Pergunte para quem entende do assunto e a resposta será sempre a mesma. Tanto professores de redação quanto alunos aprovados vivem recomendando que estudantes em preparação para o Enem devem ler textos que tiraram altas notas para se familiarizar com o que a prova valoriza na redação.
Por isso, desde o começo do ano, compilamos as redações com nota máxima, os 1000 pontos, nesta reportagem. No Enem 2022, apenas 22 pessoas conseguiram alcançar o feito. No edição desse ano, a banca solicitou que os candidatos redigissem uma redação sobre o tema “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil“.
No entanto, há muitos outros exemplos de boas redações que podem servir de inspiração e que tiraram acima de 900 pontos na prova. São essas as reunidas aqui. Segundo estatísticas fornecidas pelo próprio Inep na ficha de resultado dos candidatos, apenas 5,4% pontuaram acima dessa marca.
+ Leia na íntegra redações nota 1000 do Enem 2022
Leia aqui uma seleção de redações quase perfeitas, segundo os corretores do Enem:
1. Bruna Scali Figueiredo, de 19 anos, Teresópolis – RJ: nota 980
O “Modernismo”, como movimento literário, firmou-se no Brasil há mais de 100 anos na “Semana de Arte Moderna de 22”, em São Paulo. Com isso, ao defenderem a criação de uma história efetivamente brasileira, os artistas e intelectuais incentivaram a valorização das comunidades e povos tradicionais do país. Fora do ramo artístico, entretanto, o corpo social deve solucionar os ainda existentes obstáculos da garantia do reconhecimento dessas tradições, com o intuito de desmascarar a ideologia dominante para, então, promover a identidade nacional. Dessa forma, enquanto houver conflito de interesse, os desafios permanecerão.
Em primeira análise, é válido ressaltar que a cultura das classes favorecidas tende a desmoralizar as outras, tornando-se instrumento de manipulação. Sob essa ótica, o termo “ideologia”, aplicado pela Escola de Frankfurt no século XX, aplica-se, certamente, ao cenário da valorização dos povos tradicionais: toda e qualquer cultura ou história de resistência diferente do “comum” é determinada como irrelevante. A partir do controle da massa pelos meios de hegemonia, como rádio, TV e redes sociais, a população é moldada para agir de forma pacífica diante temas que vão de encontro ao padrão, ao mesmo tempo que afastam o diferente, como é o caso cultural e histórico dos povos originários. sendo assim, o país necessita de uma efetiva intervenção nesse panorama.
Ademais, a sensação de não pertencimento por parte dos tradicionais é algo frequente, porém inadmissível. Nesse viés, a antropóloga Lilia Schwarcz afirma que, desde a independência de 1822, os cidadãos não desenvolveram o nacionalismo, muito menos uma visão do coletivo. Assim, a crítica gira em torno da expressão egoísta, de caráter individualista, do povo independente. Logo, o ideal de “nação”, encontra-se, sem dúvida, defasado, tendo em vista os persistentes preconceitos, a falta de representatividade das comunidades tradicionais e, ainda, o estigma associado ao incomum, como estudado pelos pensadores de Frankfurt.
Portanto, é nítido que o debate sobre os desafios do reconhecimento dos povos originários no Brasil é relevante e precisa ser difundido. Nesse sentido, urge que as instituições educacionais, a exemplo de escolas e faculdade, promovam, por meio de verbas governamentais, campanhas e palestras em espaços públicos, validando o acesso igualitário às informações, a fim de romper a ideologia dominante e a cultura de massa. Espera-se, desse modo, promover o bem-estar populacional e, além disso, a identidade nacional, como o movimento modernista, em nossa sociedade do século XXI.
+ Estudante que tirou 980 na redação do Enem se preparava desde o 8º ano
2. Lyncoln Reugys Santos Belo, 23 anos, São Paulo – SP: nota 980
Na antiga sociedade de Esparta, era comum que culturas distintas desta fossem desprezadas ou reprimidas. A partir disso, criou-se um consenso social por meio do qual somente povos dentro de um padrão espartano fossem legítimos e valorizados. Contemporaneamente, nos parâmetros da nação brasileira, essa questão ainda está presente: apesar de importantes, povos e comunidades tradicionais são vítimas da desvalorização e de desprezo externo. Isso, certamente, configura um desafio, cujas causas estão centradas tanto nos empreendimentos do mercado, quanto na baixa representatividade destinada a essas pessoas.
Primeiramente, é válido ressaltar algumas realizações do mercado como fatores que potencializam a supracitada discussão. Em uma sociedade marcada pelo protagonismo do lucro do setor primário, isto é, aquele a quem é atribuída a responsabilidade pelas exportações agrícola e mineral, é irrefutável que a lógica econômica ganha mais respaldo que a preservação das comunidades tradicionais. Por esse motivo, ao seguir esse raciocínio, o Brasil possui inúmeros casos em que a construção de rodovias e de barragens custa a vida e a conservação de moradores originários e ribeirinhos, como a recente destruição material e imaterial presenciadas por mineradoras, em Brumadinho. Assim, tem-se que a parcela tradicional é colocada em segundo plano, haja vista que suas moradias e os seus costumes são menos prezados em detrimento da razão econômica. Com isso, o empreendimento financeiro permeia uma das causas no que tange ao desafio em análise.
Além disso, é cabível nortear a escassa representatividade dessas populações em torno dos espaços sociais. Embora a brasilidade das músicas de Gilberto Gil revele da diversidade cultural brasileira, ou os versos de canções como as de Fafá de Belém revigorem as pluralidades dos costumes e dos saberes tradicionais, vistos em sua música “Coração vermelho”, tamanha representação sócio-histórica, ainda assim, não é totalmente observada em outros constructos sociais. Em noticiários ou em situações que perpassam o cotidiano, por exemplo, quase não são vistos apresentadores televisivos de origem quilombola ou um porta-voz do ensino, em escolas, sendo atuado por indígenas. Dentre essas e outras pautas que exemplificam a sua baixa representatividade, o povo tradicional, então, ainda sofre do mesmo mal espartano.
À vista disso, portanto, medidas são necessárias para que se resolva o impasse. É preciso que o Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) intermedeie através de uma lei que puna os setores do Mercado quanto às violações acerca desses povos. Isso pode ser feito por meio de parcerias com o setor legislativo e, especificamente, com propagandas televisivas que elucidem a importância das comunidades tradicionais, a fim de que estas sejam valorizadas. Assim, a essas empresas, devem-se cobrar multas que serão doadas a essas pessoas como garantia aos danos a elas cometidos. Além disso, o Estado deve criar leis de inclusão, em escolas e em televisões, obrigando-os a contratarem pessoas tradicionais, por meio de ações jurídicas, a fim de que o desprezo espartano não mais prossiga.
+ Ele garantiu 980 na redação do Enem citando Gilberto Gil e Fafá de Belém
3. Elizângela Santos Araújo, de 23 anos, Parnaíba – PI: nota 980
O filosofo judeu e crítico literário Walter Benjamin discorre acerca da valorização da cultura, tendo em vista a sua importância enquanto ferramenta de preservação da identidade de um povo. Nessa perspectiva, contrapondo-se à égide democrática, salienta-se a existência de desafios vividos pelas comunidades e povos tradicionais no Brasil, no que tange às etnias e aos saberes ancestrais desse contingente populacional, o que configura um quadro paradoxal ao discurso de Benjamin. Desse modo, urge analisar as causas que denotam essa conjuntura, a citar, o etnocentrismo da sociedade hodierna em consonância com a displicência do aparelho estatal.
Em primazia, ressai-se a inópia do respeito e conhecimento social no que se refere às culturas históricas, isto é, costumes tradicionais existentes no território brasileiro, os quais são pertencentes aos indígenas, quilombolas, ciganos, pescadores e ribeirinhos. Nesse viés, à guisa do polímata estadunidense Benjamin Franklin, a educação funciona como um instrumento elucidativo, uma vez que viabiliza a transformação da nação. Dessa forma, análogo a esse pensamento, é incontrovertível frisar os desafios enfrentados pelas comunidades e pelos povos tradicionais, em virtude de uma parcela dos cidadãos considerarem os seus costumes como centrais e, concomitantemente, não validarem diferentes formas de organização atreladas às línguas, aos saberes e às relações mantidas com a natureza. Além disso, vale ressaltar que esse preconceito acarreta a tentativa de silenciamento da identidade desses povos. Logo, pode-se inferir que a escassez de conhecimento gera a intolerância cultural.
Outrossim, destaca-se a inoperância do Estado, o qual mantém uma configuração de agente interventor de relevante interferência no processo vinculado à valorização do desenvolvimento sustentável, assim como atua no reconhecimento das diversas culturas, as quais fazem parte do Brasil. Ocorre que, consoante o filósofo contratualista Rousseau, o Estado, por intermédio do estabelecimento do denominado “contrato social”, se responsabiliza por assegurar a harmonia no convívio social e, por conseguinte, garantir os direitos da população. Sob esse prisma, observa-se a incumbência estatal quanto à elaboração de estratégias voltadas aos povos tradicionais, haja vista a necessidade de reconhecer e valorizar as comunidades extrativistas, bem como as famílias pescadoras. Depreende-se, portanto, o ensejo paradoxal existente entre a legislação e a realidade enfrentada por esses povos.
Dessarte, nota-se que medidas precisam ser adotadas com o intuito de tornar concreta a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil. Diante disso, o Governo Federal – quanto instância máxima de administração executiva – com o englobamento do Ministério do Desenvolvimento Social, pode atuar por intermédio da criação de um projeto, o qual seria nomeado “Cultura é identidade”, de forma a incluir o conhecimento sobre os saberes tradicionais de diversos povos na Escola brasileira, com o auxílio em massa do Ministério da Educação, com o fito de estimular a sua valorização. Ademais, é imprescindível a atuação da mídia referentes às campanhas publicitárias, as quais exponham dados a fim de conscientizar e diluir o etnocentrismo. Desse modo, o pensamento de Franklin será concretizado.
+ Ela tirou quatro vezes notas acima de 900 na redação do Enem
4. Ester Benitz Pereira, 20 anos, Rio de Janeiro – RJ: 980 pontos
É evidente que o Brasil apresenta uma grande diversidade de povos e comunidades nativas que representam, portanto, elementos essenciais para a formação da identidade cultural nacional. Entretanto, existem entraves para a valorização de tais povos, estes são: o turismo de massa e o apagamento em nome dos ideais de progresso econômico.
Diante disso, vale ressaltar, em primeiro ponto, os malefícios do turismo massivo. Nesse sentido, o portal de notícias G1 publicou em 2016 uma matéria sobre a atividade turística em uma aldeia no Mato Grosso, na qual os nativos apontaram um grande desrespeito dos visitantes com a natureza e os rituais adotados pela tribo em seu modo de vida. A partir disso, o relato demonstra o despreparo e falta de informações das operadoras turísticas na promoção de uma experiência de integração com as comunidades locais.
Outrossim, cabe salientar o apagamento de povos tradicionais em nome do progresso econômico. Tal problemática é evidenciada pelo levantamento feito pelo Censo do IBGE de 2010, que estimou a existência de 274 línguas nativas sendo faladas atualmente no Brasil, enquanto, antes da colonização portuguesa, haviam cerca de 1000 idiomas. Isso ocorre por conta das recorrentes expulsões e assassinatos em massa, que forçam os povos tradicionais a se integrarem ao modo de vida urbano, em nome da expansão do agronegócio e da urbanização.
Logo, medidas são necessárias para sanar tal problemática. Sendo assim, é necessário que o governo – responsável por promover o bem-estar social – promova a fiscalização das leis de preservação aos povos nativos e ao meio ambiente e, de igual modo, viabilize a formação de profissionais capacitados para a promoção da experiência turística de contato com as comunidades locais. Dado o exposto, o intuito de tal medida é promover a valorização dos povos tradicionais do Brasil.
+ Ela tirou 980 na redação do Enem: “Só se aprende quebrando a cara”
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