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Pantanal em chamas: como é o bioma e como ele é cobrado nas provas

Embora este ano a devastação tenha atingido níveis históricos, o desmatamento e as queimadas na região não são inéditos

Por Taís Ilhéu
Atualizado em 24 set 2020, 11h14 - Publicado em 16 set 2020, 09h53
Queimadas no Pantanal
O Pantanal já perdeu cerca de 15% do seu território total  (Gustavo Basso/NurPhoto/Getty Images)
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Um dos mais ricos biomas brasileiros enfrenta, neste ano, a maior queimada de sua história. De fevereiro para cá, o Pantanal já perdeu cerca de 15% do seu território total e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) afirma que não se viam tantos focos de incêndio na região desde 1998. As imagens que circulam na internet são de um cenário desolador, com vegetação destruída e animais mortos e feridos. Embora a situação seja mais grave agora, a destruição do bioma não é recente: a tragédia é uma continuidade de anos de degradação que já colocavam a fauna e flora locais em risco.

Diversas espécies animais pantaneiras, por exemplo, já constavam na última edição do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Uma delas é a onça-pintada. Classificada no Livro Vermelho como vulnerável, a espécie sofreu uma grande perda de habitat nas últimas semanas: cerca 64,8% do Parque Estadual Encontro das Águas, que guardava a maior concentração de onças-pintadas do mundo, foram consumidos pelo fogo. A arara-azul, recém-saída da lista de espécies ameaçadas, também voltou a correr risco, segundo alerta de pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Instituto Arara-Azul, depois que o santuário da Fazenda São Francisco do Perigara foi atingido. Outras espécies que demandam atenção são o cervo-do-pantanal, a ariranha e a anta. 

Não é apenas o perigo iminente de ser atingido pelo fogo que coloca esses animais em risco. A destruição do habitat, que, segundo especialistas, pode demorar muitas décadas ou sequer chegar a se regenerar por completo, resulta em perda da flora nativa e desaloja a fauna, que não encontra mais condições de sobrevivência. E a ação humana, por sua vez, está diretamente ligada à devastação do bioma. 

Embora as queimadas no Pantanal não sejam inéditas e advenham, algumas vezes, de causas naturais –  já que o clima da região fica seco e muito quente em algumas épocas do ano –  o avanço da fronteira agrícola, especialmente para o plantio de soja, torna o clima mais seco ao modificar a cobertura vegetal e o seu ciclo hídrico. Ao retirar a vegetação das bordas de rios que passam pelo Pantanal (ou mesmo das nascentes desses rios que ficam no cerrado, o bioma vizinho), ocorre um fenômeno conhecido como assoreamento, que é o acúmulo de sedimentos como terra e outros detritos dentro dos rios, tornando-os mais rasos. Os rios mais rasos, por sua vez, contribuem para a mudança no regime das chuvas, tornando o clima da região mais seco. 

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O Inpe estima que 16,5% da vegetação original do Pantanal já tenham sido desmatados para abrir espaço para plantio. Para completar, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul apontou que pelo menos 40% desse desmatamento pode ter sido ilegal. Vale mencionar ainda que muitos destes desmatamentos ocorrem por meio de queimadas, como apontou o biólogo André Luiz Siqueira, diretor da ONG ECOA – Ecologia & Ação, em entrevista à BBC:  “Muitas queimadas estão ligadas à prática agrícola do uso do fogo, que, infelizmente, é cultural em nossa região. É uma situação que tem se expandido, porque o governo federal fortalece a sensação de impunidade”.

No início de setembro, perícias realizadas pelo Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman-MT) mostraram que as queimadas mais intensas no Pantanal, iniciadas por volta de julho, foram diretamente provocadas por ação humana. 

Principais características do bioma e como elas podem aparecer nos vestibulares

E por que você, estudante, deveria estar tão atento ao que acontece no Pantanal? Porque, com os últimos acontecimentos, aumenta a chande de esse bioma ser cobrado de alguma forma nos vestibulares deste e dos próximos anos. Além de compor questões relacionadas a atualidades, geopolítica e mudanças ambientais, o Pantanal pode aparecer também na prova de geografia física. Por isso, reunimos algumas das principais características dele e relembramos algumas vezes em que apareceu nos grandes vestibulares. 

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Relevo e localização

A característica mais marcante do Pantanal é, de longe, seu relevo de planície inundada: em épocas de chuvas mais intensas, no verão, cerca de 80% do bioma fica sob as águas. Isso se deve especialmente ao fato de ele estar em uma planície circundada de planaltos, bem no centro da bacia hidrográfica do Alto Paraguai. Essa relação entre relevo e a inundação da região, que resulta em brejos, pântanos e lagoas, deve ser um ponto de atenção na prova: em uma das questões do vestibular 2017 da Universidade Mackenzie, o candidato deveria saber que as cheias na planície se dão muito mais pela topografia, que facilita o escoamento da água dos rios para o centro da bacia, do que pelo regime de chuvas em si, já que boa parte do ano é marcado pela seca no Pantanal. 

Sobre sua localização, vale lembrar também que o Pantanal não é um bioma unicamente brasileiro, e cerca de 40% de sua extensão está em países vizinhos. Além de parte do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ele também ocorre no Paraguai e na Bolívia.

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Solo e vegetação

Apesar de sofrer com efeitos da queimada e avanço da agropecuária, o Pantanal não é uma região favorável ao plantio, já que as inundações tornam seu solo pouco fértil –  o que, inclusive, aumenta os índices do uso de agrotóxico nas plantações da região. Sua vegetação natural, por outro lado, é muito diversificada e apresenta características em comum com o Cerrado e a Amazônia. Por isso, é comum encontrar nesse bioma vegetações grandes e exuberantes e também árvores pequenas e tortuosas, além de plantas típicas de inundações, como aguapés. A intersecção com outros biomas também já foi tema de vestibular, quando a Universidade Federal de Viçosa colocou este fato como a alternativa correta de uma série de afirmações sobre o Pantanal. 

Clima e regime de chuvas

De clima tropical continental, este bioma costumava ter duas épocas bastantes características: a de um verão chuvoso, entre outubro e março, e a de um inverno seco, entre abril e setembro. No entanto, ações humanas têm afetado o clima: além de a região ter enfrentado um de seus anos mais secos e de baixa nos rios até agora, a esperada chuva de outubro pode vir ainda mais tarde este ano, prolongando a duração dos incêndios.

O engenheiro ambiental Vinícius Silgueiro, do Instituto Centro de Vida, disse em entrevista à BBC que o fenômeno pode estar diretamente associado ao desmatamento de um outro bioma, a Amazônia. “Com a aceleração do desmatamento da Amazônia, ao longo dos anos, o período de chuvas tem encurtado e as secas se tornaram mais severas na região central e sudeste do país”, explica. Como já mostramos em um texto aqui no GUIA, o desmatamento da floresta amazônica influencia em um fenômeno conhecido como “rios voadores”, que transporta a umidade da floresta para outras regiões do país (e do mundo!), regulando o regime de chuvas. 

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A fauna do Pantanal

Não é a toa que a preocupação com a vida animal esteja dominando o noticiário sobre as queimadas no Pantanal: dos biomas brasileiros, este é o mais diverso e o que até então tinha menos espécies animais ameaçadas de extinção. Mais uma vez, a interação com outros biomas traz ao Pantanal quase todas as espécies animais presentes no país. Algumas delas, é claro, são marcantes da região, como as araras-azuis e as onças que já mencionamos. O pássaro tuiuiú, as ariranhas e os jacarés também são marcas registradas deste bioma. E este já apareceu no vestibular da Fundação Getúlio Vargas, que apontou a existência de 3,7 milhões de indivíduos da espécie vivendo por lá.

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