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Estudante garante nota 1000 na redação do Enem citando “Anne with an E”

Série pop também vale como repertório no Enem! Leia na íntegra a redação da Maria Eduarda Graciano, de 19 anos

Por Karolina Monte
Atualizado em 26 jun 2023, 18h14 - Publicado em 26 jun 2023, 15h06
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A série "Aanne With an e" faz parte do catálogo da plataforma Netflix, e ajudou a garantir o mil na redação da Maria Eduarda. (Netflix/Reprodução)
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Maria Eduarda Graciano, estudante de 19 anos da cidade de Itanhandu, localizada no interior de Minas Gerais, foi uma das poucas candidatas a alcançar a tão sonhada nota mil na redação do Enem 2022. Com o tema “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil“, Duda, como também é chamada, provou que cultura pop também pode ser um ótimo repertório, e citou a famosa série da Netflix “Anne With an E” em seu texto.

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Mas Duda não deixou barato para os corretores da redação e, além da série, também usou como repertório a própria Constituição Federal do Brasil de 1988. A estudante, que pretende cursar Medicina Veterinária a partir do ano que vem, terminou o ensino médio em 2021, e conseguiu a nota mil produzindo redações semanais, que, depois da entrega, eram corrigidas detalhadamente.

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A estudante Maria Eduarda garantiu a tão sonhada nota mil na redação do Enem 2022. (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Para analisar as escolhas textuais da estudante, o GUIA DO ESTUDANTE convidou Daniela Cristina da Silva Garcia, professora de redação do cursinho Aprova Total, onde Duda também era aluna.

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Confira abaixo a redação na íntegra e, em seguida, os comentários da professora para cada parágrafo.

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(Reprodução/Arquivo pessoal)
Introdução

Conhecida como “Cidadã”, a Constituição Federal de 1988, promulgada durante o processo de redemocratização do Brasil, garante os direitos sociais, civis e políticos de todos os cidadãos brasileiros, incluindo os povos originários. No entanto, apesar da garantia constitucional, na atualidade, tal minoria ainda sofre com a desvalorização e com o preconceito na sociedade, tendo seus direitos neglicenciados, em contraste com a Carta Magna. Tal exclusão tem origem no racismo estrutural e é fomentada pelo desconhecimento populacional. Assim, é preciso estudar maneiras de superar os desafios que impedem a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil.

Comentário da professora:

“Para contextualizar o tema, a autora se valeu da Constituição de 1988. Mas mais importante que apenas citar essa informação, é relacioná-la com o que será abordado, ou seja, com o tema. E a Duda fez isso ao mostrar que a não valorização dos povos tradicionais e o preconceito sofrido por eles vai contra a legislação. Por fim, ela nos apresenta o que argumentará nos parágrafos de desenvolvimento que, no caso, serão duas causas do problema: o racismo estrutural e o desconhecimento da população.”

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“Esse anúncio dos argumentos no final da introdução, mesmo que não seja obrigatório, é muito bem visto e muito comum em textos com nota máxima, pois, caso você cumpra nos desenvolvimentos o que prometeu nesse anúncio, como foi feito pela Duda, você deixa claro para o avaliador que o seu texto foi planejado e isso pode te render alguns pontinhos na competência 03.”

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Desenvolvimento 1

Em primeiro plano, cabe relacionar tal adversidade ao racismo estrutural presente no país desde a colonização. Esse racismo foi sustentado e estruturado por teorias etnocêntricas de catequizar os nativos – que eram considerados inferiores. Paralelamente, tais teorias eurocêntricas foram responsáveis por estruturar o racismo, marginalizar as etnias e destruir o acervo cultural étnico do país, trazendo consequências até a atualidade, visto que tais minorias ainda estão em situação de exclusão e desvalorização. Logo, visto as consequências do etnocentrismo para a sociedade contemporânea, é preciso incentivar a valorização das comunidades originárias.

“A estudante inicia o parágrafo reafirmando seu argumento de que o racismo estrutural é muito presente no país e, depois disso, explica essa problemática. O movimento que apresenta uma análise histórica feito pela autora demonstra o seu conhecimento sobre a teoria do eurocentrismo que ela aborda.”

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“Além disso, ela não apenas utilizou um repertório (que é o próprio conceito de eurocentrismo), mas mostrou para o leitor que a desvalorização dos povos e comunidades tradicionais é fruto disso. Assim, ela nos mostrou que conseguiu fazer boas articulações para defender o seu ponto de vista que é reforçado no final do parágrafo.”

Desenvolvimento 2

Ademais, outro desafio para a efetivação da valorização é o desconhecimento populacional, já que a própria sociedade brasileira não conhece a diversidade étnica brasileira e a identidade multiétnica do Brasil. Nesse sentido, essa ignorância – originada pela educação também etnocêntrica – impede tal valorização e auxilia na disseminação de preconceitos. Nesse sentido, vale citar a série “Anne With an e”, já que, na obra, uma comunidade indígena sofre preconceito por parte da população devido tal ignorância. Fora da ficção, a realidade não é diferente, visto que o preconceito é vigente na sociedade brasileira. Dessa forma, é necessário educar a população a fim de acabar com o preconceito.

“Neste parágrafo, a autora afirma que a sociedade não conhece a diversidade étnica brasileira e relaciona com a formação etnocêntrica da população, fazendo uma conexão com elementos que foram apresentados anteriormente.”

“Além disso, há mais uma fundamentação dos argumentos feita com um repertório legitimado, sendo, nesse caso, uma série televisiva que ilustra o problema da ignorância criticado pela autora. Essa menção a uma obra auxilia mais uma vez na garantia da nota máxima na competência 02, mas é a comparação entre a série e a realidade brasileira feita pela Duda nas linhas 21 e 22 que demonstra um desenvolvimento efetivo da argumentação, garantindo a nota máxima também na competência 03.”

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Conclusão

Fica evidente, portanto, a necessidade de incluir e valorizar tais povos, a partir do combate às teorias etnocêntricas e ao preconceito. Com isso, o Ministério da Educação e da Cultura – principal promotor da educação no país – deve, com auxílio das mídias, criar campanhas publicitárias educativas com intuito de educar a população brasileira sobre o assunto. Tais campanhas devem contar com a perspectiva dessas minorias, a fim de incluí-las na sociedade. Além disso, o mesmo órgão deve criar projetos nas escolas e universidades, com participação dessas comunidades, a fim de conscientizar também jovens e crianças sobre o assunto. Somente com tais medidas, a Constituição Federal será obedecida, com os direitos de todos os brasileiros garantidos.

“Uma proposta de intervenção nota máxima é aquela que apresenta os cinco elementos cobrados: ação, agente, modo, efeito e detalhamento. Neste texto são apresentadas duas propostas de intervenção: a primeira que tem como ação a criação de campanhas, e a segunda que tem como ação a criação de projetos nas escolas e universidades. Ambas, além de suas ações, apresentam todos os elementos solicitados pela competência 05, o que fez com que a Duda conseguisse gabaritar essa competência com muita segurança.”

“Por fim, para garantir sua nota máxima, além de contemplar todos esses elementos de argumentação e adequação, que são importantes para a defesa da ideia, a autora também apresentou um excelente uso da norma padrão da língua portuguesa (para garantir nota máxima na competência 01) e dos elementos coesivos (para gabaritar a competência 04).”

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