Entre um exercício e outro sobre logaritmo ou enquanto você lê um capítulo sobre o período regencial, o cachorro começa a latir, seu irmão entra no quarto, sua mãe pede ajuda com algo no computador e seu pai pergunta se você consegue ajudá-lo com o almoço. Terminar um parágrafo sem interrupções ou ter aquela concentração que você conseguia quando estudava em outros espaços às vezes parece um desafio impossível durante o estudo remoto.
“A dinâmica familiar durante a quarentena colocou a residência como o local onde os integrantes da família realizam todas ou grande parte de suas atividades. Inevitavelmente vai haver mais conversas e barulho”, diz Bárbara Souza, psicóloga do Serviço de Atendimento Psicológico (SAP) do Curso Anglo. Mesmo após o fim do isolamento social, estudar em casa se tornou uma realidade de muitos estudantes e esses problemas continuaram a existir.
Além de questões práticas, como espaço e barulho, existe um fator que torna essa situação ainda mais complicada: a falta de empatia. “A própria família pode não compreender que há momentos em que os estudantes precisam estar totalmente focados para poderem alcançar seus objetivos”, explica Maria Catarina Bózio, coordenadora pedagógica do Ensino Médio do Colégio Poliedro.
Converse com eles
Visando a compreensão e o apoio dos familiares, o diálogo é a melhor forma de tentar esclarecer a necessidade de estudar e dificuldades que enfrenta. Nessa conversa, a empatia de ambas as partes é fundamental para melhorar a dinâmica no dia a dia.
Explicar aos familiares sobre como é sua rotina de estudos é o primeiro passo. Isso inclui detalhar os horários e a quantidade de tempo necessária para dar conta de tanto conteúdo, pois os pais muitas vezes não compreendem a diferença entre o momento de assistir às aulas e o momento de se estudar aqueles conteúdos.
Um segundo passo é explicar que as interrupções e os barulhos interferem na concentração, o que pode provocar maior demora na conclusão das tarefas diárias. Combine com as pessoas que estão convivendo na mesma casa que evitem interrupções durante os momentos de estudos, para que, assim, você obtenha maior produtividade. “Um diálogo transparente é essencial para alcançar o equilíbrio entre tempo de dedicação e tempo com a família ou com amigos (por meio de videoconferências e ligações), importante para evitar abalos psicológicos”, diz Bózio.
Segundo a coordenadora, reforçar os objetivos de carreira também é importante para que todos estejam engajados na causa e para que apoiem ao máximo o aluno.
Entendendo o outro lado e respeitando os limites
Ao longo de todo esse processo, lembre-se de manter uma comunicação clara e paciente. Evite a rispidez, afinal a quarentena trouxe mudanças para todos, não só para você. Tenha consciência que as ansiedades, inseguranças e receios também atingem as pessoas que moram com você.
Souza explica que é bastante compreensível que os pais fiquem preocupados com a sobrecarga de estudos dos filhos, especialmente porque antes eles não viam a quantidade de tempo dedicada aos estudos, não acompanhavam tão de perto o quanto isso ocupava o dia dos filhos. Por isso, esclarecer a rotina, como já foi mencionado, é tão relevante.
“Os filhos podem buscar, especialmente no caso dos vestibulandos, explicar as etapas, por exemplo: quantas horas são necessárias para assistir às aulas do dia? Quanto tempo demora para estudar essas aulas? E os pais podem auxiliar os filhos a perceberem o cansaço ou a necessidade de parar, descansar, mas sem sobrecarregá-los com sua preocupação”, diz a psicóloga.
Fazer um acordo sobre momentos de convivência, lazer e descanso juntos pode ser um bom caminho para minimizar as preocupações dos pais sem interferir na organização, no seu rendimento e garantir que você faça pausas. Mas não se esqueça que é importante se impor, quando necessário, e avisar que precisa se concentrar.
Dicas para você se organizar e fazer os estudos renderem mais em casa
Estabeleça e compartilhe sua rotina
Esclarecer a rotina de estudos e os momentos em que não pode haver interrupções ou pode fazer toda a diferença no dia a dia. Faça um planejamento e compartilhe com familiares em um local de fácil visibilidade. Além disso, combine horários para convivência, lazer e descanso com os membros da família e para tarefas domésticas em horários que não prejudiquem os estudos.
Converse
Mantenha o diálogo. É importante expressar seus sentimentos e opiniões, principalmente em um momento em que as instabilidades emocionais são potencializadas. Isso evita atritos e garante a fluidez da rotina.
O local de estudos faz toda diferença
Escolha cômodos mais reservados para os estudos e avise que, naquele momento, estará totalmente dedicado às aulas. Prefira um local organizado e limpo, com fácil acesso aos materiais que você precisará consultar. Tente sempre variar o local de acordo com a ocupação dos ambientes pelos familiares, identificando os horários de funcionamento da rotina doméstica.
Tente se adaptar
Uma alternativa é conciliar os horários de estudo dos conteúdos mais difíceis para você com os momentos em que a casa está mais tranquila, deixando os assuntos mais fáceis para quando os barulhos e as conversas estiverem mais intensos. Um exemplo é acordar mais cedo para estudar, antes dos familiares levantarem.
Empatia
Tenha paciência. Todos estão em fase de adaptação e cada um segue um ritmo diferente. Converse, explique e sempre reforce seus objetivos para conseguir o máximo de apoio possível.