Qual é a origem do termo “cecê”?
Apesar de debate acalorado nas redes sociais, origem da palavra não é tão problemática

É quase impossível encontrar um brasileiro que nunca tenha ouvido ou usado o termo “cecê” (ou simplesmente “CC”). Popularmente associado ao mau cheiro das axilas, a sigla se tornou parte do vocabulário cotidiano, aparecendo em conversas informais, piadas e até mesmo na mídia. Mas poucos sabem que o termo tem uma origem curiosa e que sua disseminação está diretamente ligada a estratégias de marketing e ao avanço da cultura do consumo. O que antes era apenas um fenômeno natural do corpo humano foi transformado em um problema a ser combatido. E, claro, solucionado por produtos específicos.
Apesar de algumas confusões nas redes sociais – umas até associando o termo a expressões racistas dos tempos do Brasil colonial –, a origem do termo “CC” remonta a uma campanha publicitária. Mais especificamente, uma da marca de sabonetes Lifebuoy, pertencente à multinacional Unilever. Criada na década de 1930 no Reino Unido, a empresa buscava promover o uso do seu produto como um item essencial de higiene pessoal. Para isso, popularizou a expressão “B.O.” (Body Odor), que significava literalmente “odor corporal”.
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O conceito foi rapidamente incorporado nos anúncios, transformando o suor natural em algo reprovável, deselegante e inaceitável socialmente.
Quando a marca chegou ao Brasil, nos anos 1940, adaptou a sigla “B.O.” para “C.C.”, abreviação de “cheiro corporal” – a mera tradução de “body odor”. A partir de então, a expressão foi amplamente divulgada nas propagandas, sempre associada à ideia de que um bom sabonete poderia eliminar o problema. O objetivo era claro: vender o Lifebuoy como solução para um incômodo que, até aquele momento, não era visto como um problema. Curioso, não?
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O impacto da publicidade

A estratégia utilizada pela publicidade da marca de sabonetes foi criar um receio invisível: a possibilidade de exalar um cheiro desagradável que, quase sempre, a própria pessoa não nota. O discurso das campanhas reforçava que todos ao redor notariam o cheiro antes do próprio indivíduo, gerando vergonha e isolamento social. Dessa forma, as propagandas não apenas promoviam o produto, mas também moldavam o comportamento dos consumidores.
O mesmo fenômeno aconteceu nos Estados Unidos, onde a marca reforçava a expressão “B.O.” em suas peças publicitárias. O termo foi tão amplamente utilizado que acabou sendo incorporado ao Dicionário Oxfordd em 1933. No Brasil, “C.C.” seguiu um caminho semelhante, se consolidando como uma expressão popular e também dicionarizada.
Higienização como sinônimo de modernidade

A campanha da Lifebuoy não foi um caso isolado, mas parte de um movimento maior. Como pontua este artigo publicado nos Anais do Museu Paulista, na metade do século 20, o discurso da publicidade estava diretamente ligado ao progresso e à modernidade. Ser limpo, cheirar bem e usar os produtos certos eram sinais de avanço social. O Brasil passava por um período de industrialização e urbanização, e o consumo era visto como uma forma de se alinhar às tendências internacionais.
O odor corporal passou a ser considerado um tabu, algo que deveria ser eliminado a qualquer custo. Com isso, além dos sabonetes, o mercado de desodorantes também ganhou força, prometendo proteção duradoura contra o tal “CC”. O que antes era uma característica natural do corpo se transformou em um problema que exigia uma solução constante.
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Com o tempo, a sigla ultrapassou as barreiras da publicidade e se fixou no vocabulário popular. Hoje, a expressão está presente nos principais dicionários de Língua Portuguesa, sendo definida como “cheiro forte e desagradável de suor, especialmente nas axilas”. Esse fenômeno mostra como a influência da publicidade pode ir além do consumo e impactar até mesmo a forma como nos comunicamos e percebemos o mundo.
Apesar de ter sido a responsável por introduzir o termo “CC” no Brasil, a marca Lifebuoy não está mais presente no mercado brasileiro.
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