Ao lado da Unicamp, a Fuvest é o principal vestibular quando se fala em exigência de uma lista de leituras obrigatórias. Além dos conteúdos de Ensino Médio tradicionalmente abordados nas provas, o vestibular da USP (Universidade de São Paulo) cobra de seus candidatos a leitura de nove livros de literatura em Língua Portuguesa. Por mais que a lista seja rotativa, a maneira como as obras são abordadas costuma ser semelhante.
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O GUIA DO ESTUDANTE conversou Henrique Landim, professor de Literatura e autor de livros de análise literária, para entender como as obras obrigatórias podem ser cobradas na prova da Fuvest. Analisando as provas anteriores do vestibular, Landim explica que existem dois tipos de questões: as de verificação de leitura e de análise literária. A seguir, entenda melhor cada uma delas.
Verificação de Leitura
Como o próprio nome já entrega, as questão de verificação de leitura têm como objetivo verificar se o candidato realizou, de fato, a leitura completa das obras selecionadas.
“Observando os próprios dados fornecidos pela Fuvest, a gente percebe que as questões de obras literárias tem um alto índice de erro. Questões muitas vezes simples, que bastaria o aluno ler o livro para conseguir responder”, afirma o professor de Literatura.
Ao contrário dos conteúdos de Física, Geografia ou outra disciplina da grade curricular do Ensino Médio, as questões de Literatura têm um escopo muito menor e mais definido na prova da Fuvest. Ao ler os nove livros, o candidato já trilhou boa parte do caminho para conseguir acertar, no mínimo, seis questões da prova.
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Em resumo, Landim afirma que nas questões de verificação de leitura é como se a Fuvest dissesse: “a gente coloca uma lista de nove obras, eu quero que o aluno leia os livros e quero que ele apresente um repertório cultural sobre eles”.
São questões mais “decorebas”, diretas; perguntam nomes, detalhes do enredo, e características da obra ou do autor. Quer ver um exemplo prático? Veja uma questão da segunda fase da Fuvest 2021.
A pergunta sobre o livro “Nove Noites” pedia que o candidato dissesse quem era o filho do fotógrafo que fotografou Buell Quain quando o personagem estava em Nova York. “O fotógrafo se chamava Andrew Parsons, só que eles não estavam perguntando o nome dele, mas, sim, do filho dele, Schlomo Parsons”, explica o professor. “Só quem leu de verdade conseguiria responder esta.”
Veja outro exemplo:
A partir do excerto de um texto do jornal Folha de S. Paulo sobre a simbologia de gêmeos para os povos indígenas, a prova colocava duas questões diretas sobre o livro “Terra Sonâmbula”. Em ambas, não havia escapatória: era preciso ter lido a obra para conseguir responder corretamente.
Análise Literária
Já as questões de análise literária são como questões de interpretação, só que com um nível mais aprofundado de exigência. “São questões para testar a capacidade analítica do candidato e ver se ele consegue propor um caminho interpretativo do texto”, explica Landim.
O professor exemplifica: em uma pergunta de segunda fase, pode ser apresentado uma epígrafe de “Terra Sonâmbula” e pedir para o candidato dissertar sobre o significado daquele texto. Ou, na primeira fase, perguntar por que o livro “Quincas Borba” se chama “Quincas Borba”: seria uma alusão ao cachorro ou ao filósofo? Para o próprio Machado de Assis, essa é uma pergunta que abre espaço para discussões.
Ou a prova poderia questionar ainda sobre a teoria do Humanitismo que aparece no livro.
Na primeira fase da Fuvest 2020, uma questão sobre Quincas Borba cobrava, a partir de um trecho do livro, uma interpretação analítica do caráter da personagem Sofia.
A alternativa correta, E, ressaltava as atitudes de dissimulação (tartufice) presentes nas relações sociais da personagem. A hipocrisia, dessa forma, não seria exclusividade de Sofia, mas de toda a sociedade.
E quando mistura as duas?
Vale chamar a atenção para questões que mesclam os dois estilos de perguntas – o que, na verdade, é bem comum. Na segunda fase da Fuvest 2020, uma questão apresentava duas capas distintas do livro “Angústia”, ambas desenhadas pelo mesmo artista para diferentes edições da obra.
A primeira, de 1941, apresenta os protagonistas Luís da Silva e Marina em um quintal, com uma cerca entre eles. Há um certo distanciamento entre os dois. Já a segunda, de 1947, há um sujeito com um olhar horrorizado sendo estrangulado por um braço que puxa seu pescoço.
A questão, de maneira direta, perguntava no primeiro item qual era o episódio retratado na capa de 1941, e no segundo item, a mesma pergunta mas sobre a capa de 1947. “Basicamente, pedia um resumo do livro. Isto é verificação de leitura associado com análise literária. Se o candidato não tivesse lido o livro e algum material de análise bom, ele provavelmente não conseguiria acertar”, conclui o professor.
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