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José Murilo de Carvalho: como usar ideias do historiador na redação

Que tal mostrar que você tem um repertório diferenciado em propostas que abordem temas como cidadania e política?

Por Julia Di Spagna
10 out 2022, 18h41
Cientista político e historiador José Murilo de Carvalho
 (Universidade Federal de Santa Maria/Reprodução)
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“A ausência de povo. Eis o pecado original da República. Quando, em meio à crise de nossos dias, assistimos ao aumento da descrença nos partidos, no Congresso, nos políticos, de que se trata se não da incapacidade que demonstra até hoje a República de produzir um governo representativo de seus cidadãos?”

O autor da frase é José Murilo de Carvalho, cientista político e considerado um dos maiores historiadores brasileiros. Abordando temas atuais e relevantes para a sociedade, como cidadania, construção do Estado brasileiro, direitos e política, seus pensamentos podem servir de repertório na hora da redação.

Por isso, o GUIA DO ESTUDANTE traz um resumo sobre a trajetória do historiador e os principais temas abordados por ele. Confira ainda como explorar suas ideias e teorias nos textos.

Biografia

José Murilo de Carvalho nasceu em 8 de setembro de 1939 em Minas Gerais. Em 1965, formou-se em Sociologia e Política pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Quatro anos depois, concluiu um mestrado em Ciência Política pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos e, em 1975, conquistou o doutorado pela mesma instituição. Sua carreira na área de História, especificamente, começou no final da década de 1970, quando fez um pós-doutorado na Universidade de Londres, no Reino Unido.

Já foi professor e pesquisador em diversas instituições renomadas como o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro; a Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais, na França; a Universidade de Oxford, na Inglaterra (2007) e o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton, nos EUA. 

Hoje, é professor emérito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

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Ele e o ex-chanceler Celso Lafer são os únicos brasileiros a fazerem parte da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Ciências ao mesmo tempo.

Confira abaixo os temas mais explorados pelo historiador.

Cidadania

Além de falar sobre o papel do cidadão, José Murilo de Carvalho afirma que a cidadania só pode ser plena e efetiva quando há a coexistência dos direitos civis, políticos e sociais.

Fernanda Pessoa, professora de redação, resume que o direito civil, segundo o pensador, está muito ligado à questão do direito de ir e vir e da dignidade humana. Já o direito social se refere ao acesso a serviços básicos, como saúde e educação. Por fim, os direitos políticos estão associados ao fato de se poder votar e ser votado.

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Direitos sociais X direitos políticos

Ainda dentro da temática “cidadania”, o historiador comenta que uma das maiores problemáticas do Brasil é que, por aqui, a população conseguiu acesso a direitos sociais básicos para só depois ter acesso a direitos políticos – o que contraria a lógica de algumas outras sociedades. 

Segundo o historiador, se a pessoa tem acesso a uma educação de má qualidade, por exemplo, e não pode votar, não conseguirá participar ativamente da política e “reclamar” da situação. E sem poder reivindicar seus direitos, terá que aceitar o que for imposto. 

Para ele, o correto seria, primeiramente, o cidadão ter direito político e, em seguida, o direito social. “Se eu tenho o poder de votar, de decidir, de exigir, não vou me contentar com o mínimo para sobrevivência”, completa Fernanda Pessoa. 

República

José Murilo de Carvalho explica que essa distância entre o povo brasileiro e o exercício da cidadania plena ocorre desde a proclamação da República (1889), já que boa parte da população não gozou dos frutos do acontecimento. 

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É neste aspecto que ele explora a noção de cidadania operária, que seria “mínima” e voltada apenas a questões básicas.

Fernanda Pessoa explica que, para o pensador, as camadas mais pobres não foram incentivadas a ser a parte pensante do país. “É como se o povo fosse construído historicamente para funcionar como uma mão de obra precarizada, com baixo salário e pouco acesso à dignidade humana. Assim, sem participação política, as pessoas ficam de fora de questões centrais que precisam ser discutidas”, diz a professora.

José Murilo de Carvalho na redação 

Segundo Fernanda Pessoa, o historiador fala de um Brasil muito real a partir de problemáticas relevantes. Por isso, suas ideias podem ser exploradas em diversas propostas de vestibulares.

“Dependendo do recorte dado pela banca, é possível ‘encaixar’ o historiador em temas que abordem cidadania, direitos humanos e qualquer tipo de desigualdade. Se estamos discutindo sobre fome, pobreza, miséria, violência, preconceito ou outras infrações aos direitos humanos, José Murilo de Carvalho é um repertório importante, pois ele traz uma análise do exercício da cidadania em relação a essas questões.”

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Um exemplo que a professora dá é a proposta do Enem 2021: “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”. Ela explica que o candidato poderia associar o tema ao pensador.

“Como ele fala sobre essa dificuldade de exercer uma cidadania plena no país a partir da coexistência dos três direitos, daria para apresentar suas teorias, explorando o momento em que o Brasil se tornou uma república, a ideia de cidadania operária ou a falta de representatividade política que acaba invisibilizando uma parte da sociedade”, diz Fernanda. 

Para se aprofundar 

Confira três obras do historiador para conhecer melhor suas ideias:

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Redação
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