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Redação nota 1000 do Enem citou filme “Encanto”, da Disney

Além disso, Ana Laura de Souza citou pensadores brasileiros para conquistar a nota máxima em 2022: o geógrafo Milton Santos e a filósofa Marilena Chauí

Por Karin Hueck
Atualizado em 9 out 2023, 09h23 - Publicado em 9 out 2023, 07h43

Ana Laura Torquato de Souza, de 21 anos, foi uma das poucas estudantes que alcançaram a nota máxima na redação do Enem 2022. Com o tema, Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil, Ana Laura misturou referências pops e mais formais para conquistar os 1.000 pontos. Citou, por exemplo, a animação da Disney “Encanto”, mas também dois expoentes da intelectualidade brasileira: o geógrafo Milton Santos e a filósofa Marilena Chauí.

+ Quem foi Milton Santos e quais foram as ideias do geógrafo brasileiro

+ Quem é e o que pensa Marilena Chauí, filósofa brasileira contemporânea

A carioca prestou o Enem em 2020, 2021 e 2022. Para chegar na prova com tanta desenvoltura, a aluna – que foi aprovada no concorrido curso de Medicina da UFRJ – realmente se dedicou à redação. Ao longo do tempo em que ficou se preparando para a prova, Ana Laura treinava as habilidades textuais fazendo redações sobre os mais diversos temas.

Antes de sair escrevendo, porém, a estudante tirava um tempo para estudar o assunto, lendo artigos e reportagens. “Muitas vezes a gente acha que tem uma opinião sobre um determinado tema, mas depois descobre que ela na verdade tá infundada ou desatualizada. Então eu sempre passava 20 minutos pesquisando antes de escrever”, diz. Esse hábito também já valia como estudo de atualidades e exercício de pensamento crítico.

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Leia a seguir na íntegra o texto que deu à Ana Laura a nota máxima no Enem 2022. Quem analisou a redação foi a própria professora da Ana, Milla Borges, que já acumula seis alunos nota 1000.

redacao nota 1000 Ana Laura Enem 2022

A redação nota máxima da Ana Laura

Introdução

O filme “Encanto” apresenta – por meio das memórias da avó da protagonista – um cenário de conflito marcado pelo desespero de uma aldeia colombiana frente ao ataque e à consequente desterritorialização forçada de centenas de indivíduos. Assim, embora desamparados e impactados pela violência, as ancestrais de Mirabel, a personagem principal, tentam sobreviver, enquanto comunidade, estabelecendo-se em outro local e perpetuando sua cultura, sua sabedoria e seus costumes às futuras gerações. Fora dos limites da ficção, a exclusão e a opressão que atravessam as comunidades e os povos tradicionais do Brasil se expressam, assim como no filme, através de inúmeros casos que revelam o cerceamento dos direitos sociais básicos desses grupos.

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Comentário da professora:

Para compor o parágrafo introdutório, a aluna cumpriu à risca todas as etapas de uma estrutura perfeita: ela começou contextualizando o tema, utilizando produtivamente o filme da Disney “Encanto” como repertório sociocultural. Em seguida ela articulou a obra cinematográfica à apresentação da frase temática e finalizou o parágrafo apresentando uma estrutura mais ousada, ou seja, ela apresentou, na elaboração da tese, duas consequências da desvalorização dos povos e comunidades tradicionais (a exclusão e a opressão), deixando implícitos os argumentos, que só foram revelados no tópico frasal de cada parágrafo de desenvolvimento. 

Mesmo optando por uma estratégia que foge ao senso comum, Ana Laura cumpriu as etapas da boa introdução e mostrou, com isso, a presença de um projeto de texto claro e estratégico, o que contribuiu, certamente, para a sua nota na competência 03.

Desenvolvimento 1

Dito isso, em um cenário de acentuada negligência estatal, indígenas, quilombolas, populações ribeirinhas e outras identidades vivem em condições de extrema vulnerabilidade, privados de serviços públicos essenciais como educação, saúde, saneamento básico e afins. Nesse contexto, Milton Santos estabelece o conceito de cidadania mutilada, que se refere a indivíduos que, por conta das desigualdades socioeconômicas, têm seu status de cidadãos ameaçado. Dessa forma, abandonados por um Estado que deveria assegurar suas necessidades humanas básicas, esses grupos enfrentam, diariamente, a precarização crescente de sua qualidade de vida e, consequentemente, do exercício de sua cidadania. Assim, a valorização e a segurança dessas minorias são ameaçadas pelo descaso e pela negligência de um governo que exclui e fragiliza a identidade de seus cidadãos.

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Comentário da professora:

No primeiro parágrafo de desenvolvimento, Ana Laura revelou o argumento no tópico frasal: a negligência estatal. A aluna fez um tópico frasal um pouco mais longo, mas já evidenciando o porquê de a negligência do Estado ser um problema para os povos originários. Em seguida, ela apresentou o conceito de “cidadania mutilada”, do geógrafo Milton Santos, para fundamentar o seu raciocínio de que o governo brasileiro não cumpre o seu papel em assegurar as necessidades básicas desses grupos. Na sequência, Ana Laura expôs duas consequências relativas a esse problema. A primeira diz respeito à precarização da qualidade de vida dos povos tradicionais e a segunda, que funciona como desdobramento da primeira, evidenciou o impacto disso no exercício da cidadania dos indivíduos que compõem essas comunidades. Esse desdobramento é interessante, pois ele se articula diretamente com o repertório utilizado pela aluna – o conceito de Milton Santos –  o que mostra que, de fato, ela fez um uso produtivo desse conhecimento. Na finalização do parágrafo, a estudante, estrategicamente, fez uma retomada e um reforço do argumento. 

Desenvolvimento 2

Ademais, para além da segregação que sofrem por parte do Estado, as comunidades e povos tradicionais contam com manifestações de preconceito e de violência que lhes sao direcionadas por outros brasileiros. Com isso em mente, a filósofa Marilena Chauí estabeleceu que uma sociedade, ao encarar a intolerância e a exclusão como atitudes legítimas por parte de seus governantes, instiga a população a agir de forma cada vez mais hierarquizada e autoritária. Desse modo, aldeias indígenas, quilombos e outros territórios ocupados por povos tradicionais são constantemente atacados por brasileiros que reproduzem a violência do Estado para com esses grupos marginalizados. Em um cenário como esse, o respeito e o cuidado que uma sociedade deveria ter com seus integrantes são substituídos por situações em que a vida e a integridade dos povos tradicionais são colocados em risco.

Comentário da professora:

No começo do segundo parágrafo de desenvolvimento, novamente, a aluna expôs o argumento, desta vez composto por dois pilares: o preconceito e a violência. Após o tópico-frasal ela trouxe, como fundamentação, conhecimentos relacionados à área da Filosofia. A aluna citou Marilena Chauí e, para reforçar a problemática decorrente do preconceito e da exclusão, ela evidenciou que, segundo a autora, quando esses óbices são naturalizados, perpetua-se, no corpo social, uma dinâmica autoritária e hierarquizada. Na sequência, Ana Laura fez um período para apontar as consequências dessa problemática. É interessante notar que o repertório escolhido por Ana Laura, articulado à problematização estabelecida por ela, reafirmou exatamente o que a aluna trouxe na sua introdução: que a opressão e a exclusão atravessam os povos tradicionais, colocando suas vidas em risco. Dessa forma, a aluna não só conseguiu fazer um argumento blindado e sem lacunas, como também conseguiu mostrar que o seu projeto de texto – explicitado na introdução – foi, neste parágrafo, perfeitamente executado. 

Comentário da professora:

No último parágrafo da redação, Ana Laura iniciou o tópico frasal com um conectivo de valor conclusivo (Em suma) e fez uma retomada das principais palavras da frase temática, já estabelecendo um gancho semântico para as propostas de intervenção, ao dizer que a valorização dos povos e das comunidades tradicionais depende do acesso a direitos humanos básicos. Esta estratégia da aluna novamente retoma algo já apresentado na introdução, reforçando, mais uma vez, a execução perfeita do projeto textual. Na sequência ela construiu a primeira proposta completa, referente à discussão estabelecida no primeiro parágrafo de desenvolvimento. A aluna apresentou o agente, fez o detalhamento desse agente e expôs a ação propriamente dita. Em seguida, ela disse como essa proposta poderia ser realizada e qual a sua finalidade, cumprindo, assim, as exigências para o gabarito da competência 5. No período seguinte, Ana Laura elaborou a segunda proposta, articulada à problematização feita no segundo parágrafo de desenvolvimento. Essa segunda proposta foi composta por agente, ação, modo de execução e finalidade. Embora ela não tenha apresentado um detalhamento na segunda proposta, isso não foi suficiente para que ela perdesse pontos, uma vez que, de acordo com a banca, basta que uma proposta esteja completa para que o aluno consiga alcançar os 200 pontos na competência 5. Vale lembrar que a proposta, para ser considerada completa, deve apresentar os seguintes elementos: agente, ação, meio ou modo de execução da ação, efeito ou finalidade da proposta e um detalhamento, que nada mais é do que uma informação adicional sobre qualquer um dos elementos válidos. 

Por fim, é importante ressaltar que a redação da Ana Laura não apresentou erros gramaticais ou estruturas sintáticas inadequadas, o que resultou na conquista de 200 pontos pela aluna na competência 1. A estudante demonstrou igualmente proficiência ao empregar os operadores argumentativos e os outros recursos coesivos, obtendo, dessa forma, também a nota máxima na competência 4.

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