Sabe aquele dia em que você acorda sem a mínima inspiração para escrever uma redação? Não se preocupe. É absolutamente normal. Mas e se for justamente o dia da prova? Considerando o peso da redação na maioria dos vestibulares, isso pode parecer bem preocupante, pois, em tese, afetaria diretamente o desenvolvimento do texto. Porém, sentir-se mais inspirado ou criativo não é exatamente o que vai garantir uma boa pontuação.
Técnica X criatividade
Ana Cláudia Pereira, professora de redação do Colégio Oficina do Estudante, explica que é importante o equilíbrio entre as duas habilidades. A técnica, porque é necessário elaborar um texto que respeite a estrutura do gênero pedido, dado que o vestibulando pode ser penalizado caso escreva outro ou apresente lacunas significativas que desconfigurem o gênero. Além disso, a técnica é essencial para dar coesão e coerência ao texto.
“Já a criatividade dará ao texto autoria, a forma de escrita pessoal do aluno. Ela ajuda a ‘contar a história’ da redação, ou seja, a mostrar qual foi a linha de raciocínio elaborada pelo candidato, além de auxiliar na conexão entre as ideias.”
Mas se você acha que esse não é seu ponto forte, não se preocupe, porque são muito raros os vestibulares cujas provas de redação exigem boa dose de criatividade, segundo Wellington Borges Costa, coordenador de redação do Curso Etapa. “A prova da Unicamp, sempre na vanguarda, é um raro exemplo de prova que cobra uma escrita mais criativa. Mas, mesmo assim, uma leitura atenta dos comandos da proposta de redação é suficiente para estabelecer o aspecto técnico daquele gênero textual e a dose de criatividade exigida pode também se revestir de contornos técnicos, ou seja, ser treinada”, diz.
De resto, a maioria dos vestibulares – e o Enem – pede a redação de uma dissertação argumentativa, modalidade de texto marcada muito mais por aspectos técnicos do que propriamente pelo exercício da criatividade.
Os efeitos do estresse
Segundo Pereira, quando estão estressados, os estudantes tendem a focar na dificuldade, no obstáculo, o que os impede de colocar em prática os conhecimentos que foram desenvolvidos durante o período de preparo. A ansiedade também costuma aparecer no momento de escrita, portanto, é necessária que a prática seja constante. Dessa forma, o exercício pode tornar-se algo mais natural, o que consequentemente diminuirá a carga emocional negativa da situação.
Uma recomendação de Costa é que o candidato inclua momentos de lazer em meio à preparação, para que consiga dominar o nervosismo quando for prestar vestibular e tenha condições de demonstrar tudo o que aprendeu ao longo do ano, com técnica e, se possível, criatividade. “Não há como não recorrer à frase: 10% de inspiração e 90% de transpiração é a fórmula do sucesso também na hora prova.”
Qual é a melhor forma de se preparar?
“A falta de inspiração tem a ver com a falta de preparo. Se o aluno não encara o dia da prova como o final de uma longa trajetória de aprendizado, muito dificilmente estará preparado para o evento. Antes de uma prova de redação, é preciso revisar os conhecimentos prévios sobre a estrutura do gênero que será realizado e ler sobre temas diversos”, explica Pereira. Afinal, o famoso “branco” pode acontecer, logo, é importante voltar para o que garante segurança, os conhecimentos construídos durante a jornada.
Por isso, a principal dica dos especialistas é considerar o Ensino Médio como um grande preparatório, ou seja, construir um repertório vasto de informações nas diversas áreas do conhecimento, uma vez que essa inspiração surgirá da bagagem sociocultural (familiaridade com livros, séries, podcasts, filmes e outros) que for construída nesse período.
Caso o dia da prova esteja próximo e não haja preparação suficiente, vale apostar na escrita de rascunhos sobre temas diversos, em leituras sobre acontecimentos atuais e na retomada das estruturas textuais dos gêneros mais pedidos pelos vestibulares.
E, no momento da prova, não é aconselhável prender-se apenas a uma ideia. É importante escrever no rascunho os principais assuntos relacionados ao tema e perceber como eles podem ser conectados. Assim, a partir de anotações simples de palavras-chave e um esboço do fluxo de ideias, será possível ter uma visão mais geral do texto e conseguir desenvolvê-lo, não por causa de um grande momento de inspiração, mas pela técnica e experiência.