Você sabia que o Enem já foi roubado? Entenda o caso neste livro
Obra da jornalista Renata Cafardo conta sobre o crime ocorrido em 2009 envolvendo a prova
O possível vazamento de questões do Enem 2025 em uma live no Youtube não é o primeiro (e nem o maior) escândalo envolvendo a aplicação da prova. Em 2009, o Exame Nacional do Ensino Médio foi personagem de uma trama de suspense, crime e investigação — digna das telas de cinema. Registrado pelas mãos da jornalista Renata Cafardo, que na época era chefe de reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, o caso do furto dos cadernos de questões mais esperados do Brasil deu origem ao livro “O roubo do Enem: A história por trás do vazamento da principal prova do país”.
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Publicada pela editora Record em 2017, a obra narra o processo de apuração jornalística conduzido por Renata desde o telefonema que recebeu lhe oferecendo o Enem por R$ 500.000 até os desdobramentos do escândalo.
Vale lembrar que 2009 foi um marco para a aplicação da prova no território brasileiro. Após uma profunda reformulação, encabeçada pelo ministro da educação da época, Fernando Haddad, o Enem passaria por sua primeira edição como uma forma de seleção nacional simultânea.
Na prática, a nota valeria como ingresso para diversas universidades públicas e particulares, com uma prova menos conteudista e mais interdisciplinar — ao contrário do que era visto nos vestibulares tradicionais do período. Antes com apenas 63 questões, a partir dali seria composto por 90.
Além disso, cerca de quatro milhões de jovens estavam inscritos naquela edição, que foi cancelada dois dias antes da data marcada pelo Ministério da Educação (MEC).
Conheça um pouco dos bastidores e desdobramentos do caso relatados no livro de Renata Cafardo.
Do telefonema à manchete
O livro-reportagem se inicia com o encontro entre Renata (que estava acompanhada de seus colegas Sergio Pompeu e dois fotógrafos, por segurança) e os autores do roubo, ocorrido em um café no bairro de Perdizes, na cidade de São Paulo.
Ela foi procurada via telefone por pessoas que já a conheciam como jornalista de educação. O objetivo: vender a maior prova do país para um jornal, na esperança de fornecer um “furo” de reportagem – o que não condiz com a ética jornalística. Uma característica notável da obra é o fluxo de escrita, semelhante a uma conversa: existem idas e vindas, ora conta sobre um fato, ora retoma outro que aconteceu anteriormente ao primeiro.
Ao ver as folhas do exame trazidas em uma pasta preta, a autora — que também é personagem da obra – reconheceu na hora que realmente se tratava do Enem. Símbolos conhecidos, como a logo da Connasel (a empresa contratada para aplicar aquela edição), do Inep e outras siglas entregaram a legitimidade do caderno mostrado para a repórter.
“Uma bandeira do Brasil, com a parte verde desfalcada. Desmatamento, pensei. A tirinha da Mafalda, essa vou lembrar. Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá. Passei a mencionar em voz um pouco mais alta detalhes curiosos das questões, na intenção de que o gravador captasse.”
“O roubo do ENEM: A história por trás do vazamento da principal prova do país“, página 20
Grávida pela segunda vez e passando por problemas pessoais, a profissional tinha certeza de que passaria por uma mudança drástica em sua vida, mas não sabia que sua carreira também tomaria um rumo diferente tão rápido.
Entre informações sobre a grandiosidade daquele Enem, dados sobre educação e relatos de concorrentes, Renata volta a contar sobre o encontro no café. O esquema de checagem, fundamental para um fato se tornar notícia, contava com o alto-escalão do Estadão e telefonemas e e-mails a Fernando Haddad e assessores de imprensa do MEC. Tudo foi registrado para demonstrar a transparência no processo.
Enquanto o ministro verificava se a jornalista havia visto a prova, a dupla Renata e Sergio rascunhava o que seria a matéria sobre o roubo do Enem, com receio de perderem o último fechamento d’O Estado de S.Paulo (ou seja, o prazo-limite para finalização das matérias que farão parte de uma edição de jornal). Uma pane no maquinário da gráfica atrasou a impressão e garantiu um tempo extra para que a jornalista finalizasse a matéria.
Após desejar boa noite a Fernando Haddad — que ligou avisando que não havia encontrado as pessoas certas para fazer o encontro das informações e, pelo horário, iria dormir —, a chefe de reportagem continuou pressionando Nunzio Briguglio, assessor de imprensa do ministro, e Maria Fernanda Conti, que cumpria a mesma função no Inep.
“A avaliação precisava ser anulada. O assessor respondeu com outra pergunta:
— Que manchete você quer amanhã, Fernando? ‘MEC cancela Enem’ ou ‘Enem sob suspeita’?
O ministro preferiu a primeira opção.”
“O roubo do ENEM: A história por trás do vazamento da principal prova do país“, página 71
Entre o telefonema dos criminosos e o último ponto-final daquela matéria passaram-se apenas 24 horas. A manchete, “Prova vaza e MEC decide cancelar o Enem”.
Renata comenta sobre o caso envolvendo Enem 2025
Na noite de 17 de novembro, após o segundo domingo do Enem 2025, estudantes começaram a apontar nas redes sociais semelhanças entre questões que apareceram nesta edição do exame e enunciados transmitidos em uma live no Youtube, ocorrida cinco dias antes da aplicação.
Edcley de Souza Teixeira, que se denomina mentor de um curso pré-vestibular e estuda Medicina, afirma em suas propagandas ser o “único monitor do país a realizar o pré-teste do Enem 2025”. Ele teria “antecipado” as questões deste ano após pagar para que outros estudantes realizassem uma prova onde o Inep testa as questões do Enem. O valor oferecido era de R$ 10 por questão decorada.
+ O que disse Edcley Teixeira na primeira entrevista sobre questões “antecipadas” do Enem 2025
As investigações sobre o suposto vazamento seguem em andamento, de acordo com órgãos oficiais. Três das questões apontadas na internet foram anuladas pelo Inep e, nesta terça-feira (25), o portal G1 apontou outros dois itens que teriam sido vazados pelo homem.
Renata Cafardo publicou um vídeo em seu perfil no Instagram comentando o caso, já que Edcley chegou a referenciar o livro da jornalista como uma de suas fontes para entender as engrenagens do Enem.
O denunciado deu a entender que a obra mencionava a prova do Prêmio CAPES Universitário (por onde ele acessou as perguntas deste ano) como um dos meios de testagem das questões do exame. Entretanto, o prêmio sequer existia em 2017, na época de publicação de “O roubo do ENEM: A história por trás do vazamento da principal prova do país“.
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