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Estudantes relatam como é estudar na Uerj em meio à crise

Professores, alunos e funcionários se mobilizaram para concluir o segundo período de 2016, finalizado em julho; ano letivo de 2017 ainda não começou

Por Marcela Coelho
Atualizado em 21 ago 2017, 14h28 - Publicado em 11 ago 2017, 17h13
 (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
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Aulas suspensas por tempo indeterminado, aumento na evasão de alunos e condições precárias de manutenção são os reflexos da crise vivida por uma das melhores instituições superiores da região sudeste do País, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Desde o ano passado, a Uerj enfrenta problemas devido aos atrasos de pagamentos pelo Governo do Estado. Funcionários e professores ainda não receberam os salários referentes aos meses de maio, junho e julho e o décimo terceiro salário de 2016. Procurada pelo Guia do Estudante, a Secretaria de Estado de Fazenda e Planejamento (Sefaz) reconheceu os atrasos e disse que em julho foram pagos R$ 550 relativos ao salário de maio e, no começo de agosto, foram quitados os pagamentos aos servidores que recebem até R$ 1.550 líquidos.

Também estão sem pagamentos os alunos bolsistas e as empresas terceirizadas, responsáveis pelo Restaurante Universitário, limpeza, vigilância e coleta de lixo.

“A infraestrutura revela o descaso do Estado com a nossa universidade. No campus principal, nem sempre encontro papel higiênico, vejo muitas torneiras quebradas e, às vezes, vasos sanitários sem funcionar”, relatou a estudante do segundo período de enfermagem, Letícia Matias Ferreira (21).

Segundo o estudante do terceiro período de Arqueologia e membro do Centro Acadêmico de Arqueologia Paulo Seda, Ivens Pinheiro (20), faltam muitos materiais e equipamentos, como tintas de impressora e canetas de quadro.

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Ivens Pinheiro, estudante de arqueologia da Uerj. (Ivens Pinheiro/Arquivo pessoal)
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A estudante do oitavo período de letras Karoline Angelici (22) reforçou as más condições das atividades prestadas pelas terceirizadas: “Por causa da falta de verba para manutenção, o bandejão está fechado. Além disso, serviços de limpeza, elevadores e segurança funcionam precariamente, com revezamento de funcionários. Os elevadores estão em estado de horror, todos os dias perco cerca de 20 minutos em filas enormes, porque somente metade está funcionando”.

Há mais tempo na instituição de ensino superior, Karoline conta que a Uerj constantemente passa por essas situações difíceis. “Entrei em setembro de 2013 e meu semestre já começou atrasado por causa de uma greve. Sempre enfrentamos problemas, mas a crise começou a se agravar em 2015 e em 2016 chegou ao seu ápice. Quanto ao ano de 2017, a Uerj está resistindo com muita luta, muita persistência, mas não estamos mais aguentando. Está insustentável.”

Resistência

Só em abril de 2017, após quase quatro meses de greve já em razão da crise financeira no Estado, a Uerj retomou as aulas referentes ao segundo período de 2016. Mesmo com pagamentos atrasados, professores, funcionários e estudantes se mobilizaram para a universidade continuar funcionando. O semestre letivo foi concluído em julho deste ano. Atualmente, as categorias dos técnicos administrativos e docentes encontram-se em greve e não há previsão para o início do ano letivo de 2017.

“Os professores continuaram lecionando durante todo o período, renunciando a um pouco dos próprios direitos para nos ensinar. Os funcionários também não ficaram indiferentes, pois continuaram seus serviços para manter tudo organizado. Vi muita garra nos alunos, sempre dispostos a participar das manifestações, aulas públicas, assembleias e demais eventos em prol da luta pelo o que é nosso”, afirmou Letícia.

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De acordo com o estudante Ivens Pinheiro, os universitários têm se esforçado, com o pouco que possuem, para promover eventos, palestras e atividades em geral para conter a evasão.

Turbilhão de sentimentos

“A incerteza em relação ao futuro da minha universidade me deixa extremamente angustiada. A Uerj é a minha segunda casa, a minha esperança de um futuro melhor. É muito triste acompanhar o seu sucateamento. Importante não só para alunos, professores e funcionários, como também para a comunidade externa.” (Karoline Angelici, estudante de letras da Uerj).

“Indignação, tristeza e raiva é o que eu sinto ao ver que o nosso governo e representantes, que deveriam assegurar nossos direitos, são os mesmos que nos negam isso tudo. É inaceitável a falta de coisas básicas, estão realmente tentando destruir, aos poucos, uma das melhores universidades.” (Letícia Matias Ferreira, estudante de enfermagem da Uerj).

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Letícia Matias Ferreira, estudante de enfermagem da Uerj. (Letícia Ferreira/Arquivo pessoal)
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Futuro

Os problemas de pagamentos enfrentados pela Uerj também colocam em risco os serviços prestados à comunidade externa, como o atendimento de odontologia e psicologia no Hospital Universitário Pedro Ernesto. Em nota, a reitoria da instituição afirmou que o hospital funciona com limitações quase impeditivas, diminuindo amplamente o atendimento à população.

Para resolver a situação, a Sefaz disse que o governo do Estado do Rio de Janeiro depende do ingresso de recursos em caixa para efetuar novos pagamentos ao funcionalismo público. “Ressaltamos que o acordo de recuperação fiscal será imprescindível para a regularização dos salários dos servidores”.

Segundo matéria publicada pela Agência Brasil, o Ministro da Educação, Mendonça Filho, falou que os problemas financeiros enfrentados pelas universidades muitas vezes decorrem de má gestão.

Procurada pelo Guia do Estudante, a reitoria da Uerj se manifestou sobre o assunto: “As universidades brasileiras não gozam de autonomia de gestão financeira. Desta forma, não é correto acusar a gestão das universidades como má e relacioná-la à crise de financiamento que elas experimentam. Os orçamentos das universidades públicas são analisados e aprovados pelo legislativo e deveriam ser cumpridos, preferencialmente em duodécimos, mas são contingenciados. É impossível administrar uma universidade sem a devida gestão da execução orçamentária.”

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O futuro da Uerj é tenebroso. Não podemos nem garantir que haja futuro diante das condições em que nos encontramos. Esperamos por dias melhores.

Karoline Angelici, estudante de letras da Uerj

 

 

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