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Qual a origem dos protestos nas ruas de Hong Kong?

Desde 1997 há manifestações contra a devolução do território do Reino Unido para a China. Mas em 2019 as coisas esquentaram. Entenda o caso

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 9 out 2019, 20h40 - Publicado em 9 out 2019, 20h16

Há cinco anos, quando a polícia de Hong Kong conseguiu dispersar os últimos manifestantes que, por 79 dias, ocuparam as ruas do centro financeiro da metrópole, os rebeldes gritaram: “Nós voltaremos”. Eles cumpriram a promessa. Ao longo do mês de junho de 2019, a população voltou às ruas.

Primeiro para questionar um projeto de lei apresentado pelo governo. Depois, para pedir a demissão da chefe do poder executivo dessa região administrativa especial da China. Na maior das manifestações, realizada no dia 16, foram às ruas, segundo as estimativas dos organizadores, 2 milhões de pessoas, que representam 27% da população total do território. Por que uma parcela tão grande da população decidiu protestar? 

Em 2014, os protestos representaram o equivalente, de Hong Kong, para o movimento brasileiro das Diretas Já. Entre 26 de setembro e 15 de dezembro, manifestantes paralisaram a cidade para exigir o direito de escolher seus representantes políticos. A fim de se proteger das bombas de gás, portavam guarda-chuvas, e por isso o movimento ficou conhecido Revolta dos Guarda-Chuvas. Assim como no Brasil em 1984, as manifestações não foram bem-sucedidas – na época, o escolhido, de forma indireta, pelo Congresso Nacional, foi Tancredo Neves. 

No arquipélago asiático, a polícia deixou um saldo de mais de 400 feridos e o movimento foi derrotado em seu objetivo. Ainda hoje, o governante, cujo título oficial é Chefe do Executivo, é escolhido por um comitê, formado por 1200 membros eleitos em suas regiões. O processo é controlado pelo governo chinês, porque boa parte desse comitê é alinhado com as orientações de Pequim. A atual chefe, Carrie Lam, foi escolhida em 2017 para um mandato que pode durar de dois a cinco anos.

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A lei polêmica 

Em 2019, as manifestações começaram depois que Carrie Lam apresentou um projeto de lei que autoriza a justiça local a deportar cidadãos condenados em países com os quais Hong Kong não tem acordo de extradição, especialmente Macau, Taiwan… e a China continental. O pretexto é permitir a liberação de acusados por crimes graves, como o caso de um cidadão de Hong Kong acusado de assassinato em Taiwan. Na prática, a população viu no projeto a possibilidade de o governo autorizar a detenção de dissidentes políticos, que poderiam ser enviados para a China.

O temor tem fundamento em acontecimentos recentes, como o desaparecimento de editores envolvidos na produção e divulgação de livros contra o regime chinês – vários deles reapareceram em território chinês, onde permanecem presos por um governo que permite que todo detento seja mantido incomunicável e em lugar não informado por um prazo de seis meses.

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Depois das primeiras manifestações, Carrie Lam anunciou que estava suspendendo a apresentação do projeto para o poder legislativo local. Não foi o suficiente – afinal, ela não desistiu da iniciativa, apenas protelou sua negociação por tempo indeterminado. O passo seguinte foi sair às ruas para pedir a demissão da Chefe do Executivo, reconhecidamente alinhada a interesses chineses. Libertado da prisão, onde estava desde maio, o mais famoso líder dos protestos de 2014, Joshua Wong, rapidamente se juntou aos manifestantes.

Se nos primeiros dias os manifestantes iam às ruas vestindo branco, agora protestam vestindo preto. Por outro lado, a polícia tem agido de forma mais contida do que na primeira manifestação, que acabou com dezenas de feridos. O governo chinês manifestou apoio a Lam e não deu nenhuma sinalização de que concordasse com uma mudança no governo. Os jornais do país vêm sugerindo que a culpa das “agitações” é a influência ocidental e o recente impasse comercial entre China e Estados Unidos.

Mas por que os chineses interferem tanto nos assuntos de Hong Kong? A proximidade geográfica e a história ajudam a entender essa relação tensa entre o país de 1,3 bilhão de habitantes e o território autônomo de 7 milhões de moradores.

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Contraste de influências

Localizado a sudoeste da China, o território de Hong Kong é formado por ilhas e uma faixa de continente. O controle chinês sobre a região teve início no século 3 a.C. Desde então, a presença chinesa foi recorrente, ainda que em alguns momentos a região tenha sido ocupada por outros povos, incluindo os mongóis. A localização estratégica chamou a atenção dos ingleses, que, no século 19, venceram a China na Primeira Guerra do Ópio e, em 1842, exigiram o controle sobre a região. 

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Com exceção do período entre 1941 e 1945, quando o território foi controlado pelos japoneses, o Reino Unido dominou Hong Kong até 1997. Nesse período, principalmente a partir da década de 60, a região se tornou um polo financeiro de expressão mundial – sustentado, principalmente, por chineses que se exilaram no território durante a ditadura comunista de Mao Tsé-Tung.

Negociada desde os anos 80, a devolução de Hong Kong para a China foi firmada com uma condição: por 50 anos, o território manteria sua autonomia política. O resultado é uma região em que as influências asiática e ocidental convivem: os moradores se consideram hong-kongueses (e não chineses, apesar de 92% da população ser de etnia chinesa), os idiomas oficiais são tanto o inglês quanto o mandarim e a moeda local é o dólar de Hong Kong.

Batizada com o slogan “um país, dois sistemas”, a fórmula de convivência para o período 1997-2047 parece constantemente em perigo. Em 2003, 500 mil pessoas protestaram contra uma lei que definia punições para atos considerados subversivos contra a imagem do governo chinês – eles foram às ruas no dia 1º de julho, dia em que, todos os anos, desde 1997, manifestantes protestam contra a devolução do território para a China. 

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Em 2007, o adiamento da entrada em vigor de um projeto que previa eleições amplas levou um grupo de parlamentares a apresentar a renúncia em conjunto. Neste ano, as manifestações parecem não ter data para acabar.

Em outubro, os conflitos se intensificaram. Lam decidiu invocar uma lei, criada em 1922, que era aplicada durante o domínio britânico para proibir o uso de máscaras em manifestações. Centenas de pessoas não se conformaram com a decisão e foram às ruas com os rostos cobertos. Gritando palavras de ordem, a maior parte dos estabelecimentos que sofreram depredação tinham origem chinesa.

Esse decreto emergencial também permitiria que Lam aprovasse leis sem a intervenção do Legislativo, como censura à imprensa. Ela nega que teria tal intenção.

Em sua primeira entrevista após a decisão, a chefe de governo afirmou que cogita pedir o auxílio da China para conter os manifestantes – o que causou uma revolta ainda maior.

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