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A matemática da Black Friday

Descontos de 80%? Parcelamento em 10 vezes sem juros? Como usar a matemática para não cair em pegadinhas na hora das compras

Por Luccas Diaz
Atualizado em 25 nov 2022, 11h02 - Publicado em 24 nov 2022, 15h34
a matemática da black friday
 (Karolina Grabowska/pexels/Reprodução)
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Um dos dias de maiores promoções e descontos em lojas ao redor do mundo todo está chegando! O evento conhecido como Black Friday ocorre nesta sexta-feira (25) e promete, como sempre, agitar as vendas no varejo. Os descontos alucinantes, as promoções-relâmpago e as opções de parcelamento fazem até os mais céticos torcerem o nariz e trazem a velha discussão dessa data: será que os preços realmente ficam mais baixos na Black Friday?

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10x sem juros?

Black Friday 2
(FOX via Tenor/Reprodução)

Sérgio Ghiu, professor e autor de Matemática do Sistema de Ensino pH, conversou com o GUIA DO ESTUDANTE para explicar as principais dúvidas em relação à Black Friday. Muitos anúncios nessa época do ano prometem um “parcelamento sem juros”, ou seja, a possibilidade de pagar a compra dividida em uma quantidade de meses, sem incidência de juros. Ghiu explica que, do ponto de vista da matemática financeira, não existe parcelamento sem juros.

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“Temos que entender que os juros funcionam como o ‘aluguel’ do dinheiro. Quando alugamos um bem, um imóvel, um carro, pagamos pela contraprestação da disponibilidade do bem. Se eu tenho um apartamento e o disponibilizo para uma pessoa que gostaria de usufruir da oportunidade de viver nele, essa pessoa deve me pagar uma contraprestação pelo uso. Os juros funcionam da mesma maneira. Ele é cobrado pela disponibilidade do dinheiro que eu não tenho naquele momento.”

O juros funcionam de duas maneiras: em regime simples ou em regime composto.

Os juros de mercado, a taxa financeira, a taxa de parcelamentos, todos seguem o padrão dos juros compostos. Isto é, são “juros sobre juros”. Ou seja, se João faz um empréstimo de R. 000, com taxa de juros compostos de 10% ao mês, isso significa que, no primeiro mês, ele estará devendo os R$ 1.000 iniciais mais 10% desse valor, R$ 100, totalizando R$ 1100. No segundo mês, porém, os juros, por serem compostos, não irão incidir no valor inicial de R$ 1.000 e, sim, no valor final do mês anterior: no caso, R$ 1.100. Dessa forma, no segundo mês João já estará devendo R$ 1.210. E assim vai; é o que se chama de projeção exponencial. A longo prazo, o valor final a pagar pelo empréstimo será bem maior do que o valor emprestado. O mesmo ocorre com as compras parceladas.

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Na prática, para um produto sair da loja ele precisa ser pago. E se o consumidor não tem o dinheiro para pagar à vista, alguém precisa pagar. Esse alguém é a loja, que vai emprestar o valor necessário ao consumidor e cobrá-lo parceladamente, adicionado o ‘aluguel’ pelo uso desse dinheiro de forma exponencial, os tais juros compostos. Sendo assim, é impossível uma loja fazer um parcelamento sem juros, mesmo que anunciem como tal. O que o varejo costuma fazer, incluindo o período de Black Friday, é embutir o valor dos juros no preço final do produto.

“É muito mais vantajoso pagar à vista, caso seja possível, do que pagar sem desconto nenhum e parcelado, por mais que a loja afirme que o parcelamento seja livre de juros. O desconto é apenas desembutir esses juros. Só existirá a condição do parcelamento sem juros se o valor parcelado for igual ao valor pago à vista”, aconselha o professor.

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Como não cair em pegadinhas?

Black Friday 1
“Eu estou salvando minhas energias para as filas de Black Friday!” (FOX via Tenor/Reprodução)

Durante o período de Black Friday, os economistas alertam sobre o perigo dos falsos descontos. O que muitas empresas fazem é aumentar o valor dos produtos gradativamente nos meses que antecedem a Black Friday para poder dar o “desconto” no dia. Ghiu diz que a principal dica para quem está querendo fazer compras nessa data é fazer uma análise de preço anterior. “Você só pode considerar que teve um desconto mercadológico caso você tenha feito uma análise de preço por um período e, recomenda-se, no mínimo, 3 meses, para você poder conferir se há de fato uma queda no preço.”

Sites e aplicativos, como o Buscapé, já fazem isso. Eles são uma boa ferramenta para acompanhar a oscilação de preços nos últimos meses e não cair em pegadinhas. É necessário ficar atento aos super descontos que, muitas vezes, não equivalem a verdadeira queda de preço do produto. Caso deseje usar a matemática para calcular o valor de um possível desconto, é simples.

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Se João quer saber quanto sairá um produto com 10% de desconto, basta ele multiplicar o preço original do produto por 0,9. “Isto porque um desconto de 10% é a mesma coisa que você pegar 100%, que é o valor real, tirar 10%, deixando 90%, que equivale a um fator multiplicativo de 0,9. Multiplicar qualquer quantia por 0,9 é a mesma coisa que tirar um valor de 10% nessa quantia”, explica Ghiu.

Da mesma forma, para saber se um produto aumentou em 10%, deve se multiplicar por 1,1. “É como se você pegasse 100% mais 10%, dando 110%, que corresponde a multiplicar por 1,1. Ou seja, multiplicar qualquer número, por 1,1 é a mesma coisa que ao aumentar o valor em 10%”. Esse tipo de cálculo é conhecido no mercado por “taxa de correção” ou “valor multiplicativo” e acontece, geralmente, em eventos como a Black Friday para chamar a atenção do cliente.

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Origem e significado

Black Friday 3
(FOX via Tenor/Reprodução)

Se depois de entender como funciona a matemática por trás da Black Friday, você ficou curioso para saber a história dessa data, saiba que há uma polêmica envolvendo a verdadeira origem do termo.

A data nasceu nos Estados Unidos e é sempre comemorada no dia seguinte ao feriado de Ação de Graças. Alguns historiadores afirmam que o nome “Black Friday” surgiu por causa do sistema de cores utilizado em um antigo programa de controle de vendas. Nele, um saldo vermelho indicava que a loja estava em desfalque e um preto, que estava tendo lucro. A “Sexta-feira Preta” seria, dessa forma, o dia em que as lojas, depois de passar o ano no vermelho, finalmente ficariam com a etiqueta preta no sistema.

Outros estudiosos, entretanto, contam histórias com finais não tão felizes. Acredita-se que na sexta-feira após o Dia de Ação de Graças, comemorado na 4ª quinta-feira de novembro nos EUA, a venda de escravos era feita com preços mais baixos e atraentes. Há ainda, porém, a versão que diz que o termo surgiu no estado da Filadélfia, onde no dia seguinte ao feriado de Ação de Graças, os torcedores do time de futebol Army-Navy faziam arruaças e arrumavam encrencas nas ruas após o jogo de sexta-feira. Isso fazia com que os polícias tivessem que trabalhar no dia após o feriado, sem possibilidade de emenda, e por isso o termo “Black Friday”.

Esta última versão é a mais aceita pelos historiadores e faz sentido quando se olha os dados do estado da Filadélfia. O comércio local, em uma tentativa de diminuir o teor negativo da Black Friday e aproveitar o movimento dos torcedores para incentivar as compras, começou a promover grandes descontos e promoções naquele dia. Não demorou muito e o nome pegou pelos Estados Unidos todo e entre a década de 80 e 90. a data já se tornava uma tradição do calendário americano. No Brasil, o dia de promoções ainda é bem recente – e requer muita atenção dos consumidores.

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