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Por que é possível – e necessário – relaxar em ano de vestibular

Se você tem se sentido muito estressado, saiba que você não está sozinho e pode mudar essa situação

Por Letícia Albuquerque
Atualizado em 23 dez 2021, 12h52 - Publicado em 27 set 2020, 08h38
 (Karolina Grabowska/Pexels/Reprodução)
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Em 2020, um artigo publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria constatou que 41,4% dos jovens em um curso pré-vestibular apresentaram sintomas da TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada). Os sintomas incluem inquietação, preocupação excessiva e dificuldade de concentração. O estudo, chamado Transtorno de ansiedade generalizada entre estudantes de cursos de pré-vestibular, também verificou que sintomas de estresse são maiores entre vestibulandos do que entre alunos do Ensino Médio e do Ensino Superior.

Um outro estudo, realizado por pesquisadores da Universidade São Francisco, em 2006, percebeu a presença de indicadores de transtornos depressivos em estudantes em ano de vestibular. O número era muito maior em alunas. Para a psicóloga e orientadora profissional Katia Ura, o problema surge a partir da ideia de obrigação em serem bem-sucedidos no exame. “Tenho que passar no vestibular!” é a expressão mais usada para traduzir essa pressão que sentem.

Mas de onde ela vem? “Deles mesmos, da família, do ambiente escolar e da sociedade, provocada, principalmente, pela ideia de que o vestibular é um fim em si mesmo”, afirma.

A psicóloga conta que, durante sua jornada profissional com jovens vestibulandos, encontrou uma forte resistência quando o assunto era cuidar das emoções durante esse período. “Percebi que os estudantes associavam a palavra ‘relaxamento’ com relaxo, descaso”, aponta. Ela explica, ainda, que muitos jovens sentem medo de, ao esvaziar a mente, também esvaziar o conteúdo estudado. “Mas é preciso lembrar que somente um espaço vazio pode ser preenchido, não adianta querer encher a mente com mais conteúdo se ela já estiver sobrecarregada, ”, conclui.

Allana Beatriz, 29 anos, está no 2º semestre de Medicina, na Universidade Federal do Pará, mas prestou o vestibular 4 vezes até passar. Já formada em Biologia, ela conta que sentia uma cobrança muito grande para ser aprovada, além de duvidar da sua capacidade. “Os anos de 2015 e 2016 foram cheios de negatividade e eu culpava tudo – o processo que era difícil, as coisas que aconteciam na minha vida – ao invés de ser protagonista das minhas escolhas”, conta. Durante o Enem, em 2016, ela teve uma crise de ansiedade antes da prova, o que resultou em um de seus piores resultados.

Foi em 16 de janeiro de 2017 que as coisas mudaram. “Uma chavinha virou na minha cabeça e e percebi que precisava ver o mundo com mais esperança”, relata. Apesar de não praticar uma religião, Allana acredita em Deus e resolveu deixar de discutir com Ele. A estudante continua: “Fiz uma promessa de parar de reclamar e começar a agradecer mais pelas coisas que Ele estava me proporcionando para fazer uma diferença positiva no mundo”. 

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A partir desse momento, Allana deixou de lado sua rotina de dez horas de estudo por dia. Começou a assistir a canais no YouTube sobre inteligência emocional, voltou a fazer atividades físicas e coisas de que gostava, como sair com os amigos. Os estudos, então, começaram a ser um momento prazeroso e ela compartilha sua experiência na conta de Instagram Vem Para Mim Medicina. Além de dar dicas para mandar bem na redação e para se organizar, ela também fala sobre saúde mental e sobre acreditar em si mesmo.

Para que serve o vestibular?

Entre os geradores mais comuns da ansiedade está a sensação de competitividade gerada pelas provas associada ao medo da reprovação. Mas, também, o peso desse momento como um ritual de passagem para a vida adulta. A palavra “vestibular” vem do grego vestibulum, que significa “entrada, portal”. 

E os rituais de passagem sempre foram muito importantes para representar as mudanças de fases da vida, desde as civilizações antigas. Katia aponta que a passagem da adolescência para a vida adulta contribui para o processo de saída da vida restrita à dinâmica familiar.

Porém, Daniel Guzinski Rodrigues e Cátula Pesioli, em um estudo sobre ansiedade em vestibulandos, contam que muitos autores tratam o vestibular como um “pseudo-ritual”. Isso porque muitos estudantes permanecem dependentes da família. Katia acrescenta: “não se trabalha a conscientização desse processo de maturidade e muitos encaram a faculdade como extensão do Ensino Médio”.

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Por isso, ela acredita que é importante o jovem ter consciência de que o vestibular só faz sentido se ele tiver clareza do motivo para o qual ele está prestando. 

Relaxar é preciso

Atualmente ela tem um projeto chamado Ritus Cuca Fresca, que surgiu para ajudar os jovens a ressignificarem o processo do vestibular. “Eu sentia falta desse espaço de acolhimento emocional para os jovens que estavam fazendo a escolha profissional”, conta. No encontros de pequenos grupos, a ideia é trocar sentimentos e experiências. Além disso, as conversas proporcionam dinâmicas de autoconhecimento e percepção de si mesmo em relação a habilidades, medos e crenças limitantes.

As técnicas de respiração e de relaxamento também são estratégias para amenizar os sintomas de estresse e ansiedade. A pré-vestibulanda Eduarda Sartori, de 18 anos, participou de uma das edições do Cuca Fresca e conta que esse conhecimento fez toda a diferença para fazer as provas. “Os exercícios de respiração me tranquilizam até mesmo durante as provas”, afirma.

Além disso, ela começou a incluir momentos para si mesma na rotina de estudos. Conta que é difícil não se cobrar tanto, principalmente neste momento de pandemia, mas, quando precisa desestressar, procura fazes exercícios e cozinhar.

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Lidando com o novo

Para diminuir o estresse, tanto Allana quanto Eduarda concordam num ponto: é preciso parar de se comparar com os outros. A estudante de Medicina comenta que, quando você vê a vida de alguém pela internet, acaba ignorando a realidade que está por trás da tela e se frustra. Por isso, é muito importante respeitar as suas questões e se acolher.

Existem outras características que fazem diferença na hora de enfrentar um novo desafio. Recentemente, o Instituto Ayrton Senna divulgou um projeto que apoia o desenvolvimento pleno dos jovens a partir de competências socioemocionais. Para eles, ainda mais em tempos de coronavírus e isolamento social, habilidades como empatia, tolerância ao estresse, persistência e criatividade tornaram-se ainda mais essenciais. Aliás, “abertura ao novo” é uma das cinco macrocompetências que devem ser trabalhadas para lidar com o mundo.

Preparar-se para o vestibular vai muito além de ficar sentado lendo o dia todo. Aproveite o momento para refletir sobre o que quer da vida e como desenvolver sua capacidade de aprender, sejam conteúdos ou a lidar com as situações da vida. “Sempre uso uma metáfora para esse momento: uma onda grande para quem não sabe nadar é sinal de morte. Já para um surfista, é uma oportunidade. A onda é a mesma. Depende da forma como você a encara”, lembra a orientadora profissional Katia. 

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