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“O Planalto e a Estepe” – Análise da obra de Pepetela

Entenda os principais aspectos da obra

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 abr 2018, 15h55 - Publicado em 16 set 2012, 23h37

– Leia o resumo de O Planalto e a Estepe

Angola e a crise do socialismo
O pano de fundo para a história de amor impossível de “O planalto e a estepe”, publicado em 2009, é o movimento de libertação dos países angolanos que teve início no começo da década de 1960. Júlio, o narrador e protagonista da história, é um angolano branco e de olhos azuis que quando jovem não tinha noção dos preconceitos e racismo que existia em seu país. Porém, vai aos poucos tomando consciência disso – como, por exemplo, quando conversa com seu professor de filosofia e descobre a diferença entre “colono”, que se refere às pessoas que foram morar na Angola fugindo da pobreza de Portugal, e “colonista”, que esse diz respeito aos brancos que acham que os africanos são inferiores e tiram seus direitos – mas nunca compartilha das ideias racistas dos outros brancos de Angola.

Ao ganhar uma bolsa para estudar em Portugal, Júlio toma contato com outros estudantes africanos e começa a se politizar. Já não gostava do curso, uma vez que estudar anatomia enquanto uma revolução social estava a caminho lhe parecia inútil, abandona a faculdade e vai ao Marrocos para ingressar na luta. Porém, por ser branco, ele não é posto em combate, mas no lugar é mandado para Moscou (ou Moscovo, como aparece no livro) para estudar e aprender os preceitos socialistas. Lá ele conhece a jovem mongol Sarangerel, filha do Ministro da Defesa da Mongólia, e aí começa a descobrir que o racismo tem diversas faces. Não sendo mongol, a família dela nunca iria aceitar o romance dos dois. Quando Sarangerel engravida, é levada à força de volta à Mongólia e inicia-se, então, a luta de Júlio para reencontrar sua amada.

Júlio aprende, então, que a chamada “amizade entre os povos” e o “internacionalismo proletário” não passavam de slogans, pura propaganda. Como seu amigo Jean-Michel o alertou, o marxismo não conseguiu acabar com a diferença entre as raças. No final, o amor entre Júlio e Sarangerel não poderia ser concretizado meramente por questões políticas. Dessa forma, Pepetela expõe em seu livro a hipocrisia dos governos socialistas que pregavam uma coisa, mas na prática agia de outra forma.

O local onde se dá a história de amor de Júlio e Sarangerel, Moscou, é também o centro de onde se comanda todas as revoluções socialistas pelo mundo. Assim, o movimento de libertação angolano e dos demais países africanos aparece sob um contexto mundial, sendo diretamente ligado à expansão socialista da União Soviética. Portanto, acompanha-se em “O planalto e a estepe” não só a história de luta entre os angolanos colonizados contra os colonizadores portugueses, mas sim todo o conflito entre a expansão do socialismo pregado pela União Soviética contra o imperialismo americano nos anos da Guerra Fria e também após a queda da União Soviética.

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Dessa forma, a “grande viagem” de Júlio pode ser interpretada como uma espécie de jornada de aprendizagem pela qual o protagonista passou durante sua vida. Ele começa a história como uma criança ingênua, passa a estudante politizado, torna-se um general respeitado durante a revolução e termina o livro sem falsas ideologias e esperanças, mas com grande aprendizagem. Através desse percurso, percebe-se na própria história de amor impossível entre Júlio e Sarangerel que o preconceito, racismo e, de uma forma geral, o desrespeito às diferenças existe em grande grau e que traz consequências graves para todos.

Porém, apesar de tantos desencontros e desilusões, Júlio continua firme em seus ideais, tanto amorosos quanto políticos até o fim da história. É interessante notar que ele nunca foi corrompido pela podridão da política feita a seu redor por causa de sua esperança de reencontrar Sarangerel; o que lhe deu forças para lutar e seguir em frente sempre foi o amor. O reencontro dos dois após trinta e cinco anos já ao final do livro mostra que ainda há esperanças para um mundo mais igualitário e justo, sendo que a chave para isto reside no amor e na nobreza de ideais.

Comentário do professor
O prof. Gilberto Alves da Rocha (Giba), do Curso Apogeu de Curitiba (PR), comenta que “O planalto e a estepe”, obra escrita por um dos maiores escritores angolanos da atualidade, tem um enredo forte e que, portanto, deve-se ficar atento aos detalhes da narrativa. A obra narra o amor entre um estudante angolano (Júlio) e uma jovem mongol (Sarangerel), na década de 60 do séc. XX, uma época bastante conturbada dentro do cenário político-social internacional.

Justamente por conta disso, assinala o prof. Giba, o contexto histórico e social que cerca a obra, além das trajetórias dos protagonistas, fazem com que a história dos protagonistas se transforme num “amor impossível”. Em contraste com o restante da obra, seu início, em que se tem as descrições da infância de Júlio são de um lirismo cativante: harmonia, pureza e brincadeiras infantis cercavam a vida do menino, sob a bela natureza de Angola. Por fim, o prof. Giba comenta que, assim como o protagonista Júlio, o próprio autor integrou o MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola). A obra fala um pouco sobre a história angolana mas também é ambientada na União Soviética, o que representa uma espécie de “internacionalização” da obra de Pepetela.

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