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1º lugar na Medicina da USP Ribeirão estudou sozinha e “gabaritou” redação

Gabriella Marucci conta como desapegou de "regras" e adotou um método intuitivo e flexível de estudos. Veja dicas e inspire-se para montar o seu cronograma

Por Juliana Morales
Atualizado em 15 fev 2023, 13h39 - Publicado em 15 fev 2023, 11h51
Gabriella, com uma blusa roxa e óculos pretos, mostra os braços com os nomes das universidades: Unicamp e Unesp. Ainda tem pintado com tintas coloridas no seu busto "USP"e "MED"
 (Arquivo Pessoal/Reprodução)
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Será que seguir um cronograma de conteúdos bem rígido, numa rotina frenética de estudo, sem tempo algum de lazer, é o grande segredo para a aprovação no vestibular? Gabriella Ferreira Marucci, 17 anos, nunca acreditou nisso. A jovem de São Carlos, interior de São Paulo, apostou em um esquema pautado na flexibilidade para organizar seus estudos. Isso, aliado a uma base sólida de conhecimento, garantiu a ela o primeiro lugar de Medicina na Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto, neste ano. E ainda a aprovação na Unicamp e na Unesp em sétimo lugar.

Em 2022, durante o terceiro ano do Ensino Médio, as aulas de Gabriella eram de manhã. Em dois dias da semana, ela tinha aulas extras no período vespertino. Nos dias em que tinha as tardes livres, estudava sozinha, em casa. “Eu não tinha uma rotina fixa ou aquela regra de ficar, por exemplo, das 14h às 20h compenetrada, todos os dias”, conta a jovem.

Isso não significa que ela não tinha um planejamento. Todo início de semana, Gabriella organizava o que ia estudar nos próximos sete dias. A meta, então, era terminar os conteúdos que tinha separado para cada dia, sem ficar presa na ideia do tempo ideal de estudo. “Às vezes, eu terminava mais cedo, às vezes, mais tarde”, explica.

Aos sábados e domingos, focava na redação e em praticar o que aprendeu com provas de anos anteriores e simulados, além de separar momentos de lazer e relaxamento. Nesses dias, também não tinha um tempo definido para nada. Tinha finais de semana que estudava praticamente o dia todo. Em outros, estudava só de manhã e descansava o resto do dia. “Variava bastante, mas eu sempre buscava equilibrar”, relembra.

Para saber qual era esse equilíbrio, Gabriella conta que tinha o cansaço como referência. “Era um pouco intuitivo”, comenta. “Quando eu percebia que não estava conseguindo absorver mais o conteúdo, eu parava e deixava para continuar no dia seguinte”, completa.

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Foco na segunda fase

A escolha dos conteúdos que seriam vistos em cada semana também seguia de acordo com sua própria necessidade, levando em consideração, em especial, as disciplinas que seriam cobradas na prova específica da segunda fase. No caso de Medicina, o segundo dia de prova é composto por questões de Física, Química, Biologia e Geografia.

“Para aprender bem o conteúdo e ter segurança para responder as questões, entendi que precisava de mais tempo e mais prática em exatas. Então, eu separava 40 questões para resolver de Física, enquanto de História eu fazia em torno de uns 10 exercícios, por exemplo”, conta Gabriella.

Nas semanas que antecederam a segunda fase da Fuvest, a estudante se concentrou em fazer provas antigas desta etapa desde 2016. Além dos conteúdos cobrados, ela também se preocupava com a escrita clara e objetiva que as questões dissertativas desta fase exigem. Após responder, ela fazia uma autocorreção: buscava as resoluções dos exames nos sites dos cursinhos, como o Anglo Resolve e o Oficina Resolve, e comparava com as suas.

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Vale acrescentar que a Unicamp e, mais recentemente, a Fuvest também passaram a fornecer as respostas esperadas das questões, o que é uma ótima forma de entender o que a banca quer dos candidatos.

“Existem várias técnicas de estudo, mas no geral acredito que a melhor forma de aprender é fazendo as questões. Eu não era muito apegada a resumos ou anotações. Eu assistia às aulas, às vezes anotava no próprio livro, e já ia direto para as resoluções de exercícios”, ressalta a jovem.

Redação nota máxima

Um fator determinante para Gabriella na sua aprovação e na colocação em primeiro lugar foi a nota máxima na redação da Fuvest. Nesta edição, 14 candidatos alcançaram esse feito ao escreverem sobre a questão dos refugiados ambientais e a vulnerabilidade social.

“Quando eu vi o tema, não gostei muito. Achei que a prova tinha mudado um pouco, com uma proposta mais social, com cara de Enem”, confessa. O estranhamento de Gabriella se deu por conta do vestibular da USP ter uma tradição de abordar temáticas mais abstratas e filosóficas – como a da edição de 2022, que tratava das “diferentes faces do riso”. Apesar disso, ela respirou, leu os textos de apoio e começou a jogar suas ideias no rascunho. Na hora de escrever, manteve a mesma estrutura que treinou para a prova da Fuvest. Deu certo.

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Gabriella conta que tinha a vantagem de ter se dedicado bastante em redação no segundo ano do Ensino Médio, portanto, tinha muita base de escrita. Para completar, ela fez um curso específico de redação, mas não era toda semana que conseguia elaborar um texto. Tratava isso com naturalidade e entregava sempre que possível.

O diferencial, segundo ela, foi aperfeiçoar tanto seu vocabulário como o repertório. Para esse primeiro ponto, ela lia diversas redações nota máxima de anos anteriores disponíveis na internet, em sites como o GUIA DO ESTUDANTE, e ia grifando e circulando palavras e conceitos que ela acreditava que poderiam agregar nos seus textos. Ela registrava todo o novo vocabulário em um caderninho para poder revisar mais facilmente quando ia estudar redação.

Em relação ao repertório, a chave foi fugir da decoreba. “Eu não simplesmente memorizava várias citações de filósofos. Sempre que me deparava com uma frase eu buscava entender de onde veio esse pensamento, qual era o contexto, para assim enriquecer minha argumentação”, conta.

Caderninho de vocabulário, com várias palavras escritas em formato de lista
(Arquivo Pessoal/Reprodução)

Confira a redação da Gabriella que recebeu 50, pontuação máxima, na Fuvest 2023

 

Redação nota máxima da Fuvest
(Arquivo Pessoal/Reprodução)

 

Capitaloceno e o refugiado ambiental: degeneração neoliberal e ‘’Necropolítica’’

O sistema político-econômico neoliberal, difundido no século XXI, substancializa o axioma de máxima reprodução da lucratividade mediante a massificação do consumo neoliberal calcado na superexploração dos recursos naturais e na petrificação da sobreposição do homem ao meio natural para a consolidação do Capitaloceno – signo para a era geológica hodierna na qual a intensificação da presença de poluentes atmosféricos, a fragmentação de ecossistemas e as mudanças climáticas ameaçam não somente a preservação da biodiversidade animal e vegetal, como também a própria sobrevivência antrópica no planeta. Dessa maneira, desdobramentos migratórios forçados em razão da fragilização ambiental, aspecto fulcral da reverberação moderna do Capitaloceno, elegem a alienação do indivíduo na instrumentalização do capital e a desestruturação da ordem democrática.

‘’A priori’’, o hodierno é permeado pelo viés capitalizante engendrado ao fundamentalismo neoliberal da sociedade utilitarista. Acerca disso, consoante o ativista indígena Ailton Krenak, em ‘’A vida não é útil’’, a reverberação do capitalismo como normatizador do tecido social manifesta a imperatividade do modus vivendus do consumismo material, de modo que o homem, anteriormente inserido nas coletividades agrárias tradicionais, pautadas na visão da natureza como integrante da subjetividade mística e cultural e na utilização dos recursos naturais para a subsistência e para a preservação das gerações futuras, torna-se ensimesmado na lógica mercadológica da perspectiva utilitarista da natureza, na qual a fauna e aflora são meros recursos exploráveis para o progresso materialista da sociedade capitalizada. Nessa perspectiva, o refugiado ambiental, ao se deslocar compulsoriamente do seu meio natural- fragilizado- para o tecido social alienado no apogeu do Neoliberalismo, instrumentaliza-se como homo economicus marcado pelo imperativo do poderio financeiro como símbolo de ascensão social e pela exploração da mão de obra produtiva para obtenção de remuneração rentária irrisória. Assim, reitera-se a coercitividade da visão utilitarista da natureza- intrínseca ao Capitaloceno- em detrimento da interação harmônica homem-meio. 

Considera-se, por conseguinte, a vulnerabilidade social do refugiado ambiental- deslocado forçadamente para se inserir na égide do capital da sociedade- é salientada pelo desmonte da cidadania desse estrato social. Sob esse viés, segundo o teórico Achille Mbembe, em ‘’Necropolítica’’, nas coletividades hodiernas, a exclusão social sedimenta-se diretamente, com a legitimidade do emprego da violência pelo grupo social hegemônico para a eliminação de uma minoria da população, e indiretamente, com a não fruição das prerrogativas assistencialistas e dos direitos sociais institucionalizados. Nesse sentido, o refugiado ambiental, na migração compulsória, estrutura-se como minoria subalternizada na nova configuração social e é alijado do acesso à cidadania para a manutenção de seu locus social de subalternidade, de maneira que a não fruição de políticas assistencialistas de distribuição de renda, de acesso à educação e à saúde, nas sociedades neoliberais nas quais a consolidação da cidadania plena é determinada pelo elevado poderio financeiro do indivíduo, assegura o cerceamento dos direitos humanitários desse grupo. Desse modo, a normatização do refugiado ambiental como minoria na lógica de exclusão social reitera o desmonte da isonomia social e da cidadania na ordem democrática para a prevalência do status quo de vulnerabilidade social. 

Em suma, o refugiado ambiental emerge no contexto hodierno de degeneração ambiental determinante do Capitaloceno, calcado na égide do capital no Neoliberalismo. Portanto, sua vulnerabilidade social substancializa-se na alienação na lógica de exploração do homo economicus e no desmonte do Estado Democrático de Direito, pautado na universalidade da cidadania, pela consolidação da ‘’Necropolítica’’.

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Ah, e para você que chegou até o final deste texto e quer muito passar no vestibular, vale lembrar que a trajetória e a realidade de cada estudante é única e não cabe comparações. Conhecer a história da Gabriella e de outros candidatos que tiveram ótimo desempenho é uma ferramenta para se inspirar, pegar dicas de estudo e estratégias de prova, sempre adequando ao seu estilo e, principalmente, à sua realidade.

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1º lugar na Medicina da USP Ribeirão estudou sozinha e “gabaritou” redação
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