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César Lattes, o brasileiro que chegou mais perto de ganhar o Nobel

O físico brasileiro fez uma das maiores descobertas da ciência, ao mapear uma partícula atômica desconhecida. Mas quem levou os créditos foi um inglês

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 11 jul 2024, 14h08 - Publicado em 11 jul 2024, 12h54
César Lattes escrevendo em uma lousa
 (Fundo Correio da Manhã./Wikimedia Commons)
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Assistir ao vídeo de Fernanda Montenegro perdendo o prêmio de melhor atriz na cerimônia do Oscar desperta o que há de mais nacionalista em muitos brasileiros. Mas há uma injustiça menos difundida e ainda mais escandalosa no mundo das premiações. Ela envolve um jovem cientista brasileiro, um mentor inglês e um prêmio Nobel que quase veio para terras brasileiras. Estamos falando da história de César Lattes.

O cientista, batizado como Cesare Mansueto Giulio Lattes, completaria 100 anos neste 11 de julho, e é considerado o maior físico brasileiro de todos os tempos. Formado pela USP (Universidade de São Paulo), foi a principal mente por trás da descoberta do méson pi, uma quarta partícula presente nos átomos para além dos nêutrons, prótons e elétrons. Conhecido mundialmente, resolveu trilhar sua vida acadêmica no Brasil, em um esforço para valorização e reconhecimento da ciência brasileira. Sua contribuição foi tão significativa que a plataforma que registra todos os pesquisadores do país leva seu nome, Lattes.

Conheça um pouco sobre a maior descoberta do físico, o polêmico caso do Nobel e o que ele próprio pensava a respeito do prêmio.

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O méson pi

Na escola, os professores de química e física são unânimes em ensinar: os átomos são formados por três tipos de partículas, nêutrons, prótons e elétrons. Era isso que o mundo acreditava, até 24 de maio de 1947. Foi nesta data que uma descoberta científica sem precedentes balançou o mundo: o méson pi, uma terceira partícula considerada uma “cola” que mantém o núcleo de um átomo coeso.

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A pesquisa que levou à descoberta era encabeçada por Cecil Powell, físico britânico da Universidade de Bristol que chefiava o departamento. Mas quem há anos se inquietava com a possibilidade de existência do méson pi, a partícula que mantinha o núcleo dos átomos coesos, era o jovem César Lattes, físico recém-formado na USP e que foi estudar na Universidade de Bristol. Com apenas 22 anos, foi ele quem subiu a uma altitude 5.500 metros, no Monte Chacaltaya, Bolívia, para levar placas com emulsões nucleares e comprovar sua teoria. Bingo!

A descoberta foi anunciada na Nature, a mais prestigiada publicação científica do mundo. César Lattes tornou-se mundialmente famoso, estampou capas de jornais e teve contato com os maiores pesquisadores do mundo. Anos mais tarde, o cientista repetiu um grande feito ao reproduzir o méson pi artificialmente, e dessa vez a descoberta foi notada pela maior premiação de todas, o Nobel. Mas quem acabou laureado e levou a estatueta para casa não foi Lattes, e sim o britânico Cecil Powell.

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Ao todo, César Lattes foi indicado sete vezes para o Nobel de Física, e nunca ganhou. Em entrevista à revista Superinteressante, em 2005, afirmou que na sua opinião quem deveria ter levado o prêmio pelo méson pi é Giuseppe Occhialin, pesquisador que trabalhou ao seu lado. “Mas deixa isso para lá. Esses prêmios grandiosos não ajudam a ciência”, concluiu com espírito de um verdadeiro cientista.

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