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Fuvest 2024: quais atualidades podem cair na prova?

Crise Yanomami, Censo 2022 e mudanças climáticas são alguns dos temas que podem aparecer nas questões do vestibular da USP

Por Julia Di Spagna
24 out 2023, 16h56

Quem está se preparando para as provas de fim de ano já sabe: os vestibulares vão querer saber se o estudante está por dentro do que acontece no Brasil e no mundo. Para isso, as bancas podem cobrar esses assuntos de diferentes formas – de maneira mais direta, para contextualizar uma questão, ou até mesmo nos textos de apoio da redação.

Assim, é importante estudar as atualidades do ano, acompanhar os noticiários e entender como esses grandes temas podem ser, de fato, explorados nos exames. E a Fuvest, porta de entrada para a Universidade de São Paulo (USP), não foge dessa lógica. O vestibular tem apresentado uma prova cada vez mais atual e contextualizada, com menos conteúdo “decoreba” e exigindo que o candidato tenha um conhecimento geral sobre o que está acontecendo dentro e fora do país.

E para te ajudar na preparação, o GUIA DO ESTUDANTE conversou com Sebastian Fuentes, professor de geografia do Curso Anglo, Fábio Gheti César Júnior, professor de geografia e atualidades do Poliedro Curso de Campinas, e Faber Paganoto, autor de Geografia do Sistema de Ensino pH, e fez um levantamento com os principais temas atuais que podem aparecer na Fuvest 2024. Confira abaixo: 

1. Guerra da Ucrânia

Embora a Guerra da Ucrânia não tenha começado neste ano, ela ainda não teve um desfecho e, por isso, segundo os professores, o tema tem forte potencial para aparecer nos vestibulares. A Fuvest não vai repetir perguntas que já foram feitas — como “onde fica a disputa?”, região do Mar Negro —, mas o vestibular pode apontar as consequências dessa disputa dentro da globalização e sua dimensão mais crítica. 

O aumento dos conflitos e das crises políticas tem feito crescer o número de refugiados em todo o mundo nas últimas décadas, mas estima-se que o conflito entre Rússia e Ucrânia tenha implicado sozinho na migração forçada de mais de 13 milhões de ucranianos em apenas um ano, sendo 8 milhões de refugiados e 5 milhões de deslocados internos, segundo Paganoto. 

“Caracterizar e diferenciar migrantes econômicos e refugiados ou até mesmo problematizar porque a crise dos refugiados ucranianos ganhou muito mais destaque na mídia internacional do que outras crises de refugiados em regiões periféricas do planeta estão entre os elementos que podem ser pedidos ao candidato.”

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Além disso, é importante analisar outros fatores, como a relação entre a guerra e a inflação. A Ucrânia era um grande produtor, principalmente de cereais, como o trigo e, com o conflito, houve uma diminuição da produção de trigo – aumentando seu preço. Já com as sanções impostas à Rússia houve um aumento da inflação sobre os combustíveis fósseis, já que o país é um grande produtor na área – impactando o mundo inteiro. 

Outro destaque dentro desse tema que os vestibulandos precisam dominar, segundo Fuentes, é a função da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e como a Organização está centralizada na questão da guerra. Isso porque, um dos argumentos de Vladimir Putin para ter invadido a Ucrânia foi o avanço da OTAN em relação à Rússia e à área de influência do país.

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2. Crise Yanomami

Em janeiro de 2023, foi divulgado que 570 crianças de até cinco anos morreram por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome, entre 2019 e 2022, na terra indígena yanomami, entre os estados de Roraima e do Amazonas. 

Assim, a banca do Fuvest pode pedir que o candidato identifique quais os principais fatores responsáveis pela chamada Crise Yanomami. Além da histórica interferência do garimpo ilegal, que contamina rios, intoxica pessoas e lavouras e amplia a violência, o candidato precisa estar atento ao agravamento do cenário nos últimos anos, devido a desestruturação de órgãos de fiscalização e ao desmonte das políticas públicas ambientais e indigenistas no governo federal entre 2019 e 2022.

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+ Revisão: a crise humanitária na terra Yanomami em 2023
+ Resumo: a situação dos povos indígenas durante o governo Bolsonaro

O tema pode ser, ainda, ponto de partida para questões que tratem da demarcação de terras indígenas, seus impactos sociais e ambientais, além do debate sobre o Marco Temporal

3. Políticas do governo brasileiro de proteção à Amazônia e dos direitos indígenas

Esse debate sobre a demarcação de terras indígenas e a polêmica entre os poderes legislativo e judiciário acerca do Marco Temporal também podem ser explorados pela banca da Fuvest. 

O judiciário, por meio da Constituição de 1988, defende o direito ancestral das comunidades indígenas às terras que habitam para preservação da sua cultura, sua existência, etc. O Congresso entende que é necessário um marco de referência no tempo para definir a legalidade na demarcação das terras, neste caso, defende o ano de 1988, data da última constituição, como marco temporal para definir oficialmente os territórios indígenas. Em 2023, o STF julgou inconstitucional o Marco Temporal e o Senado Federal protestou, prometendo botar pautas contrárias em votação.

+ Entenda a tese do marco temporal dos territórios indígenas 
+ Marco Temporal: o que essa mudança representa para os povos indígenas?

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4. Censo 2022

Os primeiros resultados do Censo Demográfico 2022 começaram a ser divulgados este ano e um deles, em particular, apresentou uma surpresa: a população brasileira é significativamente menor do que apresentavam as projeções, com cerca de 203 milhões de habitantes, quase 10 milhões menos do que se imaginava.

Aqui cabe uma discussão sobre a redução do ritmo de crescimento natural, por causa, principalmente, de mudanças econômicas e comportamentais, que impactam na taxa de natalidade e o aumento da quantidade de idosos no Brasil.

Esse é um tema que pode aparecer nas questões da Fuvest de diversas formas, como análise de gráficos, tabelas ou sobre as mudanças demográficas no Brasil.

Outro dado que chamou atenção: a população de muitas capitais não apenas cresceu menos do que em décadas anteriores, como em alguns casos teve redução efetiva. “As metrópoles brasileiras estão crescendo cada vez menos e, em alguns casos, até diminuindo, como é o caso de Salvador, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belém. A Fuvest pode abordar aqui o crescimento das cidades médias, o processo de desconcentração econômica e a migração pendular de trabalhadores e estudantes que optam por morar em cidades mais baratas e se deslocar diariamente entre cidades”, explica o professor do Poliedro. 

Isso também reflete a consolidação de um processo conhecido como desmetropolização relativa, quando a população de cidades médias cresce em ritmo superior ao das grandes metrópoles.

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5. Terremoto na Turquia

Em 2023, alguns temas referentes a eventos naturais extremos merecem ser observados. Por exemplo, o terremoto que abalou a Turquia e a Síria no início do ano. Foram aproximadamente 50 mil mortos e é um assunto que reverberou com muita intensidade.

Aqui, a Fuvest pode elaborar questões envolvendo movimento de placas tectônicas, áreas de instabilidade geológica no planeta ou ainda o impacto sobre populações vulneráveis em países periféricos ou emergentes, marcados pela falta de políticas de prevenção contra desastres. 

Também é possível uma análise conceitual sobre terremotos e as diferentes escalas de medição dos abalos sísmicos: escala Richter determinada pela magnitude sísmica e a escala Mercalli que mede danos e prejuízos causados pelo terremoto.

6. Mudanças climáticas 

Com a crescente e necessária atenção que o tema da crise climática vem ganhando e com a divulgação, no primeiro semestre de 2023, de um novo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o tema segue em alta para o vestibular, podendo ser explorado de diversas maneiras, segundo o autor do pH. 

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Uma das novidades trazidas pelo relatório de 2023 é o entendimento de que muitos dos limites ultrapassados do planeta já são irreversíveis e não há nada que possa ser feito para evitar os efeitos devastadores das mudanças climáticas. 

O aumento da temperatura média global tem provocado perturbações nos sistemas naturais e ampliado a intensidade e a recorrência de eventos como enchentes, secas e incêndios florestais. Os desequilíbrios implicam no aumento da população global exposta a escassez severa de água, facilitam a disseminação de doenças vetoriais, afetam a produtividade agrícola, impõem deslocamento forçado a milhões de pessoas etc.

O tema pode ser explorado também a partir de uma escala mais local, associando a combinação explosiva entre a intensificação das chuvas em áreas tropicais com as características do processo de urbanização brasileira. 

“A Fuvest 2024 pode cobrar questões sobre o aumento de frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como uma seca intensa, uma inundação mais forte, furacões extratropicais ou tropicais, chuvas em excesso, etc. O estudante tem que saber que existe uma relação com isso. O exame também pode cobrar como se forma um evento climático extremo, como um furacão”, afirma o professor do Anglo. 

Nessa linha dos eventos naturais extremos, temos dois casos no Brasil: as chuvas concentradas no litoral norte do Estado de São Paulo no início do primeiro semestre e os ciclones extratropicais que afetaram a região Sul do Brasil no começo do segundo semestre.

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7. Chuvas no litoral norte de São Paulo

As chuvas no litoral norte de São Paulo estão em um contexto de La Niña que afetou o comportamento climático em 2022 e princípio de 2023. As massas de ar úmidas provenientes da Amazônia em contato com a umidade proveniente do Oceano Atlântico, através da massa Tropical Atlântica (mTa), provocaram uma convergência de umidade denominada ZCAS, Zona de Convergência do Atlântico Sul. 

“Esse corredor de umidade colidiu com a entrada de frentes frias que promoveram forte ascensão atmosférica e pancadas de chuvas de alta intensidade. Esse episódio se refletiu no maior acumulado de chuvas concentradas em um intervalo de 24 horas no Brasil, superando os temporais que atingiram Petrópolis-RJ em 2022”, explica o professor do Poliedro. 

Segundo o especialista, a Fuvest pode elaborar questões envolvendo elementos e fatores climáticos, discutindo ação das massas de ar, tipos de chuvas e formação de ciclones. Outro tema clássico que pode ser relacionado na prova é a urbanização. 

A importância de mapear as áreas de risco de desastres e os desdobramentos da falta de planejamento urbano adequado. Também é possível explorar o conceito e os desdobramentos dos processos erosivos em áreas de alta declividade, que provocam deslizamentos de terra e uma série de prejuízos humanos, ambientais e econômicos.

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8. Ciclones extratropicais na região Sul

No caso dos ciclones extratropicais que atingiram o Sul do Brasil, a banca pode discutir também os conceitos e movimentos das massas de ar, assim como cobrar a formação de frentes frias, que são o encontro de massas de ar com temperaturas opostas.

Vale lembrar que os ciclones são representados por ventos ascendentes de grande velocidade que produzem nuvens carregadas de umidade e chuvas pesadas, que podem provocar enchentes, inundações fluviais urbanas e pontos de alagamento.

9. Crise dos refugiados venezuelanos

Embora menos recente, dentro do contexto das migrações, a vinda de refugiados venezuelanos para o Brasil é assunto que pode ser debatido pela banca do vestibular, de acordo com os professores. Tanto a crise que move os diferentes tipos de refugiados pelo mundo, quanto os desdobramentos para essas populações nos países aonde chegam. 

Normalmente, embora o propósito de destino sejam os países desenvolvidos, boa parte dos refugiados acabam se fixando em países vizinhos também com grandes dificuldades socioeconômicas, como é o caso do Brasil em relação à Venezuela.

Milhões de venezuelanos estão entrando pela fronteira com o Estado de Roraima, desencadeando um desequilíbrio demográfico na região. O governo brasileiro, por meio da operação Acolhida, está tentando remanejar e redistribuir a população venezuelana por outros estados brasileiros. Nesse contexto, podem ser abordados problemas de ordem urbana, em relação à questão da habitação, e problemas laborais, sobre inserção, dificuldades e preconceitos no mercado de trabalho.

+ Crise de refugiados: a realidade de quem é forçado a deixar seu país

10. Disputa geopolítica entre China e Estados Unidos 

Segundo Fuentes, do Anglo, o vestibular pode explorar o crescimento econômico chinês e como a China hoje está se mostrando como um grande contraponto à hegemonia dos Estados Unidos na globalização.

O professor explica que, dentro do crescimento econômico chinês e o crescimento da sua influência na política internacional, a China lançou em 2013, um projeto chamado “nova rota da seda”, que consiste na construção de infraestrutura, transporte e energia sustentável em diversos países do mundo. A ideia principal é conseguir interligar o escoamento de produção em diversos países do mundo — todos interligados com a China. 

“Portanto, é construção de porto, aeroporto, estrada, rodovia, ferrovia e dutos em diversos países, para que a China consiga aumentar a sua influência nessa questão do escoamento produtivo ao redor do mundo. Temos isso na Ásia, no Oriente Médio, na África, Europa e também aqui na América Latina. É claro que, ao aumentar essa influência e toda essa produção, a China se aponta como o país financiador dessa logística. E aí se mostra como uma economia pode influenciar e financiar diversas produções no mundo.” 

Como esse projeto foi lançado em 2013, ou seja, há exatos 10 anos, o vestibular pode considerar ainda que é um bom momento para perguntar sobre a “nova rota da seda” e como esse projeto é visto como uma ameaça aos Estados Unidos e sua hegemonia. 

+ China e a Nova Ordem Mundial: tudo que você precisa saber
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