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Qual é a importância ecológica da Amazônia?

A Amazônia não é o pulmão do mundo, mas é essencial para a regulação do clima e influencia (e muito) o regime de chuvas em toda a América do Sul

Por Taís Ilhéu
28 ago 2019, 16h38

A Amazônia realmente não é o pulmão do mundo. Isso porque, apesar de produzir oxigênio, ela acaba consumindo praticamente todo esse oxigênio para sua própria manutenção. O real “pulmão do mundo” é o fitoplâncton, conjunto de algas marinhas microscópicas, fotossintetizantes e muito numerosas que produzem 54,7% do oxigênio do mundo. Mas esse está longe de ser um argumento para desmerecer a importância da maior floresta tropical do mundo. 

Em primeiro lugar, vale lembrar que há um outro elemento muito importante envolvido na produção de energia das plantas além da liberação de oxigênio: a absorção do dióxido de carbono, o CO2. Um estudo da Nasa publicado em 2014 concluiu que a Floresta Amazônica contribui diretamente com a redução do aquecimento global – fenômeno desencadeado pelos gases poluentes, como o CO2, que destroem a camada de ozônio. Isso porque, apesar de liberar muito dióxido de carbono durante a decomposição de suas árvores mortas, a floresta acaba absorvendo muito mais no processo da fotossíntese, reduzindo a quantidade desse gás na atmosfera.

Além disso, há ainda outras atribuições mais improváveis da Amazônia que a maioria das pessoas sequer imagina: ela influencia, e muito, o regime de chuvas de todo o Brasil, por exemplo. Isso porque as árvores “transpiram” vapor de água o tempo todo.

Cerca de 99% da água absorvida por elas é perdida para o ambiente dessa forma. A transpiração acontece principalmente nas folhas das plantas, por estruturas chamadas estômatos. Essas estruturas epidérmicas são ricas em cloroplastos e têm uma abertura denominada ostíolo, que é por onde a água é eliminada para o ambiente. 

Essas gotículas de vapor de água chegam à atmosfera, carregam as nuvens e caem na forma de chuva. No caso da Amazônia, chuvas que caem por todo o Brasil, irrigando plantações, abastecendo reservatórios e hidrelétricas e melhorando a qualidade do ar com umidade. Segundo um artigo da revista Nature publicado em 2013, cerca de 20 bilhões de toneladas de água são transpiradas todos os dias pelas árvores da Amazônia, resultando no que são conhecidos como rios voadores. Eles são espécies de “cursos de água atmosféricos”, formados por massas de ar carregadas de vapor de água. 

Além da umidade liberada por essa transpiração, a floresta também influencia no clima, pela sua dinâmica com o oceano. A tendência na maior parte dos lugares do planeta é que os ventos carreguem a umidade do continente para o oceano, mas tanto a umidade proporcionada pela vegetação da Amazônia como seu dossel (conjunto de copas das árvores), impedem essa dinâmica.

Pelo contrário, é a umidade do oceano que acaba retida por ela. Assim, ela a absorve, evapora novamente, e essa água é carregada pelos rios voadores pelo restante do Brasil. E caem em forma de chuva. Segundo o estudo “O Futuro Climático da Amazônia”, publicado por Antonio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), essa dinâmica de funcionamento da Amazônia se assemelha a muito uma bomba de água. 

Mas calma lá que ainda falta um elemento para fechar esse ciclo: são os chamados compostos orgânicos voláteis biogênicos (BOVC). Os BOVC são um tipo de aroma exalado pelas plantas que, quando entram em contato com a umidade e com radiação solar, formam uma poeira muito fina, que por ter afinidade com a água acaba atraindo o vapor e fazendo com que ele precipite. Mais uma prova de que as árvores amazônicas são peça fundamental no ciclo da água e no consequente equilíbrio climático.

Por outro lado, se a Amazônia contribui para a absorção do CO2 e para a regulação do regime de chuvas e do clima, o avanço do desmatamento faz agravar o aquecimento global, causa um sério desiquilíbrio ecológico e provoca a redução da biodiversidade. As queimadas, na contramão da fotossíntese, liberam grandes quantidades de gás carbônico e outros poluentes e, ao reduzirem a área verde, modificam o regime de chuvas. As implicações mais imediatas se dão em regiões vizinhas, como o Cerrado, que se torna ainda mais seco do que é e mais propenso a queimadas “naturais”. Além disso, os rios da Amazônia também estariam imediatamente sob risco, já que solos descobertos e mais arenosos poderiam encobri-los.

Por fim, o desmatamento da Floresta Amazônica coloca em risco uma das mais ricas regiões da Terra, com cerca de 30 mil espécies de plantas, a maior bacia hidrográfica do mundo (com 6 milhões de km²), cerca de 1000 espécies diferentes de pássaros e onde vivem também diversos povos originários e populações ribeirinhas brasileiras.

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