Interdisciplinaridade surpreende na primeira fase da Fuvest 2023
A pulverização das disciplinas ao longo da prova pode ter pegado de surpresa candidatos que se preparavam com base em exames de anos anteriores
Confira aqui o gabarito oficial da primeira fase da Fuvest 2023
Com abstenção de 13,8%, a primeira fase da Fuvest 2023 aconteceu neste domingo (4). A prova era composta por 90 questões de múltipla escolha, abarcando os conteúdos estudados no Ensino Médio, que deveriam ser resolvidas pelos candidatos em cinco horas.
Para Giba Alvarez, diretor do Cursinho da Poli e especialista em educação e vestibulares, a interdisciplinaridade foi o carro-chefe da primeira fase da Fuvest 2023. “Se olharmos por disciplina, o professor de determinada matéria vai sentir falta de vários conteúdos. Portanto, a prova tem de ser vista como um todo. Ela foi muito interdisciplinar, e as disciplinas estavam espalhadas ao longo da prova.”
Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo, também destacou este aspecto, ressaltando que esta é uma novidade em relação a edições anteriores e pode ter pegado de surpresa candidatos mais acostumados à divisão clássica por disciplinas seguida pela banca até então.
Assim como ocorreu na Unesp, a quantidade de questões de inglês na prova também surpreendeu candidatos e professores. Ao todo, foram oito questões envolvendo o idioma, sendo três delas de Física e uma de Química. “Foi uma forma da Fuvest dizer ao estudante a importância da língua estrangeira na vida universitária”, afirma Alvarez, do Cursinho da Poli.
Mas vale mencionar outras tradições que foram mantidas. A prova seguiu explorando diversos gêneros textuais na hora de contextualizar as questões. Gráficos, poemas, textos filosóficos, letras de música, quadro de arte e até meme fizeram parte da primeira fase do exame.
Outra tradição foi mesclar conteúdos clássicos do Ensino Médio com temas mais contemporâneos que funcionam como bases para as questões – entre as atualidades cobradas é possível listar as mílicias no Rio de Janeiro, o espaço da mulher na política e as novas organizações do trabalho.
Em síntese, a prova manteve-se de nível médio a difícil, e as novidades, como a interdisciplinaridade, pode ter tornado mais complicada a prova do estudante que se preparava para uma Fuvest nos moldes de anos anteriores.
Confira abaixo as análises de professores do Anglo, Oficina do Estudante e sistema de ensino SAS sobre as disciplinas cobradas no exame.
Português e Literatura
Nas questões de Língua Portuguesa, a variedade de gêneros dos textos-base deram o tom da prova. Todas as questões da prova exigiam uma leitura atenta por parte do aluno, mesclando conteúdos cobrados em sala de aula a temas “provocativos” escolhidos pela banca, avaliam os professores. A gramática foi contemplada com conteúdos que já eram esperados, como verbos (em relações semânticas e na sua forma pronominal), sintaxe e figuras de linguagem – mantendo interdisciplinaridade com Biologia e Química.
Em Literatura, as leituras obrigatórias cobradas nesta primeira fase foram Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade, Mensagem, de Fernando Pessoa, e Angústia, de Graciliano Ramos. As questões exigiam dos candidatos conhecimento sobre os livros, mas também estabeleciam relação interdisciplinar com História e Geografia.
No total, foram quatro questões cobradas nesta disciplina, além de uma questão de Biologia que incluía trecho de Angústia. Para Sérgio Paganim, foi uma prova praticamente de poesia, já que continha três questões de textos poéticos. “Isso aumenta bastante a dificuldade da prova de Literatura”, pondera.
Inglês
A avaliação dos professores é que o grau de dificuldade da prova de Inglês aumentou na Fuvest 2023. As questões eram compostas por textos mais longos e dispersas ao longo da prova – diferente do modelo “em bloco” de anos anteriores. Aqui o diálogo interdisciplinar também chamou a atenção, com questões que envolviam Química e Português.
Era possível encontrar perguntas de compreensão de texto, assim como de vocabulário específico e de referenciais. No geral, uma prova de nível médio, com perguntas bastante contextualizadas.
História
A interpretação de texto marcou a prova de História da primeira fase deste ano, abordando temas sociais importantes como o voto feminino, os indígenas e a inserção das mulheres no mercado de trabalho.
As onze questões que compunham este caderno estavam distribuídas de forma equilibrada entre História Geral e do Brasil, com nível médio de exigência – apenas duas questões exigiam um pouco mais do estudante.
Duas novidades surgiram nesta prova de História: não houve perguntas diretas, com enunciados simples, mas todas as questões tiveram textos de apoio muito bons, com imagens, textos artísticos e historiográficos e biografias atualizadas. A segunda novidade foram as duas questões de Filosofia, que nunca apareceram de maneira tão explícita quanto neste ano.
Geografia
O destaque da prova de Geografia ficou por conta das linguagens cartográficas e gráficas. Para a banca de professores do curso Anglo, houve um pequeno problema na distribuição dos temas neste ano: a prova contemplou os clássicos de provas da Fuvest, como Geomorfologia e Questões Agrárias, mas faltaram questões sobre Geografia Urbana, além de perguntas que dialogassem com recentes conflitos envolvendo temas de atualidades.
No geral, foi uma prova com questões distribuídas entre os níveis fácil, médio e difícil.
Biologia
Em Biologia, os candidatos se depararam com uma prova de nível de dificuldade médio para fácil, além de muito bem elaborada e precisa nas questões. A distribuição de temas foi um pouco atípica e menos abrangente, segundo professores do Oficina do Estudante e Anglo. Quase metade das questões da prova, tanto as interdisciplinares quanto as específicas da matéria, abordavam conteúdos de Ecologia, uma característica que se aproxima mais da prova do Enem, mas não da Fuvest.
Citologia, uma das matérias que, historicamente, mais aparecem em provas da Fuvest, apareceu apenas como parte de outra questão.
Química
A prova de Química foi bem contextualizada e com poucos cálculos. Avaliada com nível médio de dificuldade, a prova abordou de maneira variada conteúdos tradicionais de provas da primeira fase, como esterificação, radioatividade, equilíbrio químico, reações orgânicas, gases e estequiometria.
Em três questões de química foram exigidas a leitura e interpretação de gráficos, além do conhecimento sobre os compostos químicos. Somente duas questões, uma de gases e outra de estequiometria, exigiram cálculo. Também havia uma questão relacionada à química ambiental, além das interdisciplinares com Inglês, Física e Biologia.
Física
Uma prova equilibrada, com questões de diferentes níveis e distribuição clássica dos assuntos cobrados. Ao todo, foram cinco questões de mecânica, e outras questões de elétrica, termodinâmica e óptica. Os enunciados eram bastante claros e cobravam do aluno um conhecimento efetivo de Física para resolução da questão. Aqui, o diálogo interdisciplinar foi com as matérias de Inglês e Química.
Matemática
A principal mudança neste ano, relatada pelos professores, foi a presença das questões de Matemática ao longo de diferentes partes da prova, diferentemente de edições anteriores em que elas apareciam juntas, em um único bloco.
Uma prova bem contextualizada, com nível de dificuldade semelhante ao do ano passado. Abordou temas clássicos, como leitura gráfica, razão e proporção, progressões, análise combinatória, logaritmo, geometria plana, espacial e analítica.
Para as bancas de professores, o destaque deste ano em Matemática foi a questão sobre o teclado, em que era preciso usar razão e proporção e modelagem matemática para chegar ao resultado – mas o candidato que entendesse sobre música poderia fugir dos cálculos e saberia a alternativa correta.
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