É verdade que nunca chove em Lima, capital do Peru?
Relato nas redes sociais afirma que cidade não vê uma precipitação desde a década de 1970. Será mesmo? O que diz a meteorologia?
Nos últimos dias, viralizou nas redes sociais o registro de uma mulher que ficou surpresa ao visitar Lima, capital do Peru, e descobrir que as ruas da cidade não dispõem de um sistema de escoamento de água. O mesmo acontece com os telhados, que não têm curvatura, são retos. Ao longo da viagem, a jornalista acabou descobrindo que essas características são resultado, sobretudo, da ausência de chuvas na região. Ela até se arriscou dizendo que não chove na cidade desde a década de 1970. Mas será isso mesmo? Por que não chove em Lima?
Estive em Lima/Peru e aprendi que… lá não chove desde a decada de 70. E ai fui prestar atenção nos detalhes. Eles não tem a instituição chamada BUEIRO. Não tem telhado tb. São tetos retos… Vc tem garoa, mas chuva mesmo, nada. pic.twitter.com/bvg6w2o1TU
— Cecília Olliveira (@Cecillia) December 6, 2025
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Às margens do Oceano Pacífico e próxima da Linha do Equador, seria lógico imaginar uma cidade quente e chuvosa. Mas o que acontece é exatamente o oposto: Lima está localizada em uma região desértica e quase nunca vê chuva cair do céu. Claro que, desde a década de 1970, já choveu em momentos pontuais, mas a jornalista não estava errada. A ausência de chuva não é mito, nem fake news — é ciência, e tem explicações meteorológicas.
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Nuvens de baixa qualidade
O principal responsável por esse clima seco em Lima é a Corrente de Humboldt, uma corrente oceânica fria que percorre a costa da América do Sul. Em termos simples: a água do mar perto de Lima é mais fria do que se esperaria para aquela latitude. E quando o oceano é frio, a quantidade de água que evapora é muito pequena.
Com menos vapor de água subindo para a atmosfera, as nuvens que se formam ficam de “baixa qualidade”: são baixas e fracas. Esse tipo de nuvem não cresce o suficiente para desaguar em chuva. Em vez disso, proporciona uma névoa fina e persistente, chamada localmente de garúa, como explica o Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru (SENAMHI).
Dessa forma, as chuvas na capital são mesmo raras — mas acontecem, principalmente quando o fenômeno El Niño aquece as águas do Pacífico. Com o mar mais quente, há mais evaporação, as nuvens crescem mais e a chuva finalmente ocorre. Infelizmente, quase sempre em forma de eventos extremos.
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A “barreira” natural criada pelos Andes
Outro fator que contribui para a ausência de água caindo do céu é a cordilheira dos Andes, a maior cadeia de montanhas da América do Sul. Elas funcionam quase como uma parede natural atrás de Lima.
A gente explica: a maior parte da umidade que entra no continente vem do Oceano Atlântico, trazida por ventos úmidos. Quando esse ar cheio de vapor de água encontra os Andes — esse grande “paradão” —, não vê outro caminho a não ser subir.
Ao subir, esfria, e o vapor se transforma em gotas, que caem como chuva… mas do outro lado da montanha, principalmente na Amazônia (alô, clima Equatorial Úmido) e nas regiões mais orientais dos Andes. Quando o ar finalmente chega à costa do Pacífico, ele já perdeu quase toda a umidade. Esse efeito é chamado de “sombra de chuva”, isto é, a montanha “rouba” a chuva antes que ela chegue a Lima.
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Um deserto… úmido
Todas essas características criam uma situação ainda mais curiosa em Lima. A cidade é seca em termos de chuva, mas é úmida em termos de sensação.
Sim, a umidade relativa do ar é alta por lá, dando aquela sensação de abafado. Isso se explica pela proximidade da capital com o mar e da névoa quase constante.
Por esse motivo, é comum no inverno que as paredes fiquem úmidas e o céu cinza, mesmo sem chuva.
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Mas e os bueiros?
Agora, será que é verdade que a cidade nunca precisou se preocupar com bueiros ou outras formas de escoamento da chuva? Podemos dizer que que sim e não.
Como Lima recebe pouquíssima chuva ao longo do ano, historicamente os grandes sistemas de drenagem de águas pluviais nunca foram prioridade da prefeitura. O que não significa que eles não existam – apenas que não foram amplamente prioriziados como acontece no Brasil, um país de clima predominante tropical.
Estudos de planejamento urbano e alertas do próprio SENAMHI, inclusive, mostram que, quando ocorrem chuvas fortes — especialmente em anos de El Niño — a cidade sofre com alagamentos, transbordamentos de rios e deslizamentos (conhecidos localmente como huaicos).
Relatórios climáticos, como os da NOAA e da Organização Meteorológica Mundial, mostram que os episódios de chuva tendem a ter consequências mais intensas na cidade justamente pela falta de adaptação a elas.
Ou seja: não é que a cidade foi projetada sem o devido escoamento, mas a ausência de chuva influnciou, sim, algumas prioridades.
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