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Glossário para entender o Movimento Negro nas redes sociais (e fora delas)

Lugar de fala, interseccionalidade e afrofuturismo são apenas alguns dos termos desse movimento social

Por Letícia Albuquerque
Atualizado em 31 ago 2020, 17h21 - Publicado em 31 ago 2020, 17h00
 (Getty Images/Lucas Silva/Guia do Estudante/Reprodução)
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Ao tentar entender o Movimento Negro, é comum encontrar termos específicos usados pelos ativistas. Seja nas redes sociais ou em notícias e protestos, expressões como “lugar de fala” e “interseccionalidade” podem gerar dúvidas. Isso acontece porque os movimentos sociais alimentam e são alimentados por longos estudos sobre a sociedade, que cunham expressões que identificam fenômenos sociais específicos daquela vivência.

Preparamos um glossário com os termos mais comuns para entender o racismo e a História negra no Brasil. Mas, é importante lembrar: ele contém explicações breves e objetivas sobre cada termo. Ao final, também preparamos lista de obras que vão ajudar a entender mais a fundo esse tema tão complexo.

Glossário

Ações afirmativas: São medidas políticas que têm como objetivo apoiar financeira e socialmente medidas que combatem discriminações étnicas, raciais, religiosas, de gênero, entre outras. De acordo com o MEC, ação afirmativa é diferente de políticas anti-discriminatórias (veja abaixo) porque atuam preventivamente. Ou seja, são políticas em favor de grupos discriminados para evitar que a discriminação aconteça.

Afrofuturismo: É um movimento cultural pluridisciplinar que une tecnologia, ancestralidade e arte para pensar um mundo não marcado pelo racismo e por opressões. O termo foi usado pela primeira vez pelo crítico cultural branco Mark Dery ao questionar a carência de ficção científica de autoria negra. O movimento aparece no cinema, na moda e na cultura pop – atualmente a partir de nomes como Beyoncé, Janelle Monáe e Outkast.

Apropriação cultural: Refere-se à assimilação de elementos específicos de uma cultura marginalizada por um grupo cultural hegemônico. Esses elementos podem ser vestuários, objetos, hábitos e até a linguagem. Essa prática é apontada como negativa porque esses elementos culturais costumam ser esvaziados de seus significados sagrados ou políticos, tornando-se, então, uma ferramenta de opressão. Além disso, o uso dessa cultura pelos grupos dominantes não traz benefícios à cultura marginalizada, que continua subjugada e sem lugar de fala.

Black Money: Antes usado para identificar o dinheiro do comércio ilegal, o termo foi ressignificado, nos EUA, para indicar incentivo aos negócios criados por empreendedores negros, além de incentivar o consumo de produtos vendidos por eles. O objetivo é fazer o dinheiro circular nas comunidades afrodescendentes gerando consciência social e financeira.

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Colorismo: Termo utilizado para diferenciar as tonalidades da pele negra, muito comuns em países que sofreram colonização europeia. O termo surgiu em 1982, cunhado pela escritora americana Alice Walker, e diz que a segregação racial aceita mais facilmente pessoas negras de pele clara. Elas não deixam de sofrer racismo, mas podem ser tratadas de formas diferentes de negros retintos (ver abaixo). O colorismo pode ser reconhecido em apelidos considerados pejorativos como “mulata”, “marrom bombom” ou “cor do pecado”.

Aqui, a youtuber Nátaly Neri explica as especificidades da teoria do colorismo no Brasil.

Diáspora negra: Refere-se ao processo que retirou negros do continente africano a partir da escravidão e os levou para outros países que não eram suas terras natais, como o Brasil, os EUA e outros países na Europa.

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Empoderamento: É um neologismo definido pelo dicionário Aurélio como “ação de se tornar poderoso, de passar a possuir poder”. O uso da palavra em debates sociais relaciona-se à ideia de “empoderamento político”. Nesse sentido, o Movimento Negro usa o termo para afirmar seu acesso a espaços de poder, assim como celebrar sua ancestralidade e traços físicos próprios desse fenótipo, como o cabelo Blackpower.

Etnia: É o sentimento de pertencer a um grupo de pessoas com especificidades culturais, sociais e geográficas. Essas características, que englobam idioma e tradições, são tão marcantes que constituem a construção identitária do indivíduo. Não é substituível pela palavra “raça” que possui outro significado (ver abaixo).

Interseccionalidade: É uma teoria e ferramenta de estudo usada para pensar na inseparabilidade de questões opressoras. Entende-se que algumas pessoas estarão vulneráveis a mais de um tipo de opressão por acumularem experiências diversas. Por exemplo, uma mulher negra não será oprimida apenas pelo machismo, mas também pelo racismo, o que cria uma experiência diferente da da mulher branca.

Lugar de fala: o uso desse termo está relacionado ao lugar social, “de localização de poder dentro da estrutura e não a partir da vivência”, como afirma a filósofa Djamila Ribeiro. A ideia do lugar de fala, então, propõe que o grupo dominante, ou seja, que está em maioria nos locais de poder, comece a pensar na existência dos grupos marginalizados. A ideia é ampliar a visão para compreender as experiências pelas quais essas pessoas passam.

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No vídeo, Djamila explica o conceito que se popularizou, quebrando alguns mitos.

Medidas anti-discriminatórias: São medidas que atuam para conscientizar grupos sociais sobre atos discriminatórios ou para reprimir quem comete um ato discriminatório, segundo o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa, da UERJ.

Negro retinto: Dentro da teoria do colorismo, essa palavra é usada para se referir aos negros de pele escura. 

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Pan-africanismo: Criado por intelectuais negros do Caribe, das Américas e da África, o seu objetivo é organizar um continente livre para circulação de pessoas em território africano. Considerado um movimento social, político e filosófico, traz a ideia de fortalecer o continente e unir as pessoas negras de todos os lugares do mundo.

Racismo estrutural: O racismo é a discriminação com base na ideia de hierarquia entre raças. Enxergar esse preconceito como parte estruturante da vida social quer dizer que o racismo não está só em violências físicas ou diretas. Mas, também, atravessa o inconsciente coletivo afetando as dimensões econômicas, políticas e subjetivas da sociedade. Assim, entende-se que o racismo constitui as relações moldando um padrão de normalidade para a segregação racial.

Abaixo, Maria Sylvia de Oliveira, presidente do portal Geledés Instituto da Mulher Negra, e Helena Teodoro, voluntária no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, da UFRJ, explicam o racismo estrutural a partir da História do Brasil.

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Raça: O conceito de “raça” foi apropriado da Biologia e começou a ser imposto como termo político para argumentar que as diferenças entre grupos étnicos seriam biológicas. De acordo com Kabengele Munanga, esse conceito é usado como um “marcador social que delimita a hierarquia de pessoas brancas sobre as não-brancas”, constituindo o racismo.

Transição capilar: é a fase em que uma pessoa (negra ou não) deixa de alisar o cabelo através de processos químicos para assumir seu cabelo natural, seja ele ondulado, cacheado ou crespo. Essa é uma fase importante para o movimento negro, já que indica assumir características específicas do seu corpo e ter orgulho delas. Por muito tempo, o cabelo não-liso era considerado feio e, por isso, deveria ficar escondido. Dentro dessa questão, também é muito comum ouvir falar sobre o BC ou big chop, termo em inglês, que significa “grande corte”, o momento em que a pessoa que está na transição capilar retira todo o cabelo com química deixando apenas seu cabelo natural.

Para aprender mais 

Se você quiser entender profundamente como o racismo interfere na forma como vivemos, vários escritores têm obras dedicadas a esclarecer cada um desses temas. Com pensadores brasileiros e estrangeiros, essa lista reúne acadêmicos e ativistas do Movimento Negro. 

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Lugar de fala, interseccionalidade e afrofuturismo são apenas alguns dos termos desse movimento social

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