Influencer usa papel alumínio e vira antena de rádio? A física explica

Nas últimas semanas, viralizou o relato de uma influencer que ao gravar um vídeo virou, literalmente, uma antena de rádio. Não, você não leu errado. Durante a gravação de um conteúdo para as redes sociais, a bióloga Mari Krüger interpretava uma personificação do papel alumínio e, por este motivo, vestia o material no peito e na cabeça. A gravação ocorreu sem problemas, mas ao assistir o vídeo posteriormente percebeu algo curioso: uma música da cantora Britney Spears tocava ao fundo – e não foi ela quem colocou a canção.

Coincidentemente, a música combinou até mesmo com o roteiro da influencer. Enquanto o personagem enunciava ser “super tóxico”, Spears cantava ao fundo: you’re toxic, I’m slippin’ under. Bruxaria? Manipulação? Na verdade, nenhum dos dois. Mari se tornou, sem querer, uma aula prática de Física. Ficou curioso? A possível explicação para o fenômeno você acompanha logo abaixo.

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gente ?? 😂😂😂 pic.twitter.com/7DnspqXNEk

— MARI KRÜGER (@marikrugerb) March 1, 2024

O rádio e as ondas sonoras

Vamos à solução desse mistério da maneira mais didática possível. Lembra das aulas de átomos? Pois bem, sabemos que o modelo atômico descreve um átomo como um núcleo constituído de partículas chamadas prótons e nêutrons, rodeado de outras partículas, elétrons, que circulam na região chamada eletrosfera. Certo, agora guarde essa informação.

As antenas funcionam como “orelhas” para ondas de rádio. Elas captam ondas eletromagnéticas do ar, convertendo-as em sinais elétricos que podem ser processados por dispositivos como rádios e celulares. O processo é relativamente “simples”: as ondas eletromagnéticas induzem correntes elétricas na estrutura da antena, que são então processadas para produzir sinais elétricos utilizáveis pelos aparelhos.

O material vestido pela influencer, o papel alumínio, tem uma propriedade parecida – mas em escala menor, claro. Acontece que o alumínio é um metal, e assim como outros têm uma característica conhecida como “estrutura de banda”.

Lembra dos átomos? Vamos falar deles de novo. Na estrutura de banda de um metal, os elétrons da camada mais externa dos átomos – a tal “camada de valência” – podem se mover com facilidade através da estrutura do material. Isso porque eles não estão tão “presos” a átomos individuais, como estão em materiais que não são condutores, como plástico e vidro.

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A partir dessa mobilidade, os elétrons livres conseguem responder com facilidade a campos elétricos externos. Está matando a charada?

Quando, então, uma onda eletromagnética (como as de rádio) incide sobre o papel alumínio, ela consegue interagir com os elétricos livres e induzir movimentos oscilatórios. Os movimentos irão gerar correntes elétricas e, de uma hora para o outra, o papel alumínio passa a funcionar como uma antena. Uma antena mixuruquinha, mas ainda assim uma antena.

O que pode ter ajudado o fenômeno a ocorrer com a influencer é o chapéu que fez na cabeça, em formato e ângulo pontiagudo, tal qual uma antena. Outros fatores como a roupa que estava usando e sua própria localização (próxima ou não de outras antenas) também contribuíram para a “magia” acontecer.

Eduardo Pinto Leite, professor de física do Poliedro Curso, relembra outra caso semelhante que pode ser usado de exemplo: um guindaste em uma construção ‘sintonizando’ uma rádio. “Ocorreu que, pela geometria do guindaste, as ondas eletromagnéticas nele incidentes provocaram vibrações por ressonância. Tais vibrações audíveis correspondiam à rádio (baixo, dava para identificar, mas não era de todo nítido)”, conta Leite.

“Isso pode ter acontecido com a pessoa no vídeo. Porém ela mesma não ouviu. Acredito que a roupa dela induziu corrente no microfone, este não blindado a interferências”, conclui.

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