calma e concentração.

Um detalhe importante da pergunta é que pede ao aluno que aponte “uma” das estratégias persuasivas da publicidade, o que não exclui que a campanha publicitária envolva outras. Para obter a resposta certa, basta que seja apontado um elemento usado na propaganda.

Nesta questão, algumas alternativas são descartadas mais facilmente, como a, b e c, pois são inconsistentes. A alternativa e é afastada ao prestarmos atenção na terceira imagem, que mostra uma criança – a propaganda também alerta para as graves consequências do fumo passivo. A alternativa certa, a d, aponta uma das estratégias da campanha: afirmar que o fumo provoca problemas respiratórios. Na peça também se afirma que fumar prejudica as crianças, causa câncer de boca e perda dos dentes, prejudica os fetos e intoxica as pessoas. Caso fossem apontados, esses pontos também estariam certos.

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Dica importante

Como boa parte das questões do Enem se baseia na leitura e na compreensão da questão, não se intimide quando, durante a prova, parecer a você que não tem nenhum conhecimento do assunto abordado (como certamente aconteceu com 99% dos candidatos ao verem uma pergunta sobre constelações na cultura indígena). Ao ler com calma a questão, incluindo as cinco opções de resposta, você terá uma ideia mais clara sobre seu grau de dificuldade dela. Eventualmente, chega-se à resposta excluindo as alternativas que você facilmente conclui que estão erradas e refletindo cuidadosamente sobre as restantes.

Competência leitora no Enem 2023

Na sequência, analisamos quatro questões do Enem 2023, das quatro áreas do conhecimento. Mostramos, passo a passo, como usar sua compreensão leitora, seu raciocínio e seus conhecimentos para chegar à resposta. Para um melhor aproveitamento dos textos, sugerimos que você, primeiro, faça uma leitura criteriosa das questões e tente resolvê-las, para só depois ler a explicação.

QUESTÃO ENEM 2023 – LINGUAGENS E CÓDIGOS

Análise e resposta

Essa questão aborda a elaboração de um dicionário com termos que a população do Ceará usa para sintomas orgânicos. O assunto, em seu sentido geral, aparece mais de uma vez na prova: as variações linguísticas existentes de forma natural em qualquer idioma. O texto usado é do portal noticioso G1, ou seja, é jornalístico e informativo.

Não se espera, nessa questão, que o estudante tenha conhecimentos prévios sobre termos médicos ou doenças. O que se pede é que, tendo lido a notícia, consiga entender seu sentido mais geral.

A questão pede que se aponte o objetivo do trabalho feito pelos pesquisadores. Podemos afastar a letra a, porque não se busca “apontar erros”; a feitura de um dicionário também não se presta a “explicar problemas” causados pela falta de comunicação, o que descarta b; em nenhum momento se fala que fizeram descobertas de sintomas novos, o que elimina c, nem que divulgaram novas doenças, o que invalida e.

A resposta certa é a letra d: como o texto explica, o objetivo do dicionário é levantar com a população termos de uso local (como defruço, chanha…) usados para explicar sintomas, e que os médicos pudessem não entender, gerando diagnósticos errados. O dicionário é voltado para os médicos, ou seja, uma ferramenta para propiciar “melhor compreensão dos sintomas dos pacientes”.

QUESTÃO ENEM 2023 – CIÊNCIAS HUMANAS

Análise e resposta

A questão apresenta ao aluno uma tirinha da consagrada cartunista Laerte, atuante na imprensa brasileira há mais de 40 anos. Veja que, aqui, a “competência leitora” testa a compreensão de um desenho em quadrinhos, relacionada ao enunciado da pergunta, pois a questão pede que se identifique qual o anseio da sociedade contemporânea. Essa é a palavra-chave que o estudante deveria localizar na frase, e que significa desejo, aspiração.

Assim, não pode ser a letra a, pois não há “anseio” pela “situação de revolta”; nem a d, pois não se aspira à passividade social. As demais, exigem um pouco mais de atenção. Devemos afastar a letra e, pois “conivência em interesses partidários” é algo negativo, que não estaria associado a uma aspiração da sociedade. Com relação às alternativas restantes, deve-se afastar a b, pois o fato de que a personagem quer “poder político” esclarece que ela não quer apenas satisfazer “interesses pessoais” (que podem ser de qualquer tipo), mas aspira particularmente por “participação em ações decisórias”, ou seja, por decidir sobre os rumos da sociedade, o que caracteriza o poder político.

QUESTÃO ENEM 2023 – CIÊNCIAS DA NATUREZA

Análise e resposta

Essa questão exige, basicamente, a capacidade de “ler” um gráfico de linhas. O conteúdo de física que dá base à questão pressupõe que o aluno saiba que, quanto maior a temperatura, mais um gás se expande, e portanto maior é a pressão que exerce no interior do pneu. É um conhecimento básico, que a gente tem quando observa o que ocorre quando a água ferve na panela de pressão.

O enunciado explica que, enquanto o carro andou, a temperatura subiu. Em repouso, houve um “resfriamento”. A pressão, portanto, diminuiu. Bom, o problema começa aí. Qual gráfico “descreve” corretamente o que aconteceu com a pressão durante o período de repouso dos pneus?

O texto explica que, quando o carro parou, a temperatura era T0, e, depois de resfriar, a temperatura ficou em T. Logo, o primeiro dado é que T é menor do que T0. Logo, está à sua esquerda, pois a seta na linha de base do gráfico indica o sentido de crescimento dos valores. É o caso de todas as alternativas apresentadas.

Segundo ponto: à medida em que o pneu esfria, a pressão diminui. Note que o P0 é a pressão no momento em que o carro parou (está informado no texto, e, nos gráficos, o ponto de partida é sempre a intersecção entre P0 e T0, indicado pelas linhas pontilhadas). Assim, podemos descartar as alternativas c e d, pois na evolução de T0 para T, a linha do gráfico mostra a pressão aumentando.

Afastamos em seguida a alternativa b, pois ela mostra a pressão inalterada durante o tempo decorrido entre T0 e T. Por fim, podemos considerar errada a opção a, pois a pressão fica inalterada no transcurso entre T0 e T, diminuindo de uma vez só sem explicação.

Naturalmente, a pressão foi diminuindo gradativamente enquanto o pneu ia resfriando entre T0 e T. Isso é o que está mostrando a evolução da linha na opção e, que é a correta.

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QUESTÃO ENEM 2023 – MATEMÁTICA

Análise e resposta

Vamos insistir com mais uma questão de gráfico de linhas. Essa não exige nenhum conhecimento prévio de operações matemáticas, mas a “capacidade” de ler as informações do gráfico. Veja: as ordenadas (a linha que sobe) mostram a evolução da criptomoeda B, e as abscissas (a linha na base do gráfico, que vai para a direita), a da criptomoeda A. As duas retas têm a mesma variação de grandeza, ou seja, intervalos regulares iguais, indicado milhar(es) de reais.

O que se pede é, “apenas”, dizer em quantos momentos a criptomoeda A estava mais valorizada que a B. Vamos ler o gráfico ponto a ponto, ou seja, hora a hora:

• às 9h, o ponto indica que a criptomoeda A valia R$ 3 mil, e a B, cerca de R$ 500;
• às 10h, as duas estavam empatadas em R$ 2 mil;
• às 11h, as duas estavam empatadas em R$ 4 mil;
• às 12h, a criptomoeda A valia cerca de R$ 5,5 mil, e a B, R$ 3 mil;
• às 13h, a criptomoeda A valia R$ 6 mil, e a B, cerca de R$ 1,5 mil;
• às 14h, a criptomoeda A valia cerca de R$ 3,5 mil, e a B, R$ 2 mil;
• às 15h, a criptomoeda A valia cerca de R$ 2,5 mil, e a B, R$ 4 mil;
• às 16h, a criptomoeda A valia R$ 1 mil, e a B, R$ 5 mil;
• às 17h, a criptomoeda A valia cerca de R$ 500, e a B, cerca de R$ 3,5 mil.

Portanto, a criptomoeda A valia mais do que a B às 9h, às 12h, às 13h e às 14h. Total de quatro vezes, a certa é a alternativa b.

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