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Carnaval sem calor? A história real de quando o governo tentou mudar a folia para junho

Em 1892, o Brasil tentou adiar o Carnaval para junho por causa das altas temperaturas. A população ignorou, mas será que essa ideia faria sentido hoje?

Por Luccas Diaz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
3 mar 2025, 19h00
Foliões andam pelas ruas do Pelourinho em Salvador
Desfile de Carnaval em Salvador (BA), 1910. Colorida artificialmente  (Autor desconhecido/Acervo IMS/Reprodução)
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O Carnaval é a grande festa popular do Brasil, marcado por desfiles grandiosos, blocos de rua abarrotados e celebrações que tomam conta do país. Mas você sabia que, em 1892, houve uma tentativa de mudar a data da folia para junho? Isso mesmo: por decisão governamental, a festa foi oficialmente adiada para o meio do ano. O argumento era que as temperaturas mais amenas do inverno tornariam a celebração mais confortável, já que, em fevereiro e março, o calor intenso poderia dificultar os festejos e aumentar a proliferação de doenças. Aposto que hoje em dia a ideia não te parece tão bizarra, certo?

A população, no entanto, ignorou a medida e manteve a tradição, comemorando o Carnaval na data de sempre. O resultado? Em 1892, o Brasil teve dois Carnavais: um no período tradicional e outro na data sugerida pelo governo.

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Essa tentativa frustrada deixou claro que o Carnaval não é apenas uma festa – é parte da identidade cultural brasileira e está ligado ao calendário religioso. Mas, com as mudanças climáticas e o aumento das temperaturas ano após ano, será que a ideia de um Carnaval fora do verão seria tão ruim assim? Conheça a história do Carnaval de 1892 e os fatores que definem a data da celebração todos os anos.

O estranho Carnaval de 1892

O Carnaval fora de época de 1892 foi um dos episódios mais inusitados da história da maior festa popular do Brasil. A decisão de transferir a celebração para junho foi sugerida pela prefeitura do Rio de Janeiro, alegando que o calor excessivo do verão carioca, somado às condições precárias de higiene da época, contribuíam para a propagação de epidemias como febre amarela e varíola.

A proposta foi aprovada em janeiro daquele ano e sancionada pelo governo federal no início de fevereiro, determinando que o Carnaval fosse realizado nos dias 19, 20 e 21 de junho. No entanto, a medida enfrentou forte resistência popular desde o início. E, apesar da proibição oficial de desfiles e bailes em fevereiro, os foliões não se intimidaram.

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As sociedades carnavalescas mantiveram suas programações, e as lojas continuaram a vender fantasias e adereços nas vitrines. A polícia tentou coibir as manifestações, chegando a confiscar mercadorias relacionadas à festa e a proibir máscaras nas ruas. Mesmo assim, pequenos grupos e festas organizaram celebrações clandestinas durante o período tradicional do feriado.

Quando junho chegou, as festividades autorizadas ocorreram sob um clima frio e chuvoso que desanimou boa parte dos foliões. Boa parte dos eventos, restritos aos salões fechados, foram marcados pela baixa adesão, e as ruas ficaram praticamente vazias.

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Calor extremo e a nova realidade climática

O Carnaval sempre foi realizado no auge do verão brasileiro, e o calor já faz parte do pack completo da festa: muito glitter, música no maior volume e muitos graus Celsius. As altas temperaturas, no entanto, vêm anualmente se tornando um problema crescente – e fatal. Nos últimos anos, diversas cidades registraram recordes de calor durante a festa e, em 2024, a sensação térmica no Rio de Janeiro ultrapassou os 58°C em alguns momentos. Curtir nos blocos de rua se tornou um verdadeiro desafio físico para os foliões.

Como você já sabe, eventos extremos – como ondas de calor e chuvas intensas – são cada vez mais frequentes devido ao aquecimento global. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as temperaturas médias globais só tendem a continuar subindo, o que pode tornar celebrações ao ar livre progressivamente mais exaustivas e, em alguns casos, até perigosas.

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Além do desconforto térmico para os foliões, os fenômenos climáticos impactam diretamente na própria logística da festa. Durante o Carnaval, hospitais costumam registrar grande aumento no número de atendimentos por desidratação e insolação. Tanto é que, para este ano, grandes cidades se preparam para oferecer pontos de hidratação e distribuir protetores solares gratuitos em blocos de grande porte.

Com esse cenário, a ideia de um Carnaval em junho – com o clima mais ameno do inverno – deixa de ser tão estranha. Mas aí entra outro ponto fundamental: o que, ou quem, define a data do Carnaval anualmente?

Por que o Carnaval não tem uma data fixa?

Uma das razões pelas quais o Carnaval sempre acontece entre fevereiro e março é sua ligação com o calendário cristão. A festa sempre ocorre 47 dias antes da Páscoa, que, por sua vez, segue um cálculo baseado em eventos astronômicos. O feriado que celebra a ressurreição de Jesus Cristo é comemorado no primeiro domingo após a primeira lua cheia que acontece depois do equinócio de primavera no hemisfério norte – sim, esse papo místico foi determinação da Igreja Católica.

E como estamos falando de eventos astronômicos, essa data varia a cada ano – e com ela, o Carnaval também. Em alguns anos, a festa pode cair no início de fevereiro, em outros, na primeira quinzena de março.

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Recentemente, o Papa Francisco propôs uma ideia que causou burburinho no mundo todo: unificar a data da Páscoa entre as Igrejas Católica e Ortodoxa – que, nos dias de hoje, acontecem em datas diferentes, a partir de crenças diferentes. Se a unificação acontecesse, o Carnaval passaria automaticamente a ter uma data fixa no calendário também.

A proposta ganhou força porque em 2025, de forma excepcional, a Páscoa será celebrada na mesma data tanto no calendário gregoriano quanto no juliano – oportunidade que foi aproveitada para iniciar o debate sobre a possível unificação definitiva.

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Carnaval sem calor? A história real de quando o governo tentou mudar a folia para junho
Em 1892, o Brasil tentou adiar o Carnaval para junho por causa das altas temperaturas. A população ignorou, mas será que essa ideia faria sentido hoje?

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